São Paulo – As primeiras ofertas da Pfizer ao Brasil para a entrega de vacinas contra a covid-19 aconteceram em agosto, segundo o presidente da companhia para a América Latina, Carlos Murillo. A empresa apresentou duas propostas à época: uma para a entrega de 30 milhões de doses e a outra de 70 milhões de doses, ambas com início da entrega ainda em 2020.
Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado que apura se houve erros ou omissões do governo no combate à pandemia de covid-19, Murillo afirmou que a Pfizer começou a conversar com o Ministério da Saúde em maio e em junho para apresentar a vacina que estava desenvolvendo.
Ele classificou estas reuniões como “iniciais, exploratórias”, e disse que em 16 de julho foi apresentado ao Ministério da Saúde uma expressão de interesse. “Nesta expressão de interesse, resumimos as condições deste processo que a Pfizer estava realizando em todos os países do mundo. Começamos ao mesmo tempo este tipo de negociações”, disse Murillo.
“Como consequência dessa expressão de interesse, tivemos outras reuniões no mês de agosto, onde aprofundamos alguns dos detalhes. Numa reunião em 6 de agosto o Ministério da Saúde manifestou possível interesse em nossa vacina.”
“Fornecemos em 14 de agosto nossa primeira oferta, que era oferta vinculante. Eram na verdade duas ofertas, porque era exatamente a mesma oferta, as mesmas condições, mesmo preço, mas uma de 30 milhões de doses e outra de 70 milhões de doses”, disse Murillo.
“Essa oferta tinha possível cronograma de entrega entre o final de 2020 e 2021. Em 18 de agosto nós voltamos a fazer a oferta de 30 milhões e 70 milhões de doses, mas tínhamos conseguido quantitativo adicional para o Brasil no final de 2020. Em 26 de agosto fizemos terceira oferta, também por 30 milhões e 70 milhões de doses, e tínhamos conseguido um pouco mais de quantidade para o primeiro trimestre de 2021”, afirmou.
CRONOGRAMAS
Segundo Murillo, a melhor proposta feita ao Brasil pela Pfizer em agosto permitiria que o Brasil recebesse 1,5 milhão de doses da vacina da companhia no quarto trimestre de 2020 e 3,0 milhões de doses no primeiro trimestre de 2021, 14 milhões de doses no segundo trimestre deste ano, 26,5 milhões de doses no terceiro trimestre e 25 milhões no último trimestre.
O presidente da Pfizer na América Latina acrescentou que o governo não respondeu nem positiva nem negativamente à proposta, apresentada em 26 de agosto, e que ela tinha duração de 15 dias. Isso foi o que motivou o envio da carta da companhia ao presidente Jair Bolsonaro e a outros membros do governo em 12 de setembro.
Ele ressaltou que desde o início das negociações até agora, o preço por dose da vacina cobrado do governo brasileiro é de US$ 10 por dose.
Murillo também disse que os principais obstáculos citados pelo Ministério da Saúde para fechar o acordo sobre a compra de vacinas eram primeiro a questão logística – porque o imunizante precisa ser armazenado a 70 graus Celsius negativos, o que teria sido resolvido em outubro com a apresentação de uma solução para o problema -, e depois as condições contratuais.
“O Ministério da Saúde entendeu que para prosseguir para com o contrato precisava do registro da vacina e de autorização legislativa especifica para atender a condições contratuais que estávamos solicitando”, afirmou.
Murillo também foi questionado sobre a entrega das vacinas ao Brasil em 2020 sendo que a vacina não possuía registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e só obteve registro por aqui em fevereiro deste ano. Ele acrescentou que a entrega das vacinas era condicional às aprovações tanto da Food and Drug Administration (FDA), agência de
vigilância sanitária nos Estados Unidos, quanto da Anvisa. A FDA concedeu autorização para uso emergencial da vacina da Pfizer em dezembro.
O acordo atual que o governo possui com a Pfizer prevê a entrega de 1 milhão de doses em abril, 2,5 milhões de doses em maio, 12 milhões em junho e outras 84,5 milhões no terceiro trimestre. Também está sendo finalizado um acordo de fornecimento de 100 milhões de doses no quarto trimestre deste ano.
CARLOS BOLSONARO
O vereador e filho do presidente Jair Bolsonaro, Carlos Bolsonaro, participou de uma reunião entre o ex-secretário de comunicação da presidência Fabio Wajngarten e representantes da Pfizer em 7 de dezembro, segundo Murillo.
A reunião inicialmente era entre Wajngarten e seus assessores com duas representantes da Pfizer – Shirley Meschke, diretora jurídica, e Eliza Samartini, gerente de relações governamentais da companhia -, para esclarecimentos sobre os entraves legais para a assinatura de um contrato de fornecimento de vacinas da farmacêutica ao Brasil.
“Após uma hora de reunião, Fabio recebe ligação, sai da sala e retorna para a reunião. Minutos depois, entram na reunião [o ex-assessor da presidência] Filipe Martins e Carlos Bolsonaro”, disse Murillo, acrescentando que Wajngarten explicou o que havia sido discutido na reunião até ali para os dois. Carlos teria saído da reunião pouco tempo depois.
Não foi a primeira vez que uma testemunha da CPI mencionou a participação do filho do presidente em reuniões sobre a covid-19. O ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta também citou a presença do vereador em outros encontros, e disse acreditar que o presidente Bolsonaro recebia aconselhamento paralelo ao do Ministério da Saúde sobre como lidar com a pandemia.
Assista abaixo a transmissão da CPI.