São Paulo – A Bolsa operou praticamente todo o dia em queda e encerrou os negócios em baixa, na contramão de Nova York, empurrada pelas ações do setor financeiro devido ao resultado do Santander no quarto trimestre mais fraco que o esperado pelo mercado e pelos papéis da Petrobras.
Os investidores aguardam a decisão sobre a taxa básica de juros (Selic) do País, após o fechamento do mercado e, o consenso é uma elevação de 1,5 ponto porcentual (pp) passando de 9,25% ao ano (aa) para dois dígitos-10,75% aa.
O principal índice da B3 recuou 1,17%, aos 112.894,36 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro caiu 1,48%, aos 112.065 pontos. O giro financeiro foi de R$ 25,2 bilhões. Em Nova York, as bolsas subiram.
Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, afirmou que o balanço do Santander “não agradou o mercado e está puxando para baixo as outras ações do setor financeiro”.
Em relação ao Copom, apesar do mercado apostar na elevação de 1,5 ponto porcentual (pp) na decisão de hoje “está receoso de que o discurso no comunicado possa vir mais hawkish (duro) do que o esperado”. E acrescentou que “os juros subindo acabam impactando muito as ações que têm crescimento implícito no futuro vs papéis consolidados e que já geram caixa”.
Os papéis do Santander (SANB11), Itaú (ITUB4) e Bradesco (BBDC3 e BBDC4) caíram respectivamente 2,99%; 1,56%; 1,65% e 1,19%. As ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) pediram 1,79% e 1,39%, nessa ordem.
Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset, comentou que a queda do Ibovespa na sessão de hoje deve-se ao balanço do Santander no último trimestre de 2021 bem abaixo do esperado pelos analistas e “acabou desanimando o mercado e o reflexo foi imediato em todo o setor financeiro”.
Mais cedo foi divulgado o lucro líquido do Santander no quarto trimestre de 2021, que diminuiu 2,0%, para R$ 3,88 bilhões, enquanto o resultado gerencial – ajustado para desconsiderar efeitos de ganhos ou despesas extraordinárias e a despesa de amortização do ágio – ficou positivo em R$ 3,8 bilhões, caindo 1,6% em relação a um ano antes. Além dos bancos, o varejo também tem expressiva queda.
Gonçalvez comentou sobre a volta dos trabalhos do Congresso e a atenção com a PEC dos Combustíveis.
A BRF precificou em R$ 20,00 por ação o seu follow-on e aumento do seu capital social, no contexto da oferta, no valor de R$5,4 bilhões, sendo R$500 milhões destinados ao capital social e R$ 4,9 bilhões à formação de reserva de capital, mediante a emissão de 270 milhões de novas ações, incluindo American Depositary Shares (ADSs) representadas por American Depositary Receipts (ADRs). As ações da BRF (BRFS3) caíram mais de 7%.
O dólar fechou em R$ 5,2760, com alta de 0,03%. A moeda esboçou uma reação, mas ao longo da sessão foi perdendo força, com o mercado já precificando o aumento de 1,5 ponto percentual (pp) na Selic (taxa básica de juros), além do fluxo estrangeiro na bolsa que continua intenso.
Segundo o economista da Guide Investimentos, Victor Beyruti, “hoje é um dia de ajuste global do dólar, principalmente ante as emergentes. Na comparação com os pares, o real é quem está se saindo melhor”.
Beyruti acredita que o mercado aguarda pelo comunicado do Banco Central (BC): “O mercado quer ver a linguagem do comunicado, se o BC vai deixar ou retirar o trecho de 1,5 pp de alta na próxima reunião, em março. A aposta é que este trecho não conste no pronunciamento de hoje”, avalia.
De acordo com fonte ouvida pela CMA, “o aumento de 1,5 pp está dado, a expectativa é com a próxima reunião. O discurso deve ser moderado, muita cautela é necessária. O Comitê de Política Monetária (Copom) não pode errar”.
A fonte ainda diz que bons ventos sopram a favor do Brasil: “O fluxo está muito forte, é impressionante. As chuvas também aumentam as chances de uma possível redução tarifária”, analisa. “Vejo o real chegando em R$ 5,00, sendo este o suporte. Também não acredito que o aumento dos juros nos Estados Unidos vá atrapalhar o Brasil, nossa taxa é muito atraente”, complementa.
Para a economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, “a bolsa continua atraindo capital estrangeiro diante dos preços atrativos, e mantendo a taxa de câmbio mais baixa, mesmo com a conjuntura econômica complicada”.
Consorte acredita que a reunião do Copom deve elevar a Selic para 10,75% ao ano, trazendo a taxa aos dois dígitos após cinco anos.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em leve queda nesta quarta-feira (2), com mercado à espera da decisão do Copom, mas com apetite estrangeiro e produção industrial melhores do que o esperado.
O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 12,130% de 12,175% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 11,465%, de 11,640%, o DI para janeiro de 2025 ia a 10,990%, de 11,130% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,005% de 11,120%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar com vencimento para janeiro operava em alta, cotado a R$ 5,2770 para venda.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo positivo pelo quarto dia consecutivo, com o S&P subindo 0,94%, puxados pelos bons relatórios de balanços trimestrais de empresas de tecnologia, acima das estimativas do mercado, o que ofuscou os dados ruins da economia dos Estados Unidos.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices futuros de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: +0,63%, 35.629,33 pontos
Nasdaq 100: +0,50%, 14.418 pontos
S&P 500: +0,94%, 4.589,38 pontos