Expectativa por estímulo nos EUA faz Bolsa subir e dólar cair

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São Paulo – O Ibovespa encerrou em alta pelo quarto pregão consecutivo – sequência que não ocorria desde o início de julho – ao subir 1,35%, aos 101.917,73 pontos, no maior patamar desde o dia 1 de setembro (102.167,65 pontos). A expectativa por um acordo para aprovar um pacote de estímulos econômicos nos Estados Unidos e a alta de ações de bancos e da Petrobras impulsionaram o índice, apesar de ainda existirem incertezas no cenário. O volume total negociado foi de R$ 28,2 bilhões.

No exterior, a presidente da Câmara dos Deputados, a democrata Nancy Pelosi, disse que ainda acredita na possibilidade de aprovação de um pacote de estímulos antes das eleições presidenciais do dia 3 de novembro. Segundo ela, as diferenças com republicanos estão diminuindo. No entanto, a demora pela aprovação ainda deixa o mercado receoso. As Bolsas norte-americanas fecharam em sua maioria em leve alta.

Para o analista da Necton Corretora, Rodrigo Barreto, será importante se sair um pacote de estímulos no país, com o índice já precificando que pode sair alguma coisa ainda nesta semana, mas ressalta que ainda há muita incerteza.

Além disso, destaca que o índice já subiu de 98 mil a quase 102 mil nesta semana, o que pode chamar realizações de lucros em um cenário ainda de cautela, lembrando ainda que hoje à noite há novo debate entre o presidente Donald Trump e o candidato democrata Joe Biden. “Acredito que a região em torno dos 102,5 mil pontos pode atrair força vendedora, ser uma região de briga”, disse.

Outro fato apontado pelo analista como motivo da recuperação de hoje e dos últimos dias são as ações de bancos. “O setor de bancos está sustentando a alta do Ibovespa hoje e nos últimos dois, três dias. Ele tem grande peso no índice e há uma leitura de que eles podem apresentar resultados melhores, que talvez tenham sido muito pessimistas na última previsão sobre provisões para devedores duvidosos”, afirmou.

Ao lado dos bancos, ficaram as ações da WEG (WEGE3 5,10%), que já mostrou um balanço forte essa semana, e da Petro Rio (PRIO3 4,67%), que assim como a Petrobras (PETR4 3,32%) acelerou ganhos na esteira dos preços do petróleo. Na contramão, as maiores quedas do índice foram da Cogna (COGN3 -2,38%), da B2W (BTOW3 -2,37%) e da BrMalls (BRML3 -2,38%).

O analista de investimentos do banco Daycoval, Enrico Cozzolino, destaca que a temporada de balanços já vem mostrando resultados positivos e papéis como os de bancos estavam mais baratos, capitaneando a melhora do humor vista essa semana. Para Cozzolino, ainda ajudou na alta dos últimos dias, a menor preocupação com a situação fiscal doméstica por enquanto, com declarações reiterando compromisso com o teto de gastos. “O discurso mudou um pouco”, observa.

Amanhã, investidores ficarão atentos a repercussões do debate presidencial norte-americano, assim como na continuidade das negociações sobre estímulos. Entre os indicadores, o foco serão PMIs de indústria e serviços nos Estados Unidos, Alemanha e eurozona. No Brasil, o IPCA-15 deve ser observado.

O dólar comercial fechou em queda de 0,37% no mercado à vista, cotado a R$ 5,5950 para venda, em sessão de volatilidade e com investidores à espera de novidades nas tratativas em torno de um novo pacote de estímulos nos Estados Unidos. Apesar da presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, afirmar que democratas e republicanos estão estreitando as diferenças sobre o acordo, avanços ainda não foram anunciados.

O gerente de mesa de câmbio da Correparti, Guilherme Esquelbek, reforça que o movimento de queda da moeda ao longo da segunda parte dos negócios acompanhou as sinalizações positivas para aprovação do acordo dadas por Pelosi em uma entrevista no início da tarde, no qual disse ser “possível aprovar estímulos antes das eleições” presidenciais, em 3 de novembro.

“O viés de queda voltou na parte da tarde acompanhando o exterior em meio às sinalizações positivas sobre o pacote, chegando a trabalhar abaixo do nível de R$ 5,57”, comenta. A moeda norte-americana renovou mínimas sucessivas a R$ 5,5640 após as declarações da presidente da Câmara.

O economista da Guide Investimentos, Alejandro Ortiz, reforça que o otimismo persiste no mercado em meio à um novo pacote de estímulos em vista, apesar de apostar que a possibilidade de aprovação de uma ajuda à economia norte-americana antes das eleições é “nula”.

Mais tarde, tem o último debate entre o presidente norte-americano, Donald Trump – que tenta a reeleição – e o candidato democrata Joe Biden, que tem aparecido com uma pequena vantagem nas pesquisas de intenção de votos.

Para a equipe econômica do Banco Fator, o desempenho dos candidatos pode “agitar opiniões” e refletir no mercado amanhã, dia de divulgação das prévias de outubro dos índices dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) da atividade industrial e de serviços dos Estados Unidos, da zona do euro e da Alemanha.

Enquanto isso, prossegue “o precário” encaminhamento do pacote fiscal e das incertezas com a eleição, destacam os analistas do banco. “O movimento não deve ser diferente [de hoje] em relação ao pacote de estímulo norte-americano. E a ausência de notícias negativas em relação a política brasileira deve seguir beneficiando o comportamento do real frente ao dólar”, diz Ortiz.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão em alta, mantendo a trajetória desde a abertura do pregão, apesar do sinal negativo exibido pelo dólar também desde o início do dia e da melhora do apetite por risco nas bolsas. O movimento da curva a termo local reagiu ao leilão de títulos públicos do Tesouro Nacional e também aos ruídos políticos vindos de Brasília, em meio às dificuldades de rolagem da dívida por causa das preocupações fiscais.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 3,27%, de 3,25% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 4,65%, de 4,58% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,45%, de 6,37%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,37%, de 7,28%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações norte-americano terminaram o dia em alta, apoiados nas declarações da presidente da Câmara dos Deputados, a democrata Nancy Pelosi, sobre as negociações de estímulo. Entre os setores, o bancário foi o que mais se beneficiou.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: +0,54%, 28.363,66 pontos

Nasdaq Composto: +0,19%, 11.506,00 pontos

S&P 500: +0,55%, 3.453,49 pontos