São Paulo – Em uma semana de muita turbulência no mercado financeiro, a Bolsa fecha pelo terceiro dia seguido em queda, perde mais de 2500 pontos frente a máxima do dia, em meio às especulações de nomes que poderão ocupar a pasta da Fazenda, como o de Fernando Haddad, que não agrada o mercado e preocupações com o cumprimento da responsabilidade fiscal por parte do novo governo eleito. A semana acumula perda de 3,01%.
Os investidores seguem com as atenções voltadas para a PEC de Transição, que devem sofrer ajustes. Na véspera o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, disse que o governo eleito vai cumprir com a responsabilidade fiscal, o que chegou a dar um alívio no início dos negócios.
As ações do setor de consumo e varejo, que são sensíveis a juros, têm mais um pregão de forte queda. Mais cedo, a fala do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmando que tem de aguardar o texto final da PEC da Transição para decidir sobre a Selic refletiu negativamente nas curvas de juros.
Os papéis das petroleiras caíram em linha com a queda do petróleo no mercado internacional. As ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) perderam 1,84% e 1,69%.
O principal índice da B3 caiu 0,75%, aos 108.870,71 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro perdeu 0,43%, aos 109.475 pontos. O giro financeiro foi de R$ 33,2 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em alta.
Ubirajara Silva, gestor da Galapagos, comentou que a Bolsa chegou a ter uma melhora na abertura, mas piorou ao longo do pregão com o mercado apreensivo com o descumprimento com o teto de gastos e com a futura equipe econômica.
“As notícias continuam preocupantes em relação ao fiscal, qual será a equipe econômica que vai assumir o novo governo e com o grupo de transição, essas preocupações duraram a semana inteira e devem prosseguir na semana que vem”.
Silva comentou que os papéis de siderurgia e mineração “pesam com a preocupação com o crescimento global”.
Cassiano Konig, sócio da GT Capital, comentou que “piorou os ânimos do mercado com os rumores de que o Haddad seria o principal nome cotado para a Fazenda”.
Konig afirmou que a falta de indicação da equipe econômica deixa o mercado volátil e “o cenário de incertezas e embates políticos vai longe e quem perde é o Brasil, que vinha despontando como um dos países favoritos para novos investimentos
Alison Correia, CEO da Top Gain, disse que existe uma aposta muito grande entre os analistas de que o Haddad seja o ministro da Fazenda.
“Quando toca nesse nome, o mercado estressa e é evidente que o mercado está muito sensível em meio a todos esses fatores da PEC e de quem vai assumir o ministério”. Correia disse que logo em seguida, a presidente do PT afirmou que não tem nada confirmado em relação ao Haddad e a Bolsa voltou um pouco.
Heitor Martins, especialista em renda variável na Nexgen Capital, comentou que a Bolsa chegou a abrir bem na sessão de hoje com a melhora do humor global, mas acabou devolvendo em meio “ao aumento da possibilidade de que Fernando Haddad ocupe o Ministério da Fazenda e comentários de Roberto Campos Neto [presidente do Banco Central] em que acredita em uma convergência do fiscal com a política monetária e, se isso não acontecer, o Banco Central vai reagir aumentando juros”.
O especialista em renda variável da Nexgen Capital também comentou os destaques positivos do Ibovespa como setor de saúde, como Hapvida (HAPV3) e Qualicorp (QUAL3), “as ações se recuperam e refletem a mudança de posição dos investidores, lembrando que esses ativos têm queda de 20% no mês”.
O dólar comercial fechou em queda de 0,55%, cotado a R$ 5,3780. A moeda apresentou leve correção após fala do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), ontem, que acalmou os mercados e apontou para um caminho de responsabilidade fiscal. Na semana, o dólar teve valorização de 1,0%.
De acordo com o sócio fundador da Pronto! Invest Vanei Nagem, “a alta do dólar foi muito exagerada para um governo que ainda nem começou. Daqui a pouco, se começar a sair nomes técnicos, esta alta do dólar vai diminuir. O anúncio dos ministros deve acontecer na segunda semana de dezembro”.
Para o economista e sócio da Valor Investimentos Davi Lelis “é importante separar o ruído – como a fala do Lula (PT) – das mudanças estruturais, que é o caso dos R$ 200 bilhões fora do teto de gastos. Vemos a volatilidade em curto prazo”. O economista entende que a fala de Alckmin dizendo que o governo terá responsabilidade fiscal e irá cortar gastos foi bem vista pelo mercado.
“Quanto menor o risco país, mais investimento ele traz. Não existe responsabilidade social sem responsabilidade fiscal”, opina Lelis.
Segundo o boletim da Ajax Asset, “lá fora, ativos de risco se recuperam, após as mensagens hawkishes (duras, propensas ao aumento de juros) dos diretores do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). Por aqui, enquanto os investidores acompanham as negociações em torno da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da transição no Congresso, ativos devem continuar com prêmios de risco elevados, ainda que não se descarte alguma recuperação temporária por conta do ambiente externo favorável”.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta após fala do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de que a PEC da Transição aumenta a dívida pública e incertezas fiscais interferem na
atuação do BC. O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,700% de 13,712% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 14,335%, de 14,150%, o DI para janeiro de 2025 ia a 13,715%, de 13,575% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 13,400% de 13,300%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em queda, cotado a R$ 5,3680 para venda.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo positivo, apesar de operarem com perdas ao longo da sessão, em numa semana que se encerra negativa para os índices após comentários mais duros de membros do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: +0,59%, 33.745,69 pontos
Nasdaq 100: +0,01%, 11.146 pontos
S&P 500: +0,47%, 3.965,34 pontos
Confira a variação dos índices na semana:
Dow Jones: -0,01%
Nasdaq 100: -1,59%
S&P 500: -0,69%
Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA.