São Paulo – Fabrício Queiroz, que foi assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), foi preso hoje numa operação relacionada ao inquérito que investiga se servidores da Assembleia Legislativa do Estado (Alerj) devolveram parte do salário que recebiam a Flávio quando ele ocupava o cargo de deputado estadual – prática conhecida como “rachadinha”.
Segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), a operação também prevê outras medidas cautelares como busca e apreensão, afastamento de função pública, comparecimento mensal em juízo e proibição de contato com testemunhas. Os demais alvos da operação são o funcionário da Alerj Matheus Azeredo Coutinho, os ex-funcionários Luiza Paes Souza e Alessandra Esteve Marins e o advogado Luis Gustavo Botto Maia.
As investigações em torno de “rachadinhas” na Alerj começaram em janeiro 2018 após o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) enviar ao MP-RJ informações sobre movimentações financeiras suspeitas envolvendo deputados estaduais e membros de seus gabinetes.
Em maio daquele ano, surgiram os primeiros elementos vinculando as operações de Queiroz a Flávio Bolsonaro, e em dezembro Queiroz foi notificado a prestar depoimento pela primeira vez, mas não compareceu. Até 2019, ele faltou em pelo menos mais três audiências com os promotores, alegando motivos de saúde.
Neste ínterim, a imprensa teve acesso aos dados do relatório do Coaf que motivou as investigações e mostrou que o documento apontava movimentação atípica de R$ 1,2 milhão em uma conta de Queiroz entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. Queiroz fora exonerado do gabinete de Flávio em outubro de 2018.
No relatório, o Coaf também apontava que Queiroz havia feito um cheque de R$ 24 mil para atual primeira-dama Michelle Bolsonaro. O presidente Jair Bolsonaro chegou a comentar que o valor era parte do pagamento de um empréstimo de R$ 40 mil que havia feito a Queiroz.
O documento dizia também que, em 2017, Queiroz fez 10 transações fracionadas no total de R$ 49 mil, numa possível tentativa de contornar regras que determinam a notificação de operações de alto valor ao Coaf.
Dias depois dos dados virem à tona, em dezembro de 2018, Flávio Bolsonaro disse não ter feito “nada de errado” e que era “o maior interessado em que tudo se esclareça”. Ele também disse que conversou com Queiroz e que o ex-assessor contou “uma história bastante plausível” e sem “ilegalidade” para explicar as transações apontadas pelo relatório do Coaf.
No final daquele mês, Queiroz disse em entrevista ao SBT que comprava e revendia carros como justificava para as movimentações atípicas em sua conta.
Em janeiro de 2019, Flávio Bolsonaro chegou a reclamar ao Supremo Tribunal Federal (STF) das investigações, alegando não ter havido autorização judicial para o compartilhamento de seus dados com os promotores, e solicitou decisão que considerasse as provas contra ele ilegais. Em fevereiro, o ministro Marco Aurélio rejeitou o pedido, afirmando que o caso não era de competência do STF.
Flávio também entrou com ações na justiça estadual do Rio de Janeiro para questionar as investigações, mas não obteve sucesso.