Eleições municipais mostraram robustez de partidos de centro, diz especialista

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Brasília – O resultado do primeiro turno das eleições municipais indica que, a despeito da ausência de protagonismo exclusivo a legendas, houve um ganho de força principalmente de atores políticos do centro e a queda de expressividade da ala à extrema-direita – apoiada pelo principal representante do segmento, o presidente Jair Bolsonaro, de acordo com o sócio-diretor da Assessoria Legislativa Hold, André César.

César parafraseia a fala proferida pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), após ter votado no fim de semana, ocasião em que afirmou que Bolsonaro teria voltado ao seu “tamanho normal”, referindo-se à intenção de voto que segundo o parlamentar foi alavancada em 2018 em decorrência da facada sofrida pelo presidente da República.

Ao conversar com jornalistas, Maia afirmou que Bolsonaro representaria “o tamanho do núcleo dele que era muito menor que os 46% de intenção de voto que ele teve. Ele está voltando ao tamanho normal e a influência é menor, especialmente nas capitais onde a cobrança é muito maior do que nos municípios do interior”.

“O presidente tem a força dele, mas a força dele do processo eleitoral devido aos fatos que ocorreram após a facada, é claro que levaram ao movimento muito maior do que o que ele tinha de força política antes da facada. Aqui não tem nenhuma crítica do presente, se ele está mais forte ou ele está mais fraco, mas o momento final da eleição nacional gerou uma onda patrocinada parte por esses movimentos de rede social e pela pela pela comoção em relação à facada”, disse Maia em evento na terça-feira.

André César diz que as eleições municipais dão alguns indicativos, que não chegam a determinar tendências ao pleito de 2022, mas mostram o desempenho de alguns atores políticos que, segundo ele, “podem ter saído melhor que o outro. Nesse sentido é importante frisar que o presidente Jair Bolsonaro foi menor. O que Rodrigo Maia disse quando ele estava votando, dizendo que o Bolsonaro volta a ficar do tamanho o que ele era, faz todo o sentido”.

APOIADOS

Entre os candidatos apoiados publicamente por Bolsonaro, principalmente em suas lives semanais no Facebook, foram eleitos apenas dois vereadores, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. Três candidatos que pleiteiam a prefeitura vão a segundo turno, entre eles Marcelo Crivella (Republicanos), que teve 21,9% dos votos, e disputará segundo turno com o ex-prefeito da cidade, Eduardo Paes (DEM).

Na praça eleitoral do Nordeste, o candidato apoiado por Bolsonaro que vai ao segundo turno é Capitão Wagner (Pros). Wagner obteve teve 33,32% dos votos em Fortaleza, e disputará o segundo turno com o candidato Sarto Nogueira (PDT), aliado do ex-candidato à presidência da República e correligionário Ciro Gomes. Nesse caso, de acordo com André César, a disputa ganha nuance “nacional” e “caso Bolsonaro ‘vença’ ele pode colocar no saldo positivo dele, pode jogar no crédito. Agora a derrota também será um passo para trás”.

Além disso, entre os candidatos apoiados pelo presidente da República, três vereadores e dois prefeitos não foram eleitos. Entre eles, um dos principais nomes é o de Celso Russomano (Republicanos), que teve 10,5% dos votos da capital paulista. Em Manaus o apoiado pelo presidente também não foi eleito. Coronel Menezes (Patriota) reuniu 11,32% dos votos.

Segundo o especialista, ao se antecipar e apoiar candidatos antes do segundo turno, principalmente em capitais de peso, Bolsonaro “acabou se expondo de maneira desnecessária e açodada. Ele podia ter evitado, esperado o segundo turno para se posicionar”.

ESCOAMENTO PARA O CENTRO

César afirma que houve um “esgotamento aparente pelo menos desse movimento que ficou muito claro em 2018, da extrema-direita, e parece que o eleitor foi para o centro buscando alternativas mais moderadas para questões que são de interesse”. Ao tempo em que isso foi demonstrado em parte nas urnas durante o fim de semana, a movimentação dos atores políticos do centro poderá evidenciar as tendências ao pleito de 2022, principalmente na próxima eleição da presidência da Câmara dos Deputados, em 1 de fevereiro de 2021.

“O que dá pra captar de imediato é uma conversa que já vem ocorrendo entre MDB, DEM E PSDB, visando um grande entendimento de centro-direita para fazer frente ao bolsonarismo e não deixar a esquerda ganhar musculatura. Aí você tem João Doria (PSDB), DEM alguém próximo na vice-presidência, Rodrigo Maia capitaneando isso, e no âmbito do MDB o objetivo seria conquistar a presidência da Câmara com o Baleia Rossi. Isso seria um elemento de força que daria, aí sim, a partir do próximo ano, para delinear uma tendência”, explica.

Ao tempo em que a atuação do governo de Bolsonaro, o especialista diz que será necessário o presidente criar uma base sólida e achar um partido com consistência mínima para se filiar. Além disso, o manejo de questões ideológicas dentro de seu núcleo, principalmente em questões que esbarram com a ala militar. “E tentar conter o centrão. Ao que tudo indica, os resultados (das municipais) podem levar o centrão, que é pragmático por natureza, a elevar o preço do apoio. Isso é legítimo e faz parte do presidencialismo de coalisão, que mostra que a tal da nova política do Bolsonaro não existe”.