Euro e dólar ficam no mesmo patamar pela primeira vez na história

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São Paulo, 22 de agosto de 2022 – No ano em que completa 20 anos da sua criação, o euro enfrenta turbulências. Moeda do bloco vizinho a um conflito entre Rússia e Ucrânia, que já dura meses, pela primeira vez em sua trajetória seu valor foi igualado ao dólar. Claro que este pode ser um movimento passageiro, mas tudo indica que o significado vai além, com um novo rearranjo de forças tanto financeiras quanto geopolíticas.

 

Em tempos pandêmicos, que se arrastam há quase dois anos e meio, as incertezas fazem com que investidores busquem segurança: “O iene, dólar e franco suíço são portos-seguros”, explica o analista da Ouro Preto Investimentos, Bruno Komura.

 

Gás russo e transição energética

 

Mas o problema vai além da força da moeda. A Europa tem forte dependência do gás russo, e com as sanções impostas à Rússia colocou-se em xeque a capacidade do bloco atingir uma recuperação econômica. “Para já, o desafio é conseguir o máximo de gás para o inverno, isso sem contar que a indústria alemã é especialmente dependente do gás”, contextualiza Komura.

 

Neste contexto, o tema da transição energética, que vem sendo discutido há anos no Velho Continente, ganha caráter de urgência: “Esse é um processo que leva anos, não meses”, pondera a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack.

 

“É preciso acelerar a transição energética. Foi um erro da Alemanha acabar com as usinas nucleares e depender apenas do gás russo. Atualmente, o nível de segurança das usinas nucleares é muito alto, além da energia ser uma das mais baratas”, opina Komura, que completa dizendo que o gasto para agilizar este processo deverá ser alto, criando uma ‘inflação verde’.

 

Dívidas e passagem de bastão

 

A situação, porém, vai além desta transição que, por mais que demore, deve ser finalizada nos próximos anos. “O diferencial da capacidade de política monetária entre o euro e o dólar é o diferencial, e ficamos na eminência do euro ficar até abaixo do dólar”, observa Abdelmalack.

 

A economista explica que o bloco possui unidade monetária, mas não fiscal, o que pode fazer com que “fantasmas” de dívidas da última década assolem o continente neste momento tão delicado. Os próximos passos do BCE serão cruciais para traçar um caminho mais claro dos capítulos subsequentes deste imbróglio. “A Europa demorou muito para começar conter a inflação”, opina o head de câmbio da Ethimos Investimentos, Lucas Brigato.

 

Outro ingrediente desta sopa de variáveis é a ‘passagem de bastão’ no protagonismo global. Abdelmalck entende que a aproximação da China com a Rússia dá vantagem ao país asiático, que pode ter acesso ao petróleo a um custo mais acessível, e que a Europa sai como a grande prejudicada neste braço de ferro.

 

Komura segue a mesma linha, e acredita que a China deve acentuar a polarização do poder mundial com os Estados Unidos, relegando a Europa a um papel de menor protagonismo.

 

“É bem provável que haja uma reconfiguração de poder, o que também pode se traduzir em mais equilíbrio no poder de barganha, favorecendo outros países, como o Brasil”, projeta Brigato.

 

Acompanhe no link abaixo a edição do Programa CMA Entrevista com Alex Lima, estrategista-chefe da Guide Investimentos, tratando sobre o assunto:

Paulo Holland / Agência CMA

Edição: Dylan Della Pasqua / Agência CMA

 

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