Conhecimento da indústria de óleo e gás é base para eólica offshore

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São Paulo – O papel essencial do setor de Petróleo e Gás para a indústria de geração de energia eólica offfshore é a transmissão de conhecimento sobre o ambiente, ou seja, o alto mar. Isso é o que foi explicado pelos especialistas em painel realizado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP)em painel sobre o assunto nessa terça-feira.

A Gerente de Programa de Tecnologia para Energia Renovável da Shell, Camila Brandão, indica que os pilares de tecnologia que dão suporte a essa nova indústria são a redução de custo e a melhora da eficiência – sem esquecer da sustentabilidade dessa tecnologia, especialmente no desenvolvimento da cadeia de fornecedores no Brasil.

A executiva se mostrou otimista com o fato de poder contar com novo aporte de verbas da ANP, em referência a uma parceria citada por Alfredo Renault, Superintendente de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da ANP, moderador do painel.

“Estou há quase 20 anos na indústria de óleo e gás e a primeira coisa a se fazer é entender o seu recurso: qual a natureza do petróleo, tipo de óleo, o tamanho do reservatório etc. O mesmo deve ser feito na indústria eólica. Estamos pensando numa estratégia que prime por abordar e entender o nosso recurso eólico no Brasil”, disse Camila.

“Temos tido conversas intensas com a ANP para termos mais entendimento e inteligência sobre o que é o nosso recurso offshore, qual a tecnologia mais adequada para aproveitar essa costa litorânea imensa que temos.”

Camila lembrou que o fato de ser tão grande implica em uma diversidade de climas: no Nordeste, são mares de água quente, no sul, água fria – e com maior probabilidade, inclusive, de tufões. Não daria, por exemplo, para levar essa tecnologia do Norte para o Sul do Brasil. “Não é economicamente viável levar uma pá de 100 metros de altura por via rodoviária. Temos que ter tecnologias adaptadas à realidade do Brasil e uma cadeia de desenvolvedores estruturada. Não é uma indústria que vai acontecer no ano que vem, mas vai acontecer e precisa que seja da melhor possível.”

André Leite, VP de negócios e responsável pela gerência de Eólicas Offshore da Equinor, em concordância com a especialista da Shell, disse que vê conexão entre a eletrificação dos poços de petróleo e o eólico offshore. “O eólico offshore pode ser usado como ferramenta de descarbonização do processo produtivo de produção da energia, mas também voltada para mandar energia para o mercado”, disse Leite, representante de mais uma empresa de energia que trouxe o seu know-how do petróleo e gás.

“Fomos uma das primeiras empresas a sair do óleo e gás e indo para a energia em 2021, quando isso ficou bem claro”, disse ele, que também citou a importância da cadeia de fornecimento para o desenvolvimento dessa indústria. “Cerca de 50% das tecnologias que vão viabilizar esse futuro estão por vir ou ainda são desconhecidas, e já vislumbramos um início de gargalo de fornecimento para 2025.”

“Nós temos depósito de carbono na Amazônia, hidrelétricas, energia eólica onshore (em terra) e offshore (no mar). Pode ser visto como posicionamento estratégico não ter demanda tão grande interna, porque [o Brasil] tem potencial de virar exportador”, disse o executivo da Equinor.

“Nós achamos que a tecnologia tem de ser desenvolvida e tem de manter esses investimentos para redução de custos e descobrir a rota de mercado: vender pra quem? A que valor? Que volume?”, ele questiona. “Não vamos vender só elétron, vamos vender molécula de hidrogênio verde”, projeta. “Dá para olhar o Brasil como um sistema completo com suas complementaridades regionais, interação entre fontes renováveis e complementaridades geográficas.”

Leite contou que a Equinor está eletrificando dois campos de Petróleo na Noruega, que serão complementados pelos geração de bordo de FPOS e incentiva fazer o mesmo aqui: “Com eletrificação de campos de óleo e gás para podermos ter um ‘showcase’.”