Efeitos da política de Trump das tarifas, interferência sobre o Fed e corte de impostos sobre a economia

66
O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump / Foto: Casa Branca

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, ainda não assumiu o governo ele toma posse em 20 de janeiro mas os efeitos já são sentidos na economia internacional. Durante a campanha eleitoral, Trump prometeu estender várias disposições da Lei de Cortes de Impostos e Empregos, de 2017, que reformulou o código tributário e reduziu os encargos fiscais para quase todos os contribuintes, além da imposição de tarifas comerciais. No entanto, especialistas alertam que essa medida poderá ter impactos fiscais significativos.

Foco em política comercial

Após consolidar sua agenda doméstica, analistas do ING acreditam que Trump deve priorizar a política comercial. Entre as possibilidades estudadas, está a imposição de tarifas de 60% sobre produtos chineses e de 10% a 20% sobre importações de outras regiões. “Essas tarifas poderiam ser introduzidas no terceiro trimestre de 2025, com maior probabilidade entre o quarto trimestre de 2025 e o primeiro trimestre de 2026, de forma gradual para minimizar impactos econômicos adversos”, destacam os economistas do ING.

Renegociação de acordos e barreiras tarifárias

Trump já expressou intenção de renegociar o acordo comercial entre EUA, México e Canadá, buscando impor taxas mais elevadas aos produtos de países vizinhos. Além disso, ele prometeu estabelecer uma tarifa de importação de 20% para mercadorias de qualquer país e, no caso de produtos chineses, a alíquota pode alcançar 60%.

O Brasil também está na mira. Durante uma coletiva de imprensa na segunda-feira (16/12), Trump afirmou que o país aplica impostos de importação elevados sobre produtos americanos. “Se eles querem nos cobrar, tudo bem, mas vamos cobrar a mesma coisa”, declarou.

Cortes de impostos

Trump tem gerado expectativas no mercado financeiro com suas promessas de cortes de impostos e estímulo ao crescimento econômico. Durante sua campanha, Trump destacou a redução da alíquota do imposto corporativo de 21% para 15%, argumentando que a medida tornará o país mais competitivo e incentivará empresas a repatriarem trilhões de dólares que estão no exterior. Além disso, ele planeja reduzir as faixas de imposto de renda, tornar as tributações menos complexas e eliminar deduções consideradas ineficazes.

“A extensão dos cortes de impostos de Trump, que estão expirando, deve adicionar cerca de US$ 4,5 trilhões ao déficit na próxima década”, aponta Paul Ashworth, economista-chefe para a América do Norte da Capital Economics, em relatório. “Isso elevará o déficit orçamentário anual em 1,2% a 1,5% do PIB, aproximando-o de 8% do PIB, e aumentará a dívida pública para 132% do PIB até 2034”, projeta.

A situação se agravaria se os cortes fossem implementados sem compensações em outras áreas. “Sem redução de gastos, o déficit pode ultrapassar 9% do PIB por ano, e a dívida pública atingiria 140% do PIB em uma década”, alerta Ashworth.

As bolsas de valores reagiram positivamente à perspectiva de uma economia mais aquecida. O índice Dow Jones registrou alta de 2% após declarações da equipe de transição sobre a priorização dos cortes de impostos nos primeiros 100 dias de governo. Analistas apontam que as propostas de Trump também podem beneficiar setores como energia, tecnologia e manufatura, que historicamente enfrentam alta carga tributária. No entanto, alguns economistas alertam para o risco de um aumento substancial no déficit fiscal, que já ultrapassa os US$ 1 trilhão anuais.

Apesar do entusiasmo inicial no mercado financeiro, os desafios para implementar essas políticas são significativos. Trump precisará do apoio do Congresso, onde enfrenta resistências tanto entre democratas quanto entre republicanos mais preocupados com a sustentabilidade fiscal. O sucesso das reformas fiscais também depende de uma execução cuidadosa que equilibre crescimento econômico com responsabilidade orçamentária, evitando que a dívida pública alcance níveis insustentáveis.

Interferência no Fed

Outro ponto observado é uma interferência do governo norte-americano no FED. A instituição é autônoma e independente da condução da economia dos EUA o atual presidente, Jerome Powell, sempre reforça essa afirmação ao ser questionado, citando que essa independência é assegurada pelo Congresso norte-americano.

Durante seu primeiro mandato, Trump entrava em conflito de forma repetida com Powell, reclamando que ele mantinha as taxas de juros muito altas. Os ataques de Trump levantaram preocupações generalizadas sobre a interferência política na formulação de políticas do Fed.

“O risco de conflito entre a administração Trump e o Fed é muito alto”, disse recentemente Olivier Blanchard, ex-economista de ponta do Fundo Monetário Internacional. Se o Fed aumentar os juros, “isso vai atrapalhar o que a administração Trump quer”.

Ainda quando estava em campanha eleitoral, Trump disse que o presidente do país deve ter mais influência sobre as decisões do Fed. “Eu sinto que o presidente deveria ter pelo menos uma palavra a dizer nisso”, disse. “Eu acho que no meu caso, eu ganhei muito dinheiro, eu fui muito bem-sucedido, e eu acho que tenho um instinto melhor do que em muitos casos, pessoas que estariam no Federal Reserve”, disse ele em sua mansão em Mar-a-Lago.

O presidente eleito dos EUA havia dito em campanha que ‘demitiria’ Powell antes do final de seu mandato como chefe do banco central que termina em maio de 2026. Uma vez perguntado sobre isso, Powell disse que sua retirada antes disso ‘não era permitida por lei’.

Se Trump tentar remover Powell, isso afetará radicalmente a independência do Federal Reserve, prejudicando sua capacidade de definir taxas de juros sem interferência política direta. Essa mudança pode comprometer a credibilidade do banco central e sua eficácia em conduzir a política monetária de forma imparcial.

A interferência política no controle das taxas de juros pode aumentar a inflação a longo prazo. Caso os mercados acreditem que decisões sobre juros sejam guiadas por interesses políticos de curto prazo, os investidores tendem a prever taxas mais baixas no futuro, o que já seria suficiente para pressionar a inflação.

Texto de Larissa Bernardes, Erika Kamikava e Vanessa Zampronho / Safras News

Edição: Vanessa Zampronho / Safras News