Em nenhum momento eu quis abreviar meu mandato, diz Campos Neto

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Roberto Campos Neto, Presidente do Banco Central do Brasil, apresenta o Balanço da Agenda BC#. (Foto: Raphael Ribeiro/ BCB)

São Paulo – Em coletiva realizada na unidade do Banco Central (BC), em São Paulo, no final desta manhã, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e o diretor de política econômico, Diogo Guillen, comentaram o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) e demais assuntos, incluindo os espinhosos, que afetam o cenário macroeconômico doméstico.

O RTI alterou a projeção de Produto Interno Bruto (PIB) de 2024, que saltou de 1,9% para 2,3%. O diretor do BC aproveitou para chamar a atenção de que alterações demográficas no Brasil têm contribuído para quedas na taxa de participação, o que deve se agravar nos próximos anos.

Já a projeção de crédito foi de 9,4% para 10,8%, impulsionada por programas de crédito
governamentais. Na comparação com o último RTI, a expectativa de inflação pulou de 3,79% para 3,96%, mostrando efeitos da desancoragem fiscal, apontou o documento. A taxa neutra de juros demonstrou relativa estabilidade.

Observando que a percepção sobre o cenário fiscal piorou, o diretor do BC voltou a falar que existe maior persistência no cenário de inflação global.

Tanto Neto quanto Guillen bateram na tecla de que o comunicado e ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) fizeram questão de mostrar que não existe guidance, deixando os próximos passos em aberto. O mandatário da instituição, porém, disse entender que aumentar os juros não é uma opção, no momento e que existe uma dupla desancoragem no cenário doméstico atual.

“Inflação baixa é a melhor política social que existe”, ponderou Neto, ainda dizendo que não cabe ao BC dizer se o fiscal melhorou ou piorou. Contudo, disse que no curto prazo houve uma defasagem dos  números que envolvem o fiscal, mas minimizou: “O importante para a gente é como isso afeta o mercado macroeconômico”.

Neto entende que o novo modelo da meta de inflação em nada muda o andamento da política monetária adotada, e que isso foi benéfico para imprimir estabilidade à precisão da meta.

Sobre a recente disparada do câmbio, disse que o patamar de R$ 5,50 incomoda, mas entende que isso é ruído político a curto prazo, e não vê necessidade de uma intervenção do BC para controle da moeda: “A gente entende que as atuações no câmbio têm que ser causadas por alguma disfuncionalidade no mercado cambial”, opina.

Ruídos políticos e Tarcísio

Porém nem tudo foram flores ou números para Neto. Na tentativa de cessar os rumores, ele disse que a última reunião do Copom demonstrou “espírito de equipe” entre os participantes, e descartou qualquer tipo de vazamento das informações discutidas pelo comitê.

O presidente do BC disse que Lula tem todo o direito de criticar não apenas o banco, mas
qualquer órgão público: “Nossa decisão é técnica e não tem nenhum cunho político. O tempo irá mostrar que fui 100% técnico. Entrar no debate político não é bom para o BC”, explanou. “Fizemos o maior aumento dos juros da história em um país emergente em ano eleitoral”, exultou.

Os boatos de que Neto poderia ter algum cargo no governo paulista ou até mesmo em uma hipotética candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, nas eleições
presidenciais de 2026, foram rechaçados: “Eu nunca tive nenhuma conversa com o Tarcísio sobre ser ministro de nada”, disparou.

Desconsiderando que Tarcísio necessite de conselhos políticos [“não entendo nada de política”], e justificando que compareceu ao jantar dado por Freitas, Neto assumiu que é amigo do governador: “Somos muito amigos, nossas famílias são próximas”.

Despistando sobre o que fará após a partir do 1º de janeiro de 2025, quando seu mandato
expirar, [“é razoável que no futuro eu junte algo com tecnologia e finanças”], Neto descartou abreviar sua saída do BC: “É importante frisar que em nenhum momento eu quis abreviar meu mandato. Tenho o dever de fazer uma transição suave, independente de quem seja meu sucessor”.