Déficit público ficará em 0,1% do PIB em 2024, afirma Haddad

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Reprodução Globonews

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista ao programa Estúdio i, da GloboNews, revelou que o déficit público brasileiro ficará em 0,1% do PIB em 2024, bem abaixo das expectativas. “Sem recuperar o passado, vai ser difícil para projetar o futuro. Vamos terminar o ano com 0,1% do PIB, sem considerar o que aconteceu nas enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul”, afirmou.

Ele falou também que os desafios neste ano serão maiores, por conta da instabilidade global, e a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos. “O mundo vem em situação de instabilidade muito grande. Os EUA elegeram um presidente com agenda econômica que é difícil de decifrar”, afirmou.

Haddad também disse que prevê que o crescimento do PIB para 2024 ficará entre 3,5% e 3,6%, bem acima das projeções feitas no começo do ano anterior. “Ao olhar para o passado, ninguém se surpreende com as falhas das projeções. É raro um analista considerar os percalços que tivemos para que chegássemos aonde estamos hoje”.

O ministro falou também sobre as falhas na comunicação do governo. “Temos que nos comunicar melhor, governo tem que ser coerente e resoluto na sua comunicação. Tivemos problema grave de comunicação. Assumo que a Fazenda às vezes erra na comunicação”.

Haddad assumiu que um dos erros foi ter divulgado a medida de isenção de Imposto de Renda para pessoas que ganham até R$ 5 mil com o pacote de ajuste fiscal. “Acredito que foi um dos problemas na comunicação foi informar a isenção do IR com as medidas de ajuste. Além disso, o tempo de maturação das medidas tenha sido excessivo. Estamos em busca de um discurso que não dê margem para informações erradas”.

O ministro afirmou que o ministério não deve apenas olhar para os resultados de emprego e crescimento, mas ir além. “Temos que olhar para outras variáveis. Precisamos ser mais cuidadosos do que nunca em função dos desafios externos. Fizemos um conjunto de medidas de contenção de gastos e o pacote é coerente com a necessidade de calibrar capacidade de oferta com a demanda”.

Sobre a valorização do dólar, Haddad disse que a moeda norte-americana está se valorizando em todo o mundo, mas no Brasil a reação foi exagerada. “Considero que tenha havido um exagero em relação à economia, para pior, por parte do mercado. Acredito que vai haver uma acomodação do dólar ao longo do ano”.

Ainda sobre contas públicas, o ministro afirmou que a economia sempre vai fazer a diferença em qualquer eleição. “Mas eleição não é somente economia, questões ideológicas fazem diferença. A economia estará bem, mas temos que cuidar da nossa democracia, instituições e integridade das pessoas e informações”.

Para ele, o governo está fazendo um ajuste estrutural depois de dez anos. “Estamos contendo gastos de maneira adequada. Se o plano da Fazenda chegar ao final como planejamos, vamos chegar com a economia mais arrumada. O país se desacostumou com a indisciplina nas contas públicas”.

Haddad disse que o Brasil está bem posicionado para enfrentar os desafios externos. “Estudo da Fazenda com a FGV publicado hoje mostra que a situação fiscal de 2024 é melhor que de 2022. O Brasil está em condições melhores do que muitos países, em respeito às regras econômicas, sem recair o peso sobre os ombros da parte mais fraca da sociedade. Não é desprezar as contas, e sim levar uma dimensão social que precisa ser considerada. Lula respeita a dimensão social e nos obriga a não buscar o caminho mais fácil, de recair sobre a base da pirâmide”.

Falando de dívida, Haddad citou que o trabalho para sua resolução não é complexo do ponto de vista matemático. “Não é complexo entregar um resultado bom primário, é uma equação política complexa. Em uma planilha, você resolve o problema da dívida em 15 minutos. Mas tem Congresso, tem Judiciário e tem Executivo, precisa harmonizar os poderes para enfrentar esse problema”.

Ele também falou que analisa os relatórios do Tesouro Nacional e Banco Central (BC) sobre a dívida pública. “Não fazemos pouco caso quando Tesouro e BC alertam sobre riscos que corremos, como dívidas do Tesouro”.

A respeito da aprovação do Orçamento, o ministro disse que deve adequá-lo às leis que foram aprovadas de ajuste fiscal. “Desengessar o Orçamento vai dar mais liberdade para o gestor. A Fazenda tem defendido que as despesas precisam ser colocadas dentro do arcabouço”.

Ao ser perguntado sobre o que ele acha das decisões do Comitê de Política Monetária (Copom), ele disse que pode não concordar sempre com elas, mas as respeita por terem sido tomadas de forma colegiada. Além disso, afirmou que a presença de Gabriel Galípolo na presidência da instituição não vai mudar seu posicionamento. “Esse processo de decisão do BC não vai mudar com Galípolo, e ele sabe qual é a missão do BC”.

Ainda sobre as medidas para conter os gastos públicos, Haddad disse que o governo está “olhando também para o endividamento público. Nossa função é sensibilizar para tomar medidas que podem parecer antipáticas, mas não são, para o país”.

Haddad afirmou que não tem intenção de sair do ministério da Fazenda. “Não penso em sair da Fazenda até 2026, pretendo ficar, isso não é da minha alçada. Assumi o desafio em 2022 com essa intenção”.

Ele reforçou que tem ótima relação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que é transparente nas suas conversas e que nunca se sentiu ‘desautorizado’ por ele.

Nas considerações finais, Haddad afirmou que o governo está em um bom caminho para resolver o problema da falta de transparência das emendas parlamentares, e que tem bom relacionamento com os candidatos mais cotados para a presidência das duas Casas Legislativas: o deputado Hugo Motta (Republicanos/PB) e o senador Davi Alcolumbre (União/AP).

Haddad disse que, pelo fato de este ano legislativo ser menos ‘atravancado’, os projetos do governo devem ser aprovados, como a Reforma Tributária sobre o consumo e a isenção de IR anunciada no final de 2024. “Vamos fazer debate amplo na sociedade sobre tributos no consumo. Acredito que a proposta de isenção no IR em 2025 tem grande apelo. Se encontrarmos equilíbrio levando justiça e neutralidade, será uma grande notícia para o Brasil. O tempo está a nosso favor neste ano, a agenda legislativa está menos atravancada”.