CVM vai investigar inconsistência contábil da Americanas e desdobramentos

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São Paulo – A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) disse que vai investigar inconsistência contábil reportada pela Americanas e possíveis desdobramentos, em comunicado divulgado nesta sexta-feira.

Após o fechamento do pregão da última quarta-feira (11/01), a Americanas divulgou fato relevante informando que detectou inconsistências contábeis no valor de R$ 20 bilhões, que levaram à saída do presidente da empresa, Sergio Rial, e do diretor de relações com investidores, André Covre, de seus cargos apenas 10 dias depois de tomarem posse. O valor da inconsistência superava o valor de mercado da varejista até então, que era de R$ 10,8 bilhões (US$ 2,1 bilhões).

A autarquia disse que “está adotando todas as providências cabíveis para o adequado e cuidadoso esclarecimento de todos os atos, fatos e eventos com relação ao caso em epígrafe, com a abertura de processos administrativos em diferentes superintendências e áreas de atuação da Autarquia, inclusive, mas não apenas, os seguintes procedimentos sem prejuízo de outros que venham a ser, posteriormente, instaurados no âmbito das apurações: Processo Administrativo CVM nº 19957.000413/2023-18; Processo Administrativo CVM nº 19957.000415/2023-15; e Processo Administrativo CVM nº 19957.000425/2023-42.”

A CVM ressalta que seu papel de “garantir o funcionamento eficiente do Mercado de Capitais e a preservação de um ambiente propício, seguro e aderente aos princípios constitucionais para todos os agentes de mercado, zelando pela proteção dos investidores.”

“Após a investigação e apuração dos atos, fatos e eventos, caso venham a ser formalmente caracterizados ilícitos e/ou infrações, cada um dos responsáveis poderá ser devidamente responsabilizado com o rigor da lei e na extensão que lhe for aplicável, sendo facultado à CVM recorrer também aos convênios e acordos de cooperação com Polícia Federal e Ministério Público Federal”, disse a CVM.

Por fim, esta autarquia destaca que “a Lei 6.385/76, que criou a CVM, e a Lei 6.404/76 (Lei das S.A.) disciplinam o funcionamento do mercado de valores mobiliários e a atuação de seus participantes, como as companhias abertas, seus controladores, administradores, auditores independentes, investidores, bolsas de valores e intermediários” e que, “nesse contexto, realiza as suas atividades de supervisão, dentre outras, mediante o acompanhamento da divulgação de informações relativas a companhias abertas, aos demais participantes do mercado de capitais e aos valores mobiliários negociados, o que pode levar à atuação preventiva e à instauração de procedimento sancionador.”

As informações sobre os processos administrativos em trâmite na CVM (incluindo as partes envolvidas e a última movimentação interna) podem ser pesquisadas no site da Autarquia (https://www.gov.br/cvm/pt-br/assuntos/processos/processos-abertos-na-cvm), a partir, por exemplo, do nome da companhia. É possível, ainda, consultar as respostas da companhia a questionamentos da CVM acessando as informações divulgadas pela própria companhia, por meio do Sistema IPE, também disponível no site da Autarquia.

O resultado da pesquisa citada pode não incluir apurações preliminares, investigações ou processos que estejam tramitando em sigilo. Consultas, esclarecimento de dúvidas e eventuais reclamações e denúncias devem ser realizadas por meio dos canais do Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC) da CVM.

Operações vendidas subiram muito antes da divulgação do fato relevante sobre rombo de R$ 20 bi

A plataforma TC Economatica aponta que a quantidade de ações alugadas da Americanas subiu muito antes da divulgação do fato relevante ao mercado informando o rombo bilionário em suas demonstrações financeiras, o que levante suspeitas sobre vazamento de informações privilegiadas ou de de que alguém conseguiu lucrar com a queda dos papéis nestas transações.

Após o fechamento do pregão da última quarta-feira (11/01), a empresa detectou inconsistências contábeis no valor de R$ 20 bilhões, que levaram à saída do presidente da empresa, Sergio Rial, e do diretor de relações com investidores, André Covre, de seus cargos apenas 10 dias depois de tomarem posse. O valor da inconsistência superava o valor de mercado da varejista até então, que era de R$ 10,8 bilhões (US$ 2,1 bilhões).

No pregão de ontem, as ações da companhia caíram mais de 75% e o valor de mercado da companhia foi a R$ 2,45 bilhões. Hoje, as ações da varejista chegaram a subir 55%, em movimento técnico, e já entraram e saíram de leilão algumas vezes no dia, após a forte queda de ontem devido aos últimos acontecimentos. O papel AMER3 fechou em alta de 15,80%, a R$ 3,15.

Também conhecidas no mercado como “short”, são as operações vendidas em bolsa, em que investidores apostam na queda de determinado ativo. Na prática, funciona como um aluguel de ações, onde o investidor vende um ativo que não tem, na esperança de recomprá-lo por um preço menor e lucrar com essa diferença.

Na avaliação de Felipe Pontes, diretor operacional da Economatica, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a B3 deverão investigar o motivo das operações de “short” terem subido tanto dias antes da divulgação do fato relevante. O número de operações de short montadas na Americanas superava em mais de 20 vezes que o setor de consumo cíclico e Magalu e Via experienciaram uma queda no short no mesmo período.

Alguém sabia de algo que o resto do mercado não sabia?

Para o diretor operacional da Economatica, a movimentação atípica deve trazer questionamentos da CVM e da B3, pelo menos para checar quem fez essas operações. “No ano passado, Sergio Rial foi anunciado como CEO da empresa, o mercado recebeu essa notícia como muito boa. Ele assumiu no começo do ano [em 02/01]. O volume de short vinha caindo no final do ano passado e, após o CEO tomar posse no cargo, o short começou a subir. Isso não faz sentido, já que o mercado via a chegada dele como positiva”, explica.

“Ao mesmo tempo, o nível de short do setor de consumo cíclico subiu muito pouco [em comparação, a Americanas subiu mais de 20 vezes o do setor] e as duas principais concorrentes da empresa aqui no Brasil, no mesmo período, tiveram quedas em torno de 10% no volume short, sem sair nenhuma informação nova [que pudesse justificar esse movimento], além da chegada do novo CEO que era muito esperada pelo mercado. No mímino, é um grande “red flag” para a CVM investigar.”

Para Pontes, a CVM e a Bolsa já sabem quem fez essas operações. “Pode ter sido coincidência, mas é uma coincidência muito forte”, opina.

Instituto Ibero-Americano da Empresa convocando os acionistas minoritários a processar a Americanas

O Instituto Ibero-Americano da Empresa está convocando os acionistas minoritários da Lojas Americanas lesados pelo rombo contábil de R$ 20 bilhões em suas demonstrações financeiras a ingressar com procedimentos arbitrais na Câmara de Arbitragem de Mercado (CAM) contra a varejista.

Segundo a entidade, pelo menos 100 investidores individuais e dois fundos de investimentos procuraram a associação e estudam processar a empresa.

O instituto Empresa é uma associação civil que afirma defender “os valores do trabalho, da livre iniciativa, da inovação e do empreendedorismo.”

Na noite da última quarta-feira (11), a varejista reportou a descoberta de inconsistências contábeis no valor de R$ 20 bilhões na conta de fornecedores e agora passará por uma auditoria para verificar o real tamanho de sua dívida financeira.