São Paulo – Para o presidente Global Wind Energy Council (GWEC) para a América Latina, Ramón Fiestas, não é possível realizar a transição energética para uma geração mais limpa sem o eólico offshore (fonte de energia que se obtém a partir do aproveitamento da força do vento que sopra em alto-mar).
Segundo ele, 2021 foi um ano recorde para a energia eólica offshore, que gerou mais de 21 gigawatts (GW) e agora está perto de 56 GW no mundo todo. “Isso é mais do que toda a fonte eólica do que temos onshore”, ele aponta.
Fiestas diz que o GWEC calcula que para essa década devemos chegar a cerca de 30 GWpor ano de capacidade instalada, que nem se aproxima à meta de 80 GW por ano. “Não temos tempo para desperdiçar. Precisamos trabalhar o desenvolvimento offshore paralelamente à questão onshore (quando a energia elétrica é gerada a partir do vento que sopra em localizações em terra)”, conclui.
Durante evento sobre energia eólica Brazil Wind Power, que começou nesta terça-feira, em São Paulo (SP), especialistas mostraram preocupação sobre o papel das fontes renováveis na redução das emissões de gases de efeito estufa, para limitar o aquecimento global em 1,5º até 2030, como o Brasil concordou, juntamente com outras 194 nações durante o Acordo de Paris. Já se fala, inclusive, em restrição para menos de 2º C, porque a 1,5º já seria impossível.
Para o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena), Francesco La Camera, ainda não existe um entendimento claro da velocidade necessária de aumento de implementação da capacidade instalada. Além disso, ele aponta o desalinhamento entre as políticas climáticas e as políticas públicas de cada país.
“Temos que chegar a 800 GW de capacidade instalada no ano para chegar à meta do acordo de Paris em 2030 , diz. Estamos deixando uma crise climática enorme e vasta que está criando uma enorme crise econômica também. E, pior, no momento que ainda estamos tentando nos recuperar de uma pandemia”, lembra.
Segundo Camera, é preciso adaptar as regras a todas as fontes de energia. “A crise da inflação pela qual estamos passando foi causada, principalmente, pelos altos preços do gás. Isso não acontece com a energia eólica porque nós conseguimos oferecer um preço fixo por 20 anos.”
O especialista também destaca a excelente contribuição da indústria de energias renováveis ao Produto Interno Bruto (PIB) e empregos – no Brasil, ele estima que 10% dos empregos sejam providos por este setor. “É urgente mudar nosso caminho em relação ao modo que produzimos e utilizamos energia. No futuro, a energia nos sistemas será suplementada por biomassa, hidrogênio verde e energia eólica, ressaltou, pontuando que os preços têm sido reduzidos ano a ano.”
Indústria de commodities está ansiosa para contratar energia eólica
A presidente executiva da ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica), Elbia Gannoum, a entidade trabalha em um processo de estabilidade regulatória para facilitar a atração de investidores à fonte eólica offshore.
Estamos trabalhando na base regulatória do eólico offshore para atender ànossa matriz energética brasileira e global”, diz. “Temos muitos projetos em carteira, mas agora o nosso desafio é o mercado: não temos mercado suficiente para todos os projetos que temos.
A executiva destaca a importância de diversificar a matriz energética como um todo, especialmente na indústria de commodities que, segundo ela, está ansiosa por contratar a fonte eólica por ser limpa e competitiva. Ela também estima que, nos próximos anos, a fonte energética da vez será o hidrogênio verde.
Transição energética justa não deve criar mais desigualdades
Uma transição energética justa não gera mais desigualdade e desequilíbrio do que já existe. Essa é a avaliação de Amanda Ohara, Coordenadora de Iniciativas do Portfólio de Energia do Instituto Clima e Sociedade (ICS).
De acordo com a especialista, pelo perfil do sistema elétrico brasileiro, os reservatórios hidrelétricos devem ser vistos como a bateria do sistema e a revitalização das bacias hidrográficas seria mais uma forma de gerar empregos e fonte de renda.
Amanda explica que são muitos os empregos que poderão serão gerados a partir da transição energética e energias renováveis, ainda mais em momentos como o atual, de crise global. “Claro que sabemos que isso tem que acontecer de forma muito rápida por conta da emergência climática, mas onde isso vai ser implementado já tem gente e já tem natureza”, ela pondera. “Por isso, esse processo tem que acontecer de uma maneira na qual respeite as pessoas e os biomas, para que não agrave ainda mais os problemas que já há na sociedade. A ideia é fazer de uma maneira que gere impactos positivos para a sociedade”, conclui.
A repórter cobriu o painel sobre a expansão do setor eólico e o caminho para um futuro net zero, no congresso do Brasil WindPower, que começou hoje em São Paulo (SP).
Revisão e edição: Cynara Escobar / Agência CMA.