Desacordo ente Bolsonaro e Guedes faz Bolsa ficar estável

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São Paulo – Após oscilar entre perdas e ganhos ao longo do pregão, o Ibovespa fechou em ligeira alta de 0,02%, aos 100.297,91 pontos, dividido entre ruídos políticos trazidos pelas declarações do presidente Jair Bolsonaro, que desistiu de lançar o programa Renda Brasil pelo menos até 2022, e entre a alta de ações ligadas a commodities, que refletem dados positivos da economia chinesa. O volume total negociado foi de R$ 24,4 bilhões.

Por meio de um vídeo mais cedo, Bolsonaro desmentiu notícias divulgadas na imprensa de que o governo considerava o congelamento nominal do salário mínimo e dos benefícios previdenciários por dois anos para bancar o programa Renda Brasil – proposto pela equipe econômica para substituir o Bolsa Família – e não furar o teto de gastos. Segundo ele, agora, não se fala mais em Renda Brasil e o Bolsa Família deve continuar.

Com isso, voltaram receios de problemas com a equipe econômica, que já sofreu uma debandada recentemente. Porém, Guedes buscou apagar temores e disse que a decisão do presidente de abandonar, ao menos por enquanto, o programa é “uma reação política e correta”.

“O Renda Brasil é um projeto da equipe econômica nova e tem a questão política envolvida, o desdobramento político, além do desdobramento fiscal. Entendo que faz parte do jogo e que o Guedes pode acabar cedendo em algumas questões”, diz o head de produtos da Speed Invest, Carlos Eduardo Pinheiro Corrêa.

O analista da Guide Investimentos, Conrado Magalhães, concorda e afirma que a suspensão do programa, ao menos por enquanto, diminui a possibilidade de rompimento de teto de gastos, mas, por outro lado, reforça dúvidas sobre desgastes entre o presidente e o ministro da Economia, Paulo Guedes.

“Será necessário aguardar as declarações que serão feitas nos próximos dias pelo presidente e por Guedes para melhor entender como este episódio afeta a dinâmica entre o Planalto e o ministério da Economia. De qualquer forma, não enxergamos a saída de Paulo Guedes como uma consequência plausível do evento, apesar de não descartar por completo o êxodo de outros membros da equipe no curto prazo”, diz, em relatório.

Ele ainda afirma que também não descarta que outros esforços sejam feitos para ampliar a base do Bolsa Família ou aumentar o benefício médio distribuído.

Entre as ações, os papéis de mineradoras e siderúrgicas e outros ligados a commodities avançaram em meio a dados melhores da economia chinesa, a maior consumidora de commodities do mundo, impedindo que o índice aprofunde perdas. As maiores altas do Ibovespa foram da Gerdau Metalúrgica (GOAU4 5,25%), da Gerdau (GGBR4 5,76%), da Suzano (SUZB3 6,00%) e da Minerva (BEEF3 4,29%). Os papéis da Minerva também refletiram a informação de que a companhia pode vender uma fatia de 25% da Athena Foods, sua subsidiária, por pelo menos US$ 200 milhões.

Já as maiores quedas foram da Eletrobras (ELET3 -3,72%; ELET6 -2,51%), da Hering (HGTX3 -3,06%) e do IRB Brasil (IRBR3 -3,26%).

Amanhã, os destaques na agenda serão a decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), às 15h, seguida de comentários do presidente da autoridade monetária, Jerome Powell, às 15h30, além da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), após o fechamento do mercado. No entanto, outros indicadores como os dados do varejo norte-americano também devem ser acompanhados.

Corrêa destaca que são esperadas manutenção das taxas de juros, mas podem ser dadas sinalizações importantes nos comunicados. “No mês passado, Powell já avisou que o Fed deve ser mais tolerante com a inflação, ao afirmar que a meta será uma inflação média. Mas nos Estados Unidos, ainda há outras questões, como a eleitoral e existe a expectativa sobre o pacote de estímulos, com o debate do tamanho dele continuando entre democratas e republicanos. Será importante se o Fed fizer alguns comentários sobre mais estímulos”, destacou.

O dólar comercial fechou em alta de 0,24% no mercado à vista, cotado a R$ 5,2890 para venda, em sessão de intensa volatilidade provocada pelas declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre o programa Renda Brasil, no qual disse estar descartado até o fim de 2022, e gerar desconforto com a equipe econômica do governo federal.

“A ameaça do ‘cartão vermelho’ do presidente Jair Bolsonaro à equipe econômica, no episódio congelamento temporário de aposentadorias e pensões, impôs uma virada no dólar e fez com que a moeda americana saltasse dos níveis de R$ 5,22 [menor valor intraday desde 3 de agosto] para os R$ 5,29”, comenta o diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik.

Em um vídeo publicado em seu perfil no Twitter, o presidente disse que até 2022 está “proibido falar” a palavra Renda Brasil. A leitura do mercado, segundo Rugik, é de que Bolsonaro estaria “fritando” o ministro da Economia, Paulo Guedes.

“Eu já disse há poucas semanas que jamais vou tirar dinheiro dos pobres para dar para os paupérrimos. Quem porventura vier propor para mim uma medida como essa eu só posso dar um cartão vermelho para essa pessoa”, declarou Bolsonaro no vídeo.

Após a virada da moeda que chegou a operar com 1% de queda na abertura dos negócios reagindo aos números melhores do que o esperado de vendas no varejo e da produção industrial na China e da atividade industrial de Nova York – em agosto – o dólar exibiu intensa oscilação no início da tarde, operando sem direção única.

“Com o esclarecimento por parte do ministro Paulo Guedes, de que o cartão vermelho não foi para ele, a moeda teve um comportamento praticamente lateral e ficou sambando entre os níveis de R$ 5,27 e R$ 5,28”, acrescenta o profissional da Correparti.

Diante as declarações de Bolsonaro, as reuniões do Fed e do Copom ficaram em segundo plano ao longo da sessão, mas são destaque na agenda amanhã, na super quarta, com a publicação da decisão de política monetária aqui e nos Estados Unidos.

Para a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, em relação ao Copom, o mercado fica à espera das sinalizações que podem ser feitas pelo BC no comunicado. “O cenário não mudou tanto do último Copom [na primeira semana de agosto] para esse. Então, não deve trazer grandes movimentações para o mercado amanhã”, diz.

A economista ressalta que o Fed poderá fazer preço na sessão, apesar de que também não deverá trazer novidades quanto à condução da política econômica. Porém, há expectativa para a divulgação das projeções econômicas para o quarto trimestre. “Se tiver alguma correção muito grande em algum dos dados, pode trazer algum movimento para a taxa de câmbio”, avalia.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão em alta, após inverterem a direção negativa vista na abertura do pregão, na esteira das declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre o Renda Social, que reacenderam os ruídos políticos envolvendo o ministro da Economia, Paulo Guedes. Ainda assim, o movimento de recomposição de prêmios foi limitado pela expectativa com a decisão de juros dos Copom, amanhã.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 2,87%, de 2,81% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 4,15%, de 4,06% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,03%, de 5,93%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,02%, de 6,92%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo positivo com as altas lideradas pelas empresas de tecnologia.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,01%, 27.995,60 pontos

Nasdaq Composto: +1,21%, 11.190,32 pontos

S&P 500: +0,52%, 3.401,20 pontos