São Paulo – Termômetro da macroeconomia, o dólar tem se mantido acima dos R$ 5,00 há quase dois meses. O cenário, tanto doméstico quanto global, tem contribuído para este movimento. Se o fiscal interno é claudicante, e a tragédia no Rio Grande do Sul mais um ingrediente para a piora deste quadro, os sinais de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) deve manter os juros altos por mais tempo ligam a luz amarela nos investidores.
De acordo com o sócio da The Hill Capital Marcelo Bolzan, “o cenário de higher for longer vem ganhando força, ou seja. A consequência é que investidores internacionais vão preferir direcionar seus recursos para os Estados Unidos, isso aumenta a demanda pela moeda americana, fortalecendo o dólar em relação a outras moedas, incluindo o real. Portanto, a expectativa é de continuidade de dólar forte nesse cenário”.
O Fed adiar o início do corte dos juros também impacta a política monetária brasileira. O Comitê de Política Monetária (Copom), que reduziu o ritmo de corte da Selic (taxa básica de juros) para 0,25 ponto percentual (pp), não deixou claro quais serão os próximos passos do comitê.
“Na ata (do Copom) fica claro o tom mais hawkish e de maior cautela à frente. O comitê irá acompanhar os dados de inflação, atividade e emprego das próximas semanas. As projeções da Selic vêm aumentando nas últimas semanas quando analisamos Boletim Focus. Saíram de 9,50% para 10% ao final de 2024. Minha expectativa é de Selic em 10,25% ao final do ano e acredito que a cotação do dólar já reflete esse novo cenário de juros mais altos no Brasil”, opina Bolzan.
Ainda é difícil medir com precisão o impacto econômico da crise gaúcha, mas a fatia do estado no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro certamente diminuirá. “O Rio Grande do Sul é conhecido por ser um importante polo produtor agrícola do Brasil, principalmente no cultivo no cultivo de arroz, soja e trigo. É difícil mensurar com exatidão os impactos das enchentes, mas podemos esperar uma pressão na inflação de alimentos. A economia do Rio Grande do Sul representa 6,5% do PIB brasileiro e podemos esperar uma queda do PIB de pelo menos 0,3 pontos percentuais”, avalia Bolzan.
Se há pouco mais de dois meses se falava em dólar fechando 2024 abaixo dos R$ 4,80, a
situação parece ter mudado, ao menos em curto prazo: “A tese de um real mais forte é justificada pela expectativa de Balança Comercial e Investimento Direto positivos. No entanto, passamos por mudanças importantes nas últimas semanas, seja no cenário internacional com a expectativa de juros mais altos por mais tempo, mas também no cenário doméstico. Mudança na meta de superavit primário para 2025 anunciadas no mês passado, Copom dividido, troca de comando na Petrobras e declarações recentes do Fernando Haddad sobre ser inimaginável o país ter meta de inflação de 3% acabaram trazendo mais volatilidade e pressão ao câmbio no curto prazo”, contextualiza Bolzan.
O sócio da The Hill Capital explica que na comparação com outros pares emergentes, o real tem sido mais castigado, mas observa que é normal o mercado exagerar um pouco e isso tem beneficiado a divisa estadunidense nas últimas semanas. No curto prazo, Bolzan projeta a moeda norte-americana na faixa entre R$ 5,00 e R$ 5,10.