São Paulo – O Comitê de Política Monetária (Copom) sinalizou nas duas últimas reuniões a interrupção do ciclo de cortes na taxa básica de juros, iniciado em julho do ano passado. Mas assim como precisou rever essa posição em março, promovendo uma queda adicional de 0,50 ponto percentual (pp) em meio à escalada da crise de coronavírus no mundo, o mercado financeiro prevê que o Banco Central irá mudar de ideia novamente neste mês, reduzindo a Selic para 3,25% e deixando a porta aberta para uma continuidade do movimento à frente.
“O Copom indicou explicitamente no comunicado após sua última reunião que considerava adequada a estabilidade da Selic no patamar atual, de 3,75%. No entanto, dado o cenário benigno da inflação e a queda acentuada da atividade nos próximos meses, há espaço para mais cortes nos juros”, avalia o economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita, em relatório. Para ele, o juro básico deve encerrar o ano em 2,5%.
Na mesma linha, o economista do Banco BTG Pactual, Claudio Ferraz, observa que a deterioração do ambiente global e a forte desaceleração da economia doméstica deixam a porta aberta para mais ação. “Para mitigar os efeitos da pandemia, o Copom tem espaço para ir além”, observa, acrescentando que prevê um ajuste residual de 0,25 pp em junho, com a Selic chegando ao final de 2020 em 3%.
Nesse sentido, o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, lembra que o BC revisou a previsão para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2020 para zero, mas já apresentou cenários em que a queda pode ser de 5%. “Diante do risco de piora mais intensa da atividade econômica, o plano de voo pode ser reavaliado, com novas quedas de juros”, afirma. Para ele, o cenário de Selic a 3% no fim do ano embute um viés de baixa.
RUÍDOS POLÍTICOS
Porém, a crise política deflagrada com o pedido de demissão do então ministro da Justiça, Sergio Moro, pode trazer ventos contrários ao BC, uma vez que ela ocorre em um momento muito ruim, no qual as perspectivas econômicas e fiscais pioraram em meio à disseminação do coronavírus. “Isso pode afetar a decisão do Copom sobre a taxa básica de juros neste mês”, avalia o analista do Société Générale, Dev Ashish, em comentário.
Para o economista da Guide Investimentos, Victor Beyruti, talvez seja mais adequado a autoridade monetária segurar a Selic, em meio às incertezas políticas no país. “A mais nova crise política deve continuar promovendo cautela e o mercado se prepara para um longo período de instabilidade, com os investidores avaliando a governabilidade do [presidente Jair] Bolsonaro”, diz.
Assim, por mais que a inflação esteja girando próxima ao piso da meta (2,5%) e a recessão econômica possam levar o Copom a reduzir a taxa Selic para 3,25% em maio, o cenário político local pede cautela. “A atual tensão política aumenta o risco de um desvio fiscal, o que pode levar o BC a encerrar o ciclo de flexibilização”, ponderam os economistas do Banco MUFG Brasil, Carlos Pedroso e Maurício Nakahodo.