Eletrobras investirá R$ 11-16 bilhões até 2027; R$ 6 bi já estão confirmados

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São Paulo – A Eletrobras apresentou os primeiros resultados de 11 meses da gestão sob o comando de Wilson Ferreira Junior na presidência da empresa após a capitalização da companhia em 2022, em evento para investidores e analistas realizado nesta quarta-feira, o “Eletrobras Day”. Nos próximos cinco anos, até 2027, a Eletrobras deve investir R$ 11-16 bilhões (R$ 6 bi já confirmados) e prevê RAP anual de R$ 2 bilhões. Também prevê aporte de R$ 35 bilhões em leilões de transmisssão em 2023/2024 e 4 M&As em transmissão em andamento totalizando 6.338 km.

A Eletrobras totaliza R$ 500 milhões em ebitda anual de M&As assinados e adicionou 1,94 GW de capacidade, além de prever arrecadação de R$ 1,5 bilhão com a venda de 7 coligadas. Além disso, tem 11 M&As em geração renovável em andamento.

Entre as realizações realizadas, a companhia destacou a centralização do processo decisório na holding; a aprovação de diretrizes de governança corporativa; transformação de subsidiárias em subsidiárias integrais; eliminação de 8 posições de diretoria estatutária, 28 posições de conselho de administração (3 posições na Chesf em fase de fechamento de capital) e 12 de conselho fiscal; eleição do novo time de executivos da Eletrobras e cargos de alta gerência nas subsidiárias; 2 programas de demissão voluntária (PDVs) aprovados; e 6 M&As e participação no leilão de transmissão.

Em comercialização, a empresa totaliza 5,8 GWmed de energia vendida no mercado livre, com contratos acima dos preços médios de mercado. Em junho, a Eletrobras tinha 132 consumidores livres, de 31 um ano antes, e prevê alcançar 9,5 GW em energia descontratada até 2027, de 1,4 GW em 2023, sendo 46% energia contratada (de 89%) e 54% descontratada (de 11%). A nova estratégia integrada da Eletrobras incluiu a criação de sua comercializadora (despacho Aneel 2.233, em 6 de julho de 2023), atuação das subsidiárias em vendas para clientes finais, contratos de 5 anos, aumento da base de clientes e criação de estrutura dedicada (Corporate e Varejo), mesa centralizada de trading e novos mercados. “Esta é uma operação que vai entregar muito valor para a Eletrobras”, avalia o CEO Wilson Ferreira Junior. “Nosso foco, neste primeiro momento, é o corporate, é um mercado muito importante, que tem relevância em volume de energia. Estamos focados no prazo de contratação e neste segmento que tem uma representatividade.”

Num segundo momento, prevê atender o mercado de baixa tensão, de cerca de 88 milhões de consumidores, por meio de plataformas eletrônicas.

Recentemente, o CEO da Eletrobras assumiu a vice-presidência de comercialização de energia, após o executivo José Carlos de Abreu Guimarães ter seu nome envolvido em denúncia de supostas fraudes envolvendo as comercializadoras Beta e Zeta, criadas a partir de captações de fundos com os mesmos nomes pela gestora de ativos da Delta. Guimarães era o presidente do fundo Beta desde sua criação, em 2017, mas deixou o grupo para assumir o cargo na Eletrobras em abril deste ano.

A Eletrobras também tem foco em três áreas de ganho de eficiência: financeira, fiscal e operacional. Na primeira, reduziu em R$ 1,5 bi em empréstimos compulsórios (de R$ 25,8 bi totais desde 3T22), além de esperar otimizar R$ 58 bilhões de sua alavancagem financeira e R$ 10 bi de contingências em outros processos judiciais. Na parte fiscal, busca simplificação estratégica da estrutura para otimizar o uso de créditos fiscais, dos quais R$ 15 bilhões em aproveitamento de créditos fiscais na holding. Em operacional, a empresa cita economias de R$ 1,1 bi com o primeiro PDV que teve a adesão de 2,5 mil funcionários e entre 0,5-0,8 bi no segundo PDV (até 1,57 mil adesões).

A companhia informou que o seu caminho para criar valor no mercado de capitais inclui: sucesso e liderança na execução da agenda ESG; evolução da governança; inovação; plano de investimento robusto e com disciplina de capital; e estabilidade e visibilidade de earnings. Atualmente, a Eletrobras negocia com múltiplo de 6,3 vezes EV/Ebitda estimado para 2024 ante medianas de 8,7x em geração no Brasil, 7,3x em transmissão (BR), 11,2x em renováveis (global) e 8,6x energia (global).

Até o 2T24, a Eletrobras prevê reduzir o número de SPEs para 31, de 73 no 1T23. O número de cargos de liderança foi reduzido em 17,4% desde o 1T22, para 757, de 916. O segundo PDV da companhia deve ter a adesão de 1,5 mil funcionários. A companhia reduziu seu quadro de funcionários de 12,1 mil no 1T22 para 8,5 mil (-30,3%).

Em relação à sua gestão de ativos e passivos, a companhia vendeu 6 coligadas por R$ 1,9 bilhão e recebeu R$ 954 milhões pela venda de Itaipu; e reduziu sua exposição cambial em US$ 1,24 bilhão e otimizou R$ 16 bilhões da dívida da Saesa (custo médio de IPCA +7,8%), sendo R$ 10 bilhões a serem alocados na holding para reestruturação e R$ 6 bilhões remanescentes na Saesa.

O presidente da Eletrobras disse que a empresa está bem posicionada para atender a demanda de hidrogênio verde, que deve crescer de 19 a 39 GW em capacidade instalada até 2030.

A Eletrobras também tem o compromisso de se tornar Net Zero até 2030, podendo se tornar a empresa de energia com a menor intensidade de emissões relativas de tCo2 por MWh do mundo. Segundo a empresa, ela emitiria 51 Mi de tCo2 entre 2022 e 2030 sem nenhuma ação de redução, mas prevê 24 Mi evitados no período. A estratégia da empresa para atingir essas metas é a desmobilização de ativos de emissão, como por exemplo, usinas térmicas a carvão, contribuição para fundo de descarbonização, projetos de descarbonização (microgrid por exemplo) e reflorestamento na Amazônia.

O presidente da Eletrobras disse que a empresa está bem posicionada para atender a demanda de hidrogênio verde, que deve crescer de 19 a 39 GW em capacidade instalada até 2030. “Temos uma vantagem comparativa. A medida que o mundo está se organizando para ter metas de descarbonização, será preciso prosseguir e informar qual a rota para atingir esses compromissos. Vemos movimentos no Brasil de empresas que querem reduzir suas emissões e acredito que no médio prazo, as plantas de hidrogênio verde devem ter demandas em 2026, 2027. Poucas empresas têm capacidade para oferecer isso e a Eletrobras é uma delas e não precisa de parceiros, pois tem uma demanda de energia grande a ser alocada nesse mercado.”

Em relação à ação do governo no Supremo Tribunal Federal (STF) para retomar sua participação acionária na companhia, o presidente da Eletrobras disse que não pode comentar por envolver acionistas, mas confirmou que há um acordo sendo feito mas que não pode adiantar informações.

A empresa espera a conclusão de estudo do BNDES em agosto e estudo do CNPE em setembro para avaliar os investimentos na usina de Angra 3.