São Paulo – A bolsa encerrou os negócios em alta de 0,51% no primeiro pregão de setembro, aos 119.395,60 pontos, com o setor financeiro contribuindo para segurar o movimento positivo, as empresas ligadas às commodities apresentaram melhora e a Vale operou com muita volatilidade, fechando em queda.
Apesar da melhora na segunda metade do pregão, a Bolsa operou com muita volatilidade com os investidores cautelosos com o cenário doméstico. O Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, divulgado mais cedo, teve queda de 0,1%, abaixo das expectativas dos analistas e a crise hídrica preocupa com o impacto na inflação. Os riscos fiscais e políticos deixam o mercado atentos.
Segundo Flávio de Oliveira, head de renda variável da Zahl Investimentos, o setor financeiro e as varejistas “estão carregando o índice para patamares positivos”. Oliveira ressaltou que a Bolsa vem sofrendo nos últimos tempos com riscos políticos, fiscais, PIB abaixo do esperado e crise hídrica e descolando do exterior. “Essa alta faz o Ibovespa ficar um pouco em sintonia com o resto do mundo, uma vez que lá fora as bolsas têm performando bem”.
Para André Ribeiro, chefe de renda variável da Wise Investimentos, a Bolsa apresenta muita volatilidade e no início dos negócios o pano de fundo contrato no mercado externo foi atribuído ao movimento das commodities. “A pressão na abertura foi maior devido à pressão de papéis ligados às commodities, siderúrgicas apanhando bem, Vale e Petrobras caindo. O desempenho mais favorável do Ibovespa veio com bancos puxando e uma melhora das commodities, mas temos de acompanhar como as ações vão desenhar ao longo do pregão”.
Segundo Ribeiro, a crise hídrica está sendo muito observada pelo mercado e seus efeitos. “A gente não tem tanta visibilidade de como se comportará, depende de chuvas e isso tem gerado muita pressão na curva de juros e segue preocupando os agentes do mercado.”. Os juros altos impactam bastante o setor de varejo, shoppings e construção civil e nesse contexto o setor financeiro se defende melhor nesse cenário .
O chefe de renda variável da Wise Investimentos Mas, Ribeiro ressaltou que outros fatores continuam influenciando na Bolsa como riscos fiscais e turbulência na política. “Está todo mundo olhando pra frente para ver o que está se desenhando, temos incertezas em relação à inflação, crise hídrica , relação entre os poderes e a expectativa quanto ao 7 de setembro, embora ainda o mercado não esteja sendo impactado”, enfatizou.
Segundo uma fonte do mercado financeiro que não quis se identificar, as ações do setor financeiro estão sustentando a alta do pregão. “Os bancos dão continuidade ao movimento positivo de ontem e as commodities tentam se recuperar”.
Em um relatório divulgado hoje, os analistas da XP Investimentos fizeram novas projeções para a Bolsa e reduziram a pontuação do Ibovespa de 145 mil pontos para 135 mil pontos até dezembro. Os analistas reportaram que em agosto viram os mercados por aqui seguirem movimentos contrários ao exterior “devido aos riscos atrelados à trajetória fiscal futura, na medida em que o debate em relação às eleições foram antecipado”.
Nos Estados Unidos, segundo pesquisa ADP, o setor privado criou 374 mil vagas de emprego em agosto e os analistas previam a abertura de 600 postos de trabalho. Para o analista Leonardo Santana, da Top Gain, embora o dado tenha saído pior que a expectativa dos analistas, “animou o mercado porque mostra que o Jerome Powell [presidente do banco central norte-americano] vai ter de segurar um pouco a retirada de estímulos à economia”.
Em relação à Opep+, os membros do cartel concordaram em elevar para 400 mil barris por dia (bpd) a produção da commodity para outubro.
O dólar comercial fechou em R$ 5,1820, com alta de 0,19%. A moeda norte-americana operou em queda a maior parte do dia, mas as pressões dos resultados negativos do PIB do segundo trimestre deste ano, além das incertezas fiscais e crise energética contribuíram para essa virada no câmbio.
O economista da Renascença Corretora, Daniel Queiroz, é enfático: “Foi uma decepção do mercado com o PIB, fazendo com que várias casas revisem suas projeções para baixo. Além disso, o aumento da bandeira vermelha para R$ 14,20 para cada 100 kWh consumidos na conta de luz também pressiona a inflação e deixa o mercado alerta”, pontua.
“Mesmo dias que poderiam ser positivos, acabam sendo negativos”, diz Queiroz referindo-se às incertezas fiscais domésticas, como a rolagem dos precatórios e aumento do novo Bolsa Família. Ele também alerta para medidas “populistas” que visem as eleições de 2022 e comprometam o teto orçamentário.
Para o economista da Guide Investimentos, Alejandro Ortiz, “as depreciações maiores do real são evitadas pelas altas taxas de juros. Isso tende a aumentar o fluxo doméstico, favorecendo o real”.
Ortiz, porém, vê a retração trimestral do PIB como decepcionante: “Esperava-se um aumento de 0,2%, foi frustrante. Isso, sem dúvidas, tende a jogar contra a moeda”, pontua o economista.
As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em alta, mas longe das máximas do pregão, com os investidores repercutindo a crise hídrica, as incertezas políticas e o resultado de mais uma pesquisa eleitoral apontando para vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Com isso, o DI para janeiro de 2022 fechou com taxa de 6,805%, de 6,735% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 8,52%, de 8,47%; o DI para janeiro de 2025 ia a 9,56%, de 9,53% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 9,97%, de 9,93%, na mesma comparação.
Após oscilarem o dia todo entre perdas e ganhos, os principais índices do mercado de ações norte-americano terminaram a sessão sem uma direção comum em meio aos dados mais fracos do mercado de trabalho e ao avanço do setor de tecnologia, que ajudou o Nasdaq a fechar o dia em novo recorde.
Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
Dow Jones: -0,14%, 35.312,53 pontos
Nasdaq Composto: +0,33%, 15.309,40 pontos
S&P 500: +0,03%, 4.524,09 pontos