São Paulo – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter, pela quarta vez consecutiva, a taxa básica de juros (Selic) em 2% ao ano, em linha com as previsões do mercado, e sinalizou aos investidores que daqui para frente pode apertar a política monetária, algo que também era projetado pelos especialistas.
Em comunicado, o Copom disse que não reduziria o grau de estímulo monetário desde que determinadas condições fossem satisfeitas. Em vista das novas informações, o Copom avalia que essas condições deixaram de ser satisfeitas já que as expectativas de inflação, assim como as projeções de inflação de seu cenário básico, estão suficientemente próximas da meta de inflação para o horizonte relevante de política monetária.”
Diante disso, esse compromisso de manter os juros baixos – chamado de “forward guidance” – “deixa de existir e a condução da política monetária seguirá, doravante, a análise usual do balanço de riscos para a inflação prospectiva”, acrescentou o colegiado.
Ainda assim, o Copom deixou claro que o fim do compromisso de manter os juros na mínima histórica de 2% não significa que a taxa será elevada no curto prazo. “O fim do forward guidance não implica mecanicamente uma elevação da taxa de juros pois a conjuntura econômica continua a prescrever, neste momento, estímulo extraordinariamente elevado frente às incertezas quanto à evolução da atividade”, afirmou.
COVID-19
Os novos casos de covid-19 e as novas cepas do coronavírus, causador da doença, devem contribuir para reduzir a atividade econômica no curto prazo, enquanto a vacinação e os estímulos adotados pelos países avançados devem promover uma “recuperação sólida” no médio prazo, avaliou o Copom.
“A presença de ociosidade, assim como a comunicação dos principais bancos centrais, sugere que os estímulos monetários terão longa duração, permitindo um ambiente favorável para economias emergentes”, disse o Copom no documento.
No caso específico do Brasil, o Copom destacou que os indicadores econômicos referentes ao final do ano passado apresentam em geral um resultado melhor que o esperado, “mas não contemplam os possíveis efeitos do recente aumento no número de casos de covid-19”.
“Prospectivamente, a incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia permanece acima da usual, sobretudo para o primeiro trimestre deste ano, concomitantemente ao esperado arrefecimento dos efeitos dos auxílios emergenciais”, disse o colegiado.
INFLAÇÃO
A recente elevação no preço de commodities no mercado internacional e o efeito disso sobre os preços de alimentos e combustíveis no Brasil “implicam elevação das projeções de inflação para os próximos meses”, disse o Copom no comunicado.
“Apesar da pressão inflacionária mais forte no curto prazo, o Comitê mantém o diagnóstico de que os choques atuais são temporários, ainda que tenham se revelado mais persistentes do que o esperado. Assim, o Copom segue monitorando sua evolução com atenção, em particular as medidas de inflação subjacente”, afirmou o grupo.
Ainda assim, o Copom reconheceu que as medidas de inflação subjacente – que excluem do cálculo os itens cujos preços têm variação mais volátil – “apresentam-se em níveis acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação.”
O Copom apontou que as expectativas do mercado para a inflação em 2021, 2022 e 2023 encontram-se em torno de 3,4%, 3,5% e 3,25%, respectivamente. No comunicado anterior, o grupo havia apontado expectativas de 3,3% e de 3,5% para 2021 e 2022, respectivamente,
No cenário calculado pelo Copom, que usa a trajetória de juros prevista pelo mercado e prevê taxa de câmbio partindo de R$ 5,35 por dólar e evoluindo segundo a paridade do poder de compra, a inflação seria de 3,6% em 2021 (+0,2 ponto porcentual ante a estimativa anterior) e 3,4% em 2022 (estável na mesma comparação).
“Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva até 3,25% aa em 2021 e 4,75% aa em 2022”, disse o Copom.