São Paulo – O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) aumentará amanhã em 0,25 ponto percentual (pp) a taxa básica de juros durante a reunião de março deste ano. Além disso, o programa de compra de ativos deve ser encerrado, conforme anunciado na reunião anterior, suspendendo os estímulos de US$ 30 bilhões ao mês.
Dessa forma, o programa encerrará a compra pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de US$ 20 bilhões em títulos do Tesouro norte-americano e US$ 10 bilhões em ativos hipotecários a partir de abril. A taxa básica de juros deve ficar na faixa entre 0,25% e 0,5% ao ano.
“[O Presidente do Fed] Jerome Powell disse que estava inclinado a propor e apoiar um aumento de 0,25 99 em março. Dado este sinal claro, isso reduziu a incerteza da política monetária e, portanto, a incerteza geral do mercado causada pela invasão russa da Ucrânia”, explica o estrategista-sênior do Rabobank nos Estados Unidos, Philip Marey. O Comitê, portanto, deve iniciar a subida dos juros já na próxima reunião.
Segundo o analista, é provável que o Fomc continue a aumentar os juros em reuniões subsequentes (maio, Junho, julho), elevando 0,25 pp por reunião. No entanto, ele afirma que a partir da reunião de setembro os danos da crise da Ucrânia à economia global podem se tornar uma ameaça à expansão econômica dos Estados Unidos.
Para analistas da Capital Economics, o conflito entre Rússia e Ucrânia não deve impactar os planos do Fed. “Powell admitiu em seu testemunho no Congresso na semana passada que as implicações da guerra na Ucrânia ‘são altamente incertas'”, afirmou o economista-chefe da instituição, Paul Ashworth. “Ele repetiu que o Fed terá que ser ‘ágil’, mas ainda assim defendeu um aumento de 0,25 pp nos juros na próxima reunião”, completou.
Apesar do impacto ainda incalculável da crise na Ucrânia sobre os preços, que já pressionam a inflação nos Estados Unidos a níveis dos mais altos em décadas, o conflito geopolítico na Europa ocorre num momento em que o Fed se preparava para combater a alta de preços. Com o desemprego a 3,8%, analistas afirmavam que já não havia motivos para continuar a política monetária atual.
“Porém, o impacto da crise da Ucrânia poderia se tornar um problema, provavelmente na segunda metade do ano”, explica Marey – do Rabobank. “Enquanto o impacto imediato da invasão e das sanções aplicadas pelos Estados Unidos pode ser limitado na inflação e nas restrições adicionais de oferta, nas economias europeias podem colocá-las em recessão”.
Assim, com os indicadores mais recentes colocando a inflação em números recordes, os salários em alta e o desemprego em baixas históricas, é praticamente consenso entre os especialistas de que o comitê inicie a adoção de políticas monetárias mais duras.
BALANÇO
Outro caminho que os analistas esperam que o Fed persiga é em relação à redução do balanço da instituição monetária. Em seu testemunho na Câmara e no Senado no início deste mês, Powell não deu sinalizações claras sobre o tema, mas o mercado já precifica que elas aconteçam no segundo trimestre de 2022.
“A rapidez com que isso acontecerá será determinada pelos dados econômicos e pela perspectiva geopolítica em evolução, e nossas próprias previsões estão sujeitas a um enorme grau de risco”, afirmam analistas do ING em relatório publicado em março.
Segundos eles, a expectativa é de que haja seis aumentos na taxa de juros este ano, mais dois em 2023 e o Fed anunciando a liquidez do seu balanço de ativos no final do segundo trimestre.