São Paulo – Divergências entre os membros da cúpula da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado que investiga erros e omissões do governo federal no combate à pandemia de covid-19 vieram à tona dias antes da leitura do parecer, evidenciando que ainda não se chegou a um consenso a respeito do texto elaborado pelo relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL).
Na última sexta-feira (15), parte do parecer feito por Renan foi divulgado para a imprensa, indicando que ele pediria o indiciamento do presidente Jair Bolsonaro por onze crimes – entre eles o de genocídio contra indígenas. A situação incomodou integrantes do chamado G-7 da CPI – senadores a quem havia sido prometida uma discussão preliminar a respeito da versão final do relatório.
O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), concedeu entrevistas indicando desconforto com o vazamento do parecer e com a inclusão de genocídio entre os crimes que Renan pretende atribuir a Bolsonaro. Além disso, no fim de semana, adiou a leitura do parecer de terça para quarta-feira, e determinou que a votação acontecerá somente no dia 26 de outubro.
O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse hoje, pouco antes da reunião do colegiado, que há divergências entre os integrantes do grupo neste momento, mas que eles são “mais de forma”.
“Não vejo no conjunto diferenças de fundo de conteúdo. O relatório são 1.200 páginas. Um colega ou outro apresentou uma ou outra divergência sobre tipos penais ou sobre indiciamentos. São razões e motivos que vamos pacificar nas próximas horas”, disse o senador.
Rodrigues também disse que a CPI “não tem direito” de sofrer um racha dias antes da votação do parecer. “Se dividir na votação final, dar neste momento chancela àqueles que vão ser indiciados é inaceitável”, afirmou. No entanto, ele próprio defendeu que o ministro da Economia, Paulo Guedes, seja incluído entre os potenciais indiciados – algo que não está no escopo do parecer de Renan Calheiros.
O relator disse pouco depois, sobre isso, que “já estão discutindo que tem muita gente, imagina discutir a possibilidade de incluir” o ministro. No entanto, acrescentou: “é a maioria quem decide. Procurei sempre me guiar pela maioria”, acrescentou.
Ele disse também que lamenta o vazamento das informações de seu relatório à imprensa, mas que isto ajudou a “antecipar publicamente um debate que era inevitável. Sem o debate fica impossível construir o consenso”.
O senador, porém, tentou diminuir o clima de tensão na CPI, afirmando que embora os integrantes do colegiado não pensem de forma igual sobre tudo, houve união durante toda a investigação, e assim as coisas devem permanecer.
“Vamos continuar juntos porque processo legislativo só caminha facilmente pela maioria. O relatório não será peça do relator, essa investigação é coletiva. Estou aberto para aceitar o debate e depois os pontos de vista da maioria da comissão”, afirmou.