São Paulo – A Bolsa teve expressiva perda de 1,43%, aos 125.094,88 pontos, no pregão de hoje devido às tensões políticas com as irregularidades na compra de vacinas e denúncias envolvendo o presidente Jair Bolsonaro e ainda e os reflexos da reforma tributária.
Somado à preocupação dos investidores com a inflação aqui e no exterior pelo impasse da reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (Opep+), que acreditam em uma alta da commodity no curto prazo. Pela manhã, o petróleo WTI subiu mais de 1% atingindo o maior nível em seis anos, mas mudou de direção e fechou em queda de mais de 1%.
Na sessão de hoje, apenas três ações tiveram alta Vale (VALE3); Bradespar (BRAP4) e Energisa (ENGI11).
Para Caio Henrique Soares Rodrigues, head de produtos da Speed Invest, vários fatores contribuem para a forte queda da Bolsa. “As questões políticas com as ‘rachadinhas'[esquema de desvio de salários de assessores parlamentares e a CPI da Covid deram uma estressada no mercado, os investidores também não viram com bons olhos a proposta da reforma tributária”.
O head de produtos da Speed Invest avalia que essa queda é pontual. “Acho que é um ruído, não acredito que deva se perdurar por muito tempo”, afirma.
O analista Enrico Cozzolino, da Levante Ideias de Investimento comenta que o Ibovespa passa por orreção para um ponto técnico importante. “Pesa o cenário político e o dólar mais forte que favorecem a aversão ao risco”.
Na visão de Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral Group, o momento mais negativo para o mercado financeiro começou após a entrega da reforma tributária para o Congresso. “O mercado lê que é uma proposta basicamente populista e reduz o crescimento potencial do Brasil em caso de aprovação. Atrelado a isso, os ruídos políticos em torno da CPI e a queda de popularidade do Bolsonaro antecipa a discussão da eleição de 2022”.
Ele questiona “quão populista o governo vai estar disposto a ser conforme essas crises políticas se intensifiquem”.
O economista Álvaro Bandeira, da Modalmais, escreveu em sua rede social, pela manhã, sobre o impacto da política no mercado acionário. “Ambiente político interfere diretamente no comportamento dos mercados de risco, onde a Bovespa não poderia perder patamar de 125000 pontos, sob risco de vir buscar apoio mais embaixo, na faixa dos 122000 pontos”. Bandeira acrescenta que “o momento é de tensão política forte, com a economia exigindo ações imediatas e contundentes para preparar o futuro. Mas medidas populistas devem permear a postura do governo comprometendo o quadro de ajuste”.
Por aqui, a servidora Regina Célia de Oliveira, que autorizou a compra da vacina Covaxin, prestou depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, que apura as ações e omissões do governo no enfrentamento à pandemia.
O dólar comercial fechou em forte alta de 2,39% no mercado à vista, cotado a R$ 5,2090 para venda, no maior valor de fechamento desde 31 de maio e no maior percentual de alta desde 18 de setembro do ano passado, em sessão de aversão ao risco no exterior e em meio à forte cautela no mercado doméstico com a política local.
“O dólar se fortaleceu no mundo todo e tivemos uma venda em massa de ações na bolsa brasileira, possivelmente, provocada por uma incerteza com relação à economia nacional, o que provoca uma retirada de fluxo financeiro dos ativos de risco daqui. Isso acabou enfraquecendo o real frente ao dólar”, diz o analista da Toro Investimentos, Braulio Langer.
Ele reforça que a moeda norte-americana vem de uma “grande queda” nos últimos meses. “A alta de hoje também reflete uma realização de lucro das posições vendedoras, que estavam apostando na queda do dólar após vários meses de altas consecutivas. É natural que depois de uma queda de mais de dois meses, o mercado se reequilibre e suba um pouco”, avalia.
O diretor da Correparti, Ricardo Gomes, destaca que a cautela com o cenário político foi o “grande driver” do mercado doméstico em meio ao fluxo de notícias negativas envolvendo nomes do governo federal e do presidente Jair Bolsonaro. “É um movimento extremamente protecionista e isso deve continuar. Nos próximos dias, poderemos ver o dólar visitar os R$ 5,30”, diz.
O cientista político da Tendências Consultoria, Rafael Cortez, reforça que o quadro político é bastante conturbado e as últimas notícias envolvendo o nome de Bolsonaro têm apontado “perda de capital político” do presidente. Cortez destaca que o mercado faz uma adaptação a esse cenário deteriorado com a continuidade de agenda negativa marcada pelas denúncias feitas na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que investiga os gastos do governo federal no combate à pandemia de covid-19.
“É um temor de que a fragilidade política afete a agenda econômica”, diz, acrescentando que a corrida presidencial de 2022 surge como um fator que entra no radar dos investidores e dos ativos. “As pesquisas eleitorais apontando vantagem do ex-presidente Lula estão no radar. É mais uma etapa de incorporação da corrida eleitoral na precificação dos ativos. O mercado vai trabalhar com a polarização entre Lula x Bolsonaro”, pondera.
O diretor de tesouraria de um banco estrangeiro avalia que parte da valorização do real, saindo do nível de R$ 5,60 em meados de abril para R$ 4,90 no fim de junho – acumulando queda de 11,67% no segundo trimestre, na maior queda percentual para um trimestre em 12 anos – foi impulsionada pelos investidores locais. “Eles venderam cerca de US$ 10,0 bilhões. Eles gostaram do alívio, mas rapidamente reverteram as marchas”, comenta.
O profissional acrescenta que o mercado estava subestimando os ruídos políticos, mas tem ignorado o impacto fiscal. “O governo está reagindo à crise anunciando gastos adicionais. Com a cadeia de abastecimento prejudicada e uma nova rodada de depreciação do real, a inflação vai piorar ainda mais”, aposta, reforçando que o Banco Central (BC) “precisa” agir. “Caso contrário, o real deve revisitar os R$ 5,30 adicionando pressão social e inflacionária. É hora de taxas mais altas e intervenção cambial agressiva”, observa.
Amanhã, o destaque da agenda de indicadores fica para a ata da última reunião de decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), em meados de junho. Para o operador de uma corretora local, Investidores aguardam mais pistas sobre a postura da autoridade monetária em relação aos próximos movimentos. “O que pode trazer ajustes”, finaliza.
As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em alta, novamente perto das máximas do dia, acompanhando a disparada do dólar em relação ao real em uma sessão na qual a tensão política em Brasília ganhou a companhia da recente alta nos preços das commodities na pressão sobre os ativos locais.
Com isso, o DI para janeiro de 2022 encerrou com taxa de 5,780%, de 5,745% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 7,275%, de 7,165%; o DI para janeiro de 2025 ia a 8,35%, de 8,24% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 8,77%, de 8,68%, na mesma comparação.
Na volta do feriado, os principais índices do mercado de ações norte-americano terminaram a sessão em queda ao passo que o otimismo com a recuperação econômica dos Estados Unidos perdeu força. A exceção foi o Nasdaq, que fechou o dia em alta e em patamar recorde.
Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
Dow Jones: -0,60%, 34.577,37 pontos
Nasdaq Composto: +0,17%, 14.663,60 pontos
S&P 500: -0,20%, 4.343,54 pontos