São Paulo, 14 de fevereiro de 2023 – O debate sobre os juros altos é natural e os questionamentos em torno do patamar das taxas são justos. A avaliação foi feita pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, durante apresentação na CEOConference 2023, evento realizado pelo BTG Pactual. Segundo ele, é importante que alguém no governo se encarregue de questionar os juros. “O BC quer trabalhar junto com o governo”, disse, em claro sinal de trégua com o governo Lula, após uma série de declarações que criaram ruídos e trouxeram instabilidade ao mercado.
Campos Neto disse que é possível fazer um fiscal justo junto com o social. “Podemos casar as duas coisas”. Mesmo ressalvando ser importante reforçar a busca pela qualidade dos gastos, o presidente do BC acredita que o governo está no caminho certo e que a questão dos juros tem sido encaminhada através de um bom debate com o governo.
Sobre as metas de inflação, Campos Neto disse que não é hora para experimentos, porque o sistema de metas funciona bem. “O BC não determina a meta e esta não é um instrumento de política monetária. Mas seguimos a decisão e tomamos as medidas necessárias para que essa meta seja cumprida”.
O presidente do BC reforçou que a meta é decidida pelo governo e deixou claro não concordar com mudanças nas regras. Sobre a possibilidade destas metas serem alteradas na próxima quinta, durante a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), Campos Neto despistou e disse que “teremos que esperar”. Ele lembrou que o presidente do CMN é o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e que o BC tem apenas um dos três votos. “O sistema funciona bem desse jeito. O BC pode propor aperfeiçoamentos, mas quem decide é o governo”, completou.
Campos Neto considera que a autonomia do Banco Central é importante. “A autonomia é um ganho constitucional e gera melhoria na vida das pessoas”. O presidente do BC frisou ser importante respeitar as instituições e jogar conforme as regras do jogo, gerando credibilidade e trazendo investimentos ao país. Ele lembrou que há apetite externo para investir no país.
Em relação à economia global, o presidente considera que Europa e Estados ainda terão dificuldades para terem uma desinflação gradual e que esse processo pode ser ainda mais lento do que o esperado. A questão do mercado de trabalho ainda está trazendo trabalho para os economistas para delinear o impacto sobre a inflação no exterior. Ele destacou o fluxo de investimentos, principalmente diante do crescimento de economias asiáticas.
Dylan Della Pasqua / Agência CMA
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