São Paulo, 29 de maio de 2024 – Em teleconferência de resultados, a diretoria executiva da Cosan disse que segue avaliando sua posição na Vale e que o ambiente macro mais difícil, com juros elevados no Brasil e no exterior, está sendo considerado para a avaliação da execução de todos os negócios da companhia.
“Não temos um número mágico de posição ótima, mas avaliamos o que é adequado para o capital da Cosan. Temos questões importantes em andamento, como a sucessão do CEO, regulatórias, que podem destravar valor na companhia a longo prazo”, comentou Rodrigo Araujo Alves, diretor vice-presidente financeiro e de relações com investidores da Cosan.
Segundo o executivo, a estrutura de collar financeiro vai ficando cara ao longo do tempo e é preciso reduzir o nível de complexidade para simplificar o acompanhamento e melhorar os dividendos.
A companhia também segue engajada em uma possível listagem da Moove e trabalha para alcançar entre 1,5 e 2,5 vezes a cobertura de juros, o que permitiria gerir os custos da holding e o nível de alavancagem. O tempo para alcançar esse nível não está definido.
“Temos muitas coisas importantes para alcançar em nosso portfólio e não temos espaço para aumentar o endividamento. Temos muita coisa para fazer, temos sido ativos, mas não vejo espaço para alocação adicional”, disse Alves, sobre possíveis novos investimentos.
BTG e Itaú BBA recomendam compra
A Cosan, grupo com negócios nos segmentos de energia e logística nas empresas Comgás, Moove, Raízen e Rumo, apresentou seus resultados do primeiro trimestre deste ano após o fechamento do mercado desta segunda-feira (28). Às 15h13 (horário de Brasília), as ações CSAN3 operavam em leve alta de 0,50%, a R$ 13,95.
Para a analista do Itaú BBA, Monique Greco, os resultados do 1T24 da Cosan foram neutros, liderados por gestão de portfólio e dívida. Ela destaca o ebitda ajustado de R$ 5,2 bilhões no 1T24 (quedas trimestral de 25% e anual de 10%), em uma base de comparação difícil devido à valorização do portfólio de terrenos da Radar no 4T23 e ao maior crédito fiscal para a Raízen no 1T23.
“A Cosan divulgou ontem à noite seus resultados consolidados do 1T24, com EBITDA pró-forma ajustado (incluindo Raízen) de R$ 5,2 bilhões. A Rumo reportou resultados positivos em 9 de maio e a Raízen reportou resultados neutros em 13 de maio, impactada positivamente pelo reconhecimento de créditos tributários extraordinários. Os resultados trimestrais da Vale, publicados em 24 de abril, ficaram um pouco abaixo das nossas estimativas. A Compass divulgou seus resultados do 1T24 em 14 de maio, com queda trimestral e anual no ebitda. A Moove informou ontem, com resultados mais fortes impulsionados por um melhor mix de produtos no trimestre”, resumiu a analista do itaú BBA.
A análise cita que a Compass reportou um ebitda ajustado de R$ 893 milhões no trimestre, com volumes planos de distribuição de gás natural no trimestre. Edge, segmento de marketing e serviços, registrou ebitda de R$ 47,5 milhões no 1T24. A Moove reportou ebitda ajustado de R$ 329 milhões no 1T24, aumento de 21% trimestral e de 19% na comparação anual.
Conforme informado anteriormente pela empresa, a Cosan ajustou sua participação na Vale para uma participação direta de 4,15% e desfez totalmente a estrutura de collar financeiro (derivativos e dívida). Em maio, a companhia também desfez a primeira parcela do call spread com vencimento em novembro de 2024, resultando em uma posição remanescente do call spread de 1,43% no capital votante da Vale.
A alavancagem pró-forma da Cosan encerrou o 1T24 em 2,3x (queda trimestral de 0,1x), principalmente devido à maior posição de caixa nos negócios da empresa no trimestre. Na Cosan Corporate, o índice de cobertura de juros melhorou para 1,1x (de 1,0x no 4T23), principalmente devido aos efeitos da reversão do financiamento de collar no período.
O Itaú BBA tem recomendação de compra para CSAN3, com preço-alvo de R$ 23.
Para o BTG Pactual, com os resultados de muitas das subsidiárias da Cosan já divulgados, a análise do 1T24 consiste em três principais coisas: (i) analisar os resultados da Moove e da Radar, demais subsidiárias da portfólio; (ii) analisar o balanço e os fluxos de caixa da holding, com foco na sua capacidade de desalavancagem; e (iii) compreender os desenvolvimentos recentes e as prioridades daqui para frente.
Em relação aos números, a análise destaca os resultados operacionais das companhias, citando que os volumes ficaram estáveis a cada ano, mas a mixagem aparentemente melhorou o suficiente para gerar uma margem ebitda acima da histórica de 13,5% e que a Radar teve um trimestre menos movimentado, com R$ 137 milhões em receitas de arrendamento de suas fazendas, gerando um lucro líquido de R$ 126 milhões. O valor de mercado do banco de terrenos da Radar deverá ser R$ 16,3 bilhões, sendo a participação da Cosan avaliada em R$ 5 bilhões.
Em relação à alavancagem da Cosan, o BTG comenta que é superior ao ideal, mas permanece sob controle. O endividamento líquido da holding era de R$ 22,7 bilhões ao final do 1T24. “Em abril, a Cosan desfez a estrutura de collar pela qual anteriormente detinha parte de sua participação na Vale, o que simplificou e reduziu o custo da estrutura, ao mesmo tempo que protegendo a Cosan da recente queda no preço das ações da Vale. No final de abril, a dívida líquida da holding era de R$ 20 bilhões, ou R$ 28,6 bilhões se contabilizadas as ações preferenciais detidas pelos bancos na Compass e na Raízen, ou R$ 17 bilhões assumindo que a participação na Vale seja marcada como dinheiro”, explica o BTG. “Isso se compara aos dividendos dos últimos 12 meses recebidos do custo operacional de R$ 2,7 bilhões e custos líquidos de juros nos últimos 12 meses de R$ 2,5 bilhões.”
O BTG destaca que iniciativas de gestão de passivos significam que o saldo de caixa da holding é suficiente para pagar o principal da dívida até 2028. Numa análise pro forma, o índice de alavancagem líquida (considerando o ebitda pro forma da carteira, o (G&A da holding e das ações preferenciais) ficou em 2,7x ao final do trimestre. “A alavancagem da Cosan é elevada, mas administrável e, do ponto de vista da liquidez, continua muito sob controle”, escrevem os analistas Thiago Duarte, Pedro Soares e Henrique Pérez, do BTG, em relatório em que reiteram a recomendação de compra da ação, ao preço-alvo de R$ 30.
“A nosso ver, as ações da Cosan são uma chamada macro enquanto uma holding alavancada e com desconto de 30% agora, depende de taxas mais baixas e da capacidade dos custos operacionais de aumentar o fluxo de dividendos para desalavancagem. Com base no ciclo de alocação de capital da Cosan, acreditamos que estamos no fundo do poço agora.
Para frente, eles esperam que o fluxo de dividendos melhore à medida que Raízen pare de queimar caixa, Compass e a Moove continuam a gerá-lo, e os dividendos da Vale devem ser integralmente capturados agora que o collar estruturado foi eliminado (um rendimento de 10% significaria ~R$ 1 bilhão de dividendos por ano). “Está claro que o senso de urgência da Cosan aumentou e o foco agora está mudando para a gestão de passivos, preservando a liquidez e melhorando a capacidade de servir a dívida sem comprometer o retorno dos acionistas. Nesse sentido, acreditamos que tempos melhores estão à frente”, concluem os analistas do BTG.