São Paulo – A secretária do Tesouro norte-americano, Janet Yellen, defendeu uma política fiscal ambiciosa para lidar com questões econômicas que já obstruíam a capacidade dos Estados Unidos de crescer mesmo antes da pandemia de covid-19 durante depoimento ao Comitê Financeiro do Senado do país sobre o orçamento.
“Precisamos fazer esses investimentos em algum momento e agora é fiscalmente o momento mais estratégico para fazê-los. Esperamos que o custo do pagamento da dívida federal permaneça bem abaixo dos níveis históricos ao longo da próxima década. Temos uma janela para investir em nós mesmos”, afirmou.
No final de maio, o presidente norte-americano, Joe Biden, apresentou formalmente sua primeira proposta orçamentária, que compreende ano fiscal de 2022 – com início em 1 de outubro de 2021 – e está estimada em US$ 6 trilhões.
A proposta orçamentária de Biden projeta um déficit de US$ 1,84 trilhão no ano fiscal de 2022, o que equivale a 7,8% do Produto Interno Bruto (PIB), ante um déficit de US$ 3,67 trilhões no exercício fiscal de 2021, quando esforços do governo para combater a pandemia de covid-19 aumentaram os gastos federais.
A dívida pública aumentaria para 111,8% do PIB em 2022, superando o nível visto na esteira da Segunda Guerra Mundial. A dívida continuaria a aumentar nos anos seguintes, atingindo 117,0% do PIB em 2031.
“Na verdade, esse orçamento é tanto fiscalmente estratégico quanto fiscalmente responsável. Ele se paga por meio de uma reforma há muito esperada do código tributário que o tornará mais justo, sem tocar a vasta maioria dos norte-americanos, aqueles que ganham menos de US$ 400.000 por ano”, disse Yellen.
A proposta orçamentária de Biden depende de aumentos de impostos corporativos para pagar pela infraestrutura e impostos para os norte-americanos mais ricos para cobrir os gastos familiares e iniciativas de educação.
Segundo o plano, a alíquota do imposto corporativo subiria de 21,0% para 28,0%, a alíquota do imposto sobre ganhos de capital passaria de 23,8% para 43,4% e os ganhos não realizados seriam tributados no momento da morte, com isenção de US$ 1 milhão por pessoa.
“O orçamento, que inclui os planos de empregos e famílias, vai consertar as fundações fraturadas de nossa economia. Isso é feito por meio de uma série de políticas inteligentes, incluindo creche e licença remunerada para que mais pais possam ingressar na força de trabalho; uma modernização em massa – e ecologização – da infraestrutura para estimular o comércio e reduzir as emissões; um investimento para disponibilizar habitação e educação a todos”, afirmou Yellen.
No discurso de abertura, a secretária do Tesouro disse que a desigualdade salarial, a queda da participação da força de trabalho, a desigualdade racial e o clima são problemas que já pesavam sobre a economia dos Estados Unidos antes da pandemia e afirmou que só investimentos poderiam resolver essas questões.
“Existem razões claras para essas forças destrutivas infeccionarem. O setor privado não faz o suficiente com os tipos de investimentos necessários para revertê-los – programas de treinamento que podem levar a salários mais altos; assistência à infância e licença remunerada que ajudariam as pessoas a se reintegrarem ao mercado de trabalho; ou infraestrutura que reduziria as emissões de carbono e estimularia o crescimento em comunidades negligenciadas. Por 40 anos não fizemos isso. Não tanto quanto deveríamos”, completou.