Demanda retraída e custo de capital elevado obrigam varejo a rever operações

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São Paulo, SP – A agência de classificação de risco Fitch Ratings divulgou uma análise sobre o setor do varejo brasileiro no primeiro semestre. Segundo a agência, o prolongado arrefecimento da demanda no varejo brasileiro e o elevado custo de capital para financiar a atividade têm levado a maioria das empresas do setor a ajustar operações para evitar novas deteriorações nos fluxos de caixa, na liquidez e na alavancagem financeira.

“As principais medidas adotadas pelas companhias incluem redução de investimentos e pessoal, fechamento de lojas não rentáveis, migração para franquias e otimização de despesas discricionárias, como publicidade e despesas de vendas, bem como contenção do crescimento das carteiras de crédito, diante do aumento da inadimplência”, explicou a Fitch.

A análise também observou uma postura mais disciplinada quanto à rentabilidade do segmento online em 2023, com retirada de subsídios e reposicionamento de preços e comissões de marketplaces.

No primeiro semestre, as 17 varejistas classificadas reduziram seus investimentos em 40%, em média, frente ao mesmo período de 2022. Multilaser (64%), C&A (55%), Pague Menos (49%), Cantu Store (44%), Companhia Brasileira de Distribuição (43%), Sendas- Assaí (31%) e Guararapes (30%) realizaram os maiores cortes. Os menores desembolsos afetaram a abertura de lojas próprias, reformas e tecnologia, refletindo a lenta recuperação macroeconômica, com fraco ambiente de negócios e elevado custo de capital.

Apenas cinco empresas mantiveram seus planos de expansão. Raia Drogasil e Farmácia e Drogaria Nissei aumentaram em 25% seus investimentos, As duas atuam no varejo farmacêutico, que é razoavelmente protegido por repasses de inflação e demanda mais resiliente, estando, portanto, menos suscetível a oscilações de renda.

A Veste Estilo registrou alta de 28%, seguindo sua estratégia de reformas de lojas após longo período de baixa atividade e a conclusão de sua reestruturação financeira.

A Zamp elevou seu capex em 27%, principalmente para inaugurar lojas da marca Popeyes, enquanto o Grupo SBF investiu 18% mais para melhorar sua logística. Ambas estão com elevada alavancagem financeira e enfrentam desafios para fortalecer a geração de caixa.

“Esperamos desaceleração de investimentos a partir do segundo semestre de 2023 e em 2024. Vamos acompanhar o desempenho operacional das empresas e suas capacidades para operar com investimentos reduzidos”, ressaltou a agência.

SEGUNDO SEMESTRE

A trajetória de redução da Selic, a menor inflação e os programas do governo para diminuir o endividamento da população ainda não se refletiram na demanda do setor. A Fitch não espera recuperação material na segunda metade do ano, ainda que exista forte sazonalidade positiva no último trimestre devido a Black Friday, Natal e Ano Novo. A sazonalidade deve permitir redução de estoque, com efeitos positivos no capital de giro, variável que tem sido crítica devido ao forte consumo de caixa da maioria das empresas.

ALAVANCAGEM

A alavancagem financeira continua sendo chave, diante das limitações de fluxos de caixa. Seis das 17 varejistas, ou 35% do total, apresentavam alavancagem líquida ajustada, de acordo com os cálculos da Fitch, acima dos gatilhos de rebaixamento, em junho de 2023 (base 12 meses). Isso implica em contínua pressão por resultados materialmente mais fortes no segundo semestre, de forma que os mesmos se posicionem mais aderentes às projeções da Fitch.

As alavancagens líquidas ajustadas de Assaí (4,5 vezes), CBD (7,4 vezes), Grupo SBF (4,4 vezes), Guararapes (5,6 vezes) e Zamp (3,9 vezes) apresentavam os maiores desvios frente aos headrooms de seus ratings. A Pague Menos, com alavancagem de 4,9 vezes, terá o indicador reduzido para nível mais próximo ao headroom do rating após o aumento de capital anunciado em agosto de 2023, e que pode atingir até R$ 533 milhões.