Expectativa por reforma tributária “salva” Bolsa da queda; dólar sobe

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São Paulo – O Ibovespa fechou em alta de 1,04%, aos 98.502,82 pontos, mostrando ajustes na volta do feriado e com investidores voltando a ter alguma esperança sobre o andamento da reforma tributária depois das eleições municipais, o que fez o índice se descolar dos principais mercados acionários no exterior.

Em evento do Lide, o senador Roberto Rocha (PSDB-MA), presidente da comissão mista que analisa a reforma tributária, disse que o relatório da reforma será votado na comissão até o dia 10 de dezembro. No mesmo evento, o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), relator da reforma, disse que a matéria terá votação única, não será fatiada.

Para o analista da Terra Investimentos, Régis Chinchila, as declarações voltaram “a trazer ânimo para o mercado sobre a agenda de reformas”. No entanto, lembra que ainda há muita incerteza sobre a manutenção da votação em dezembro, em meio a um cronograma apertado no ano legislativo com as eleições municipais em novembro.

O economista da Órama Investimentos, Alexandre Espírito Santo, por sua vez, acredita que é “muito difícil” votar alguma coisa ainda este ano e algumas questões podem ficar pendentes, só sendo resolvidas no ano que vem. “O mercado ainda está querendo entender como vai ser 2021, se o governo vai ainda manter a responsabilidade fiscal ou furar o teto de gastos”, disse.

O Ibovespa também buscou se ajustar ao dia positivo para Bolsas no exterior ontem, quando a Bolsa esteve fechada por aqui e quando Wall Street foi puxada por ações de empresas de tecnologia. No Brasil, as ações de varejistas e de tecnologia também aproveitam esse movimento hoje, além de começarem a refletir expectativas sobre seus resultados trimestrais.

As maiores altas do índice foram da B2W (BTOW3 6,72%) e do Magazine Luiza (MGLU3 5,95%). Ao lado desses papéis, os de frigoríficos também se recuperam, caso da Marfrig (MRGF3 4,57%) e da BRF (BRFS3 3,72%).

Já no cenário externo, as principais Bolsas recuaram hoje depois das altas de ontem. Entre os fatores que trazem cautela estão a pausa nos testes da vacina da Johnson & Johnson e no tratamento contra o covid-19 que vinha sendo estudado pela Eli Lillu. Além disso, o receio de não ocorrerem mais avanços nas negociações de um pacote de ajuda fiscal nos Estados Unidos nesta semana seguem pesando negativamente, além de as eleições norte-americanas continuarem a ser monitoradas.

Na agenda de amanhã, investidores devem ficar atentos aos dados do setor de serviços no Brasil, aos preços dos produtos dos Estados Unidos e à produção industrial da eurozona.  A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, também irá participar de evento promovido pelas Nações Unidas.

O dólar comercial fechou em alta de 0,97% no mercado à vista, cotado a R$ 5,5810 para venda, em dia de forte aversão ao risco no exterior com investidores reagindo à notícia de que testes de uma vacina contra a covid-19 foram suspensos, elevando o temor do mercado com a recuperação da atividade econômica global e com a alta no números de casos da doença, principalmente, na Europa, onde os principais países reforçam as medidas de isolamento social.

O gerente de mesa de câmbio da Correparti, Guilherme Esquelbek, reforça que foi uma sessão de forte aversão ao risco em meio à nova onda de contaminação de covid-19 na Europa e a suspensão dos testes clínicos da vacina da Johnson e Johnson por causa do adoecimento de um voluntário.

“Aqui, além de acompanhar o exterior, pesou ainda os riscos fiscais”, acrescenta. Diante a forte valorização da moeda na primeira parte dos negócios, o Banco Central (BC), realizou um leilão de venda de dólares no mercado à vista que, para o analista da Toro Investimentos, Daniel Herrera, “pegou investidores de surpresa”, o que levou ao movimento de cautela ao longo da sessão. “A aposta em alta do dólar reduziu com isso”, diz.

Amanhã, com a agenda de indicadores mais esvaziada, Herrera aposta em um movimento “mais morno” com o mercado atento aos desdobramentos do novo coronavírus na Europa, como também nas tratativas de um possível acordo entre democratas e republicanos no Congresso norte-americano para a aprovação de um pacote de estímulo fiscal. “Além das eleições nos Estados Unidos que se aproximam e vão fazendo preço nos ativos”, diz.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão em queda, mantendo a trajetória desde a abertura do pregão, com os investidores repercutindo as medidas anunciadas pelo Banco Central e o Tesouro Nacional na última sexta-feira para reduzir a pressão sobre as condições de financiamento da dívida pública. O movimento de retirada de prêmios foi mais acentuado no trecho longo da curva a termo e foi na contramão dos ganhos firmes do dólar. Ainda assim, a desconfiança dos investidores em relação à questão fiscal permanece.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 3,23%, repetindo o ajuste anterior, na última sexta-feira; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 4,60%, de 4,67% após o ajuste ao final da semana passada; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,43%, de 6,55%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,38%, de 7,53%, na mesma comparação.

A incerteza sobre uma nova rodada de estímulos somadas às notícias negativas sobre tratamentos para a covid-19 e aos balanços das empresas pesaram sobre os principais índices do mercado de ações norte-americanos, que terminaram o dia em queda, interrompendo uma sequência de quatro altas seguidas do Dow Jones.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -0,55%, 28.679,81 pontos

Nasdaq Composto: -0,10%, 11.863,89 pontos

S&P 500: -0,63%, 3.511,93 pontos