Em sessão volátil, Bolsa fecha em leve alta de 0,16% em dia de queda de Vale e siderúrgicas; dólar cai

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São Paulo- Em uma sessão de bastante volatilidade, a Bolsa fechou em leve alta de 0,16%, procurou manter o patamar dos 120 mil pontos em um dia de queda forte de Vale VALE3), ação de maior peso no índice, e das empresas de commodities metálicas. Nem o otimismo externo e a recuperação da Petrobras (PETR3 PETR4) não conseguiram engatar o índice. Na semana, o Ibovespa caiu 0,02%.

A Usiminas (USIM5) liderou a queda no Ibovespa em 5,34%. A Vale (VALE3) e CSN (CSNA3) perderam respectivamente 3,96% e 2,18%. CSN Mineração (CMIN3) cedeu 1,15%.

As ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) subiram 1,69% e 1,25%. Bancos avançaram.

O balanço da Vale (VALE3) divulgado ontem após o fechamento, apresentou opiniões distintas no mercado. A empresa reportou lucro líquido de US$ 892 milhões, queda de 78,2% no segundo trimestre, enquanto a receita líquida encolheu 13,3%, para US$ 9,67 bilhões. Mas a Vale anunciou mais de R$ 8 bilhões em juros sobre o capital próprio (JCP), correspondente ao valor total de R$ 1,91 por ação.

Hoje antes da abertura, foi a vez da Usiminas (USIM5) apresentar o resultado do 2T23. A companhia registrou lucro líquido de R$ 287 milhões no 2T23, queda 73% na comparação ao mesmo período do ano passado, com lucro de R$ 1,060 bilhão. Em relação ao primeiro trimestre deste ano, o lucro líquido da empresa apresentou recuo de 47%. O resultado está impactando nas ações e no setor.

Mais cedo, nos Estados Unidos, o índice de preços para os gastos pessoais (PCE, sigla em inglês) subiu 0,2% em junho na comparação mensal, após registrar alta de 0,1% em maio. Na comparação anual, o índice subiu 3,0% em junho, após uma alta de 3,8% em maio. Já o núcleo do PCE subiu 0,2% em comparação mensal, em linha com o consenso do mercado, e avançou 4,1% em termos anuais em junho, e em termos anuais levemente abaixo das expectativas.

O principal índice da B3 subiu 0,16%, aos 120.187,11 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto avançou 0,59%, aos 120.925 pontos. O giro financeiro foi de R$ 19,1 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em alta.

Beto Saadia, economista e sócio da Nomos, disse que a Bolsa buscou manter o patamar dos 120 mil pontos e a queda da Vale “exerceu grande influência sobre o desempenho do Ibovespa, natural para uma ação que detém peso acima de 13% na composição do índice, penalizada pela repercussão negativa ao balanço do 2T23, que seguiu prejudicado por preços baixos dos metais, além da produção e vendas estagnados”.

Vinícius Steniski, disse que o está Ibovespa neutro com os resultados fazendo preço. “Estamos em temporada de balanços, com o Vale aquém do esperado e hoje a ação cai; as estimativas de custo/caixa [da mineradora] aumentaram em 10% e isso vai prejudicar as margens no futuro; a Usiminas também reportou resultado negativo; na semana Carrefour e Assai reportaram bons números”.

Leonardo Piovesan, CNPI e analista da Quantzed, o Ibovespa tem um dia de volatilidade, com destaque “para queda das ações do setor de mineração seguindo os pares internacionais; o recuo do minério de ferro afeta as empresas como Vale, Usiminas, SCN e Gerdau com notícias da China de possíveis cortes de siderúrgicas que produzem aço significa menor demanda pela commodity”.

Piovesan disse que no caso da Usiminas, umas das empresas que mais caem no Ibovespa, “o resultado abaixo do esperado com aumento muito forte da alavancagem afeta a ação”.

Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, disse que o Ibovespa tem uma leve correção, após cinco dias de forte alta, e pesa as ações de Vale e siderúrgicas por questões internacionais e mercado digere balanço.” A falta de clareza de política de estímulos da China pressiona o minério de ferro e reflete na Vale, além de absorver o balanço, as siderúrgicas estão mal e o balanço da Usiminas ruim acaba poluindo o setor; a Petrobras está se recuperando, mas ainda aquém do esperado. Hoje temos uma correção de forma mais moderada no Ibovespa, mas não muda o panorama geral, ainda estamos construtivos”.

Em relação ao balanço da Vale, Spiess ressaltou que o resultado foi bom. “A venda de cobre e níquel, a distribuição de JCP mais de R$ 8 bilhões são positivos, resultado difícil como sabíamos em termos relativos, mas em linha como poderíamos pressupor a partir do relatório operacional [divulgado na semana passada] e não tão ruim como o balanço do 1T23; vejo a companhia vai mostrando resiliência e é mais questão internacional dos investidores achando motivo para ajustar posição em Vale, a companhia segue barata”.

Os dados PCE nos Estados Unidos, divulgados mais cedo, mostram uma pausa nos juros por lá, mas o analista da Empiricus Research chama a atenção para o evento da próxima semana [dias 01 e 02] por aqui, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) e nas condições atuais com a desaceleração da inflação, ele aposta em um corte de 0,50 ponto porcentual (pp).

Bruno Komura, analista da Potenza Investimentos, o Ibovespa futuro abriu em alta refletindo o balanço da Vale “apesar de ruim, apresentou boa geração de caixa, com distribuição de JCP e as vendas de mais de 10% de materiais básicos para fundo saudita são positivas, além disso tem forte comprador de Brasil na Bolsa”.

Em relação à inflação nos Estados Unidos, Komura disse que “a maior parte dos dados veio em linha com o mercado, o destaque é o núcleo PCE, que ficou levemente abaixo das expectativas; o dado confirma o otimismo do mercado e acredita que as apostas em mais um alta dos juros devem cair”.

O dólar comercial fechou em queda de 0,56%, cotado a R$ 4,7310. A moeda, que chegou a quebrar os R$ 4,70 na parte da manhã, refletiu os indícios de que a inflação norte-americana está controlada, o que pode fazer com que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) pause ou até encerre o ciclo contracionista. Na semana, o dólar teve desvalorização de 1,05%.

O sócio da Top Gain Leonardo Santana, destaca a euforia do mercado norte-americano, o que faz com que a divisa estadunidense perca tanto para seus pares quanto para as moedas emergentes.

“Estamos otimistas. O mercado está de olho na taxa de juros dos Estados Unidos, e o índice de preços para os gastos pessoais (PCE) veio legal”, analisa Santana.

Na comparação mensal, o PCE teve alta de 0,2% (em linha com as projeções), enquanto no comparativo interanual a elevação foi de 3,0% (expectativa de +3,1%). Já o núcleo do PCE, que exclui os preços de alimento e energia, subiu 0,2% em junho ante maio (em linha com as expectativas do mercado) e 4,1% em base anual, abaixo das projeções de +4,2%.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em alta, puxadas pela percepção do mercado de que o Comitê de Política Monetária (Copom) poderia começar o ciclo de cortes da Selic (taxa básica de juros) em 0,50 pontos porcentuais.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,615 % de 12,615% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,630 % de 10,605%, o DI para janeiro de 2026 ia a 10,110 %, de 10,075 %, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,195 % de 10,155 % na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão desta sexta-feira em alta, após novos dados indicarem uma queda na inflação e relatórios de lucros mais fortes do que o esperado, impulsionando as perspectivas de o país evitar uma recessão.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,50%, 35.459,29 pontos
Nasdaq 100: +1,90%, 14.316,7 pontos
S&P 500: +0,98%, 4.582,23 pontos

 

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Larissa Bernardes / Agência CMA