Em dia de baixíssima liquidez, Bolsa sobe na expectativa do marco fiscal, mas não alcança patamar dos 100 mil pts

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São Paulo- A Bolsa fechou em alta, mas não conseguiu subir no patamar dos 100 mil, em um dia em que atingiu um dos volumes mais baixos do ano, com os investidores no compasso de espera para a divulgação do novo arcabouço fiscal. As varejistas e as petroleiras também ajudaram no movimento.

Com o cancelamento da viagem do presidente Lula à China, cresceu a expectativa do mercado para o anúncio do marco fiscal ainda esta semana.

Mais cedo, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, participou da Arko Conference e disse o arcabouço é “simples, fácil de ser entendido, totalmente transparente e crível”. E acrescentou que é “fisicamente responsável e socialmente comprometido”.

Os destaques positivos do Ibovespa na sessão de hoje ficaram para as ações ligadas ao consumo com a queda na curva de juros futuros. Magazine Luiza (MGLU3) subiu 3,40% e Via (VII3) avançou 3,20%.

Os papéis da Petrobras (PETR3 PETR4) aumentaram 1,51% e 1,71%, acompanhando a alta do petróleo no mercado internacional. Os bancos subiram em bloco.

O principal índice da B3 subiu 0,85%, aos 99.670,47 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril aumentou de 0,70%, aos 100.225 pontos. O giro financeiro foi de R$ 16,4 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam mistas.

Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos, disse que Ibovespa sobe acompanhando o cenário externo mais positivo com a compra do SVB pelo First Citizens e “o mercado segue ansioso à espera do arcabouço fiscal, que deve ser anunciado nos próximos dias com o adiamento da viagem de Lula à China; apesar do otimismo, a Bolsa não tem força para ficar acima dos 100 mil pontos, é necessário novidades sobre a questão fiscal e juros mais baixos para o Ibovespa subir”.

O fundador da Gava Investimentos disse que o setor de educação cai antecipando o balanço de hoje de Ânima, que sai depois do fechamento. Yduqs (YDUQ3) perdeu 3,18% e Cogna (COGN3) cedia 2,16%.

Lucas Mastromonico, operador de renda variável da B.Side Investimentos, disse que o mercado está lateral com os investidores na expectativa do arcabouço fiscal.

“Ninguém querendo tomar risco em meio a um volume reduzido; a Simone [ministra do Planejamento e Orçamento] falou hoje [na Arko Conference] que o arcabouço é claro e que vai ser muito bom, mas temos de avaliar se tudo que ela está dizendo é bom ou não, mas a expectativa do mercado é baixa, qualquer coisa acima disso pode dar uma reação positiva; a gente viu a tentativa do Haddad e da Simone em conversar com o mercado e a ala mais radical do PT impedindo isso e, na sexta-feira, o Campos Neto [Roberto Campo Neto, presidente do Banco Central] falou com o Haddad em uma conversa mais privada tentando justificar a manutenção dos juros altos por mais tempo”.

Mastromonico disse que não vê motivos para os juros estarem tão elevados nesse nível. “A inflação não está tão alta, a gente vai ter uma reação em cadeia se os juros permanecerem altos, mas em contraponto o risco fiscal do País está muito alto. Eles podem entrar em um consenso; o Haddad tem declarado que está focado no controle de gastos”.

O operador de renda variável da B.Side Investimentos, acrescentou que o ambiente externo também ajudou “deu acalmada boa com a compra do SVB pelo First Citizens Bank e na Europa o dia está mais morno; aqui o setor que está subindo bem é o varejo com a curva de juros fechando”.

Segundo um analista de um grande banco do mercado financeiro, os investidores “respiram aliviados com a melhora do sistema bancário global e aqui voltou a expectativa da divulgação do arcabouço fiscal”.

Ubirajara Silva, gestor de renda variável, disse que a notícia de que um banco vai comprar os títulos falidos do SVB “trouxe um alívio para o setor financeiro e contribuiu para animar o petróleo, mas aumento das tensões entre Rússia e a Ucrânia também favoreceu a alta da commodity. No cenário local, o grande destaque foi o cancelamento da viagem de Lula à China, o que fez com que o mercado acreditasse que o arcabouço fiscal seja anunciado antes da data esperada”.

O dólar comercial fechou em queda de 0,80%, cotado a R$ 5,2070. A moeda refletiu, ao longo da sessão, a expectativa com a divulgação do novo arcabouço fiscal doméstico, além de uma melhora no cenário global.

De acordo com o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “o movimento hoje é de menos aversão ao risco, com o mercado precificando uma desaceleração global mais suave”.

Borsoi acredita que as falas da Ministra do Planejamento, Simone Tibet, e do secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Fernando Galípolo, hoje de manhã foram bem recebidas pelo mercado. Ambos enfatizaram a simplicidade e transparência do arcabouço fiscal.

“Existe um movimento de recuperação muito forte das commodities, o que nos beneficia. A percepção é de melhora, o que ajuda o real”, opina Borsoi.

Para o sócio fundador da Pronto! Invest Vanei Nagem, “a ajuda aos bancos foi boa, e isso não contamina o mercado financeiro”.

Nagem entende que a âncora fiscal deve valorizar o real, com o dólar podendo operar abaixo dos R$ 5,20. As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em forte queda, em dia de liquidez reduzida, com mercado aguardando novidades sobre o arcabouço fiscal.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 13,055% de 13,055% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 11,885%, 11,945%, o DI para janeiro de 2026 ia a 11,910%, de 11,985%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,145% de 12,255% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em alta, liderados pelos papeis dos bancos, que subiram após depois que o banco First Citizens, com sede na Carolina do Norte, concordou em comprar a maior parte do Silicon Valley Bank (SVB).

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,60%, 32.432,08 pontos
Nasdaq 100: -0,47%, 11.769 pontos
S&P 500: +0,16%, 3.977,53 pontos

 

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA