Em véspera de feriado, Bolsa fecha em forte queda e dólar sobe com tom duro de Campos Neto

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São Paulo- Em véspera de feriado do Dia da Independência, a Bolsa fechou em forte queda, com intensidade maior que o exterior, com os investidores digerindo mal as declarações de ontem do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre a taxa básica de juros. Com isso, os DIs subiram e impactaram as ações de consumo, sensíveis a juros.

Somado a isso, os agentes financeiros mantiveram cautela em relação às manifestações programadas para amanhã (7) e os desfechos e, também, contou a pesquisa eleitoral mostrando queda do presidente Jair Bolsonaro.

Diante disso, as ações das estatais como Petrobras (PETR3 e PETR4) e Banco do Brasil (BBAS3) caíram 3,52% e 3,69%, 4,80%. A ação de maior peso no índice, a Vale (VALE3), também despencou 2,37%.

O principal índice da B3 caiu 2,17%, aos 109.763,77 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro perdeu 2,30%, aos 110.940 pontos. O volume financeiro foi de R$ 27,2 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em baixa.

Marcelo Oliveira, CFA e fundador da Quantzed, disse que a fala de Roberto Campos Neto que ainda considera que pode ter mais uma alta nos juros e não vê que a Selic caindo tão cedo “deu um banho de água fria na Bolsa”.

Além disso a queda do Bolsonaro nas pesquisas também pesou “nas estatais como Petrobras e Banco do Brasil e o varejo cai por conta dos DIs subindo com a fala de RCN”, completou.

Matheus Spiess, analista da Empiricus, disse que em véspera de feriado tem aversão a risco e ajuste de posição para não “dormir comprado”, principalmente com o cenário internacional atual incerto, mas a queda na Bolsa chama a atenção para os papéis mais consolidados caindo bastante.

“Tem uma narrativa local com a tensão do 7 de setembro, pesquisas eleitorais e discussão política refletindo nas ações das estatais e mais tradicionais como Banco do Brasil e Petrobras, além da queda do petróleo”.

Por outro lado, Spiess acredita que o mais importante a fala de Roberto Campos Neto em que “os vértices mais curtos [DIs] subindo mais que os mais longos e impactando nas ações de consumo, papéis que sofreram bastante recentemente”.

O analista da Empiricus também acrescentou que “existe uma tensão no com a expectativa da reunião de política monetária na zona do euro, que vai ser agressiva, livro bege amanhã [7] que a gente não vai poder reagir e fala do Powell na quinta [8]”.

Mais cedo, uma fonte que não quis se identificar se identificar, disse que a fala de Campos Neto “assustou o mercado com a possibilidade de um aumento na Selic em setembro impactando os juros futuros e as empresas ligadas ao consumo sofrem”. As varejistas e construtoras caíam.

A fonte acrescentou que os indicadores norte-americanos ajudaram a “piorar o humor do investidor e as bolsas lá fora passaram a cair respingando aqui”.

Mais cedo, Nicolas Farto, especialista em renda variável da Renova Invest, disse que a fala de Campos Neto deve contribuir para uma abertura mais negativa na Bolsa, além da queda do petróleo “visto o forte peso da Petrobras e como é véspera de feriado e tem o evento do 7 de setembro, no ano passado foi polêmico, muitos investidores não vão querer ficar posicionado e passar o dia sem liquidez, e isso pode prejudicar a sessão”.

Farto também afirmou que esse pessimismo também reflete a expectativa dos investidores para a decisão do banco central europeu sobre a taxa de juros, na quinta-feira (8) e fala do Jerome Powell na semana. “Os investidores não querem ficar posicionados e serem pegos de surpresa”.

Mas, ressaltou que ao longo do dia, a Bolsa pode virar “com o exterior positivo e ir incorporando as notícias econômicas”.

O dólar comercial fechou em alta de 1,66%, cotado a R$ 5,2390. O movimento de forte aversão global ao risco foi causado pelas incertezas na China e Europa. Além disso, as sinalizações de que o Banco Central (BC) continue com uma postura agressiva no combate à inflação também ajudaram a derrubar ainda mais a moeda brasileira.

Para o analista da Ouro Preto Investimentos, Bruno Komura, “o Brasil hoje está destoando, até pior que o resto. O investidor estrangeiro está parando de entrar com o dólar, e o (presidente do BC) Roberto Campos Neto sinalizou que o combate à inflação vai ser duradouro, em um tom mais hawkish (duro)”.

Komura também entende que a atividade econômica dos Estados Unidos, que continua aquecida, sugere um Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) mais duro na reunião deste mês. O índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) nos Estados Unidos foi de 43,7 pontos em agosto.

“Enquanto não achamos que os Estados Unidos não vemos uma recessão iminente, na Europa a recessão técnica deve se oficializar após o inverno”, analisa Komura.

Segundo o sócio fundador da Pronto! Invest, Vanei Nagem, “a deterioração do yuan pode enfraquecer mais os emergentes”.

“A crise energética com a Rússia praticamente cortando o fornecimento de gás para a Europa, em especial na Alemanha, afeta ainda mais o cenário do bloco europeu”, explica Nagem, que também ressalta que o aumento dos juros no continente deve retirar investimentos das economias em desenvolvimento, como o Brasil.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) operam em alta após fala de diretores do Banco Central e percepção de piora generalizada.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,745% de 13,710% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,100%, de 12,825%, o DI para janeiro de 2025 ia a 11,935%, de 11,695% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,625% de 11,450%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam em queda, num pregão de alta volatilidade ao longo do dia, com Wall Street digerindo os recentes dados econômicos positivos da economia norte-americana, o que pode representar a continuidade do aperto monetário promovido pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,55%, 31.145,30 pontos
Nasdaq 100: -0,74%, 11.544,9 pontos
S&P 500: -0,40%, 3.908,19 pontos

 

Com Paulo Holland e Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA