Fed deve sinalizar discussão sobre redução de compra de ativos

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São Paulo – O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) deve dar sinais de que uma redução em seu programa de compra de ativos está próxima com a aceleração da inflação observada nos últimos indicadores, afirmam especialistas consultados pela Agência CMA.

No entanto, o otimismo em relação ao mercado de trabalho deve se atenuar e, com isso, mudanças concretas na política monetária não devem ocorrer tão cedo. Assim, o Fed manterá a taxa básica de juros entre zero e 0,25% e continuará com o programa de compra de ativos em pelo menos US$ 120 bilhões mensais em sua decisão de quarta-feira.

“O Fed irá começar a falar sobre uma diminuição em seu programa de compra de títulos, mas com os recentes dados mostrando que a economia norte-americana ainda está longe de um ‘progresso substancial’ em direção ao mandato de trabalho do banco central, alterações nessa área devem ser realizadas de fato só ano que vem”, afirma o economista sênior para os Estados Unidos do Capital Economics, Andrew Hunter.

Segundo ele, os dados decepcionantes de emprego dos últimos dois meses devem ser as principais razões para o desânimo do Fomc em relação aos próximos meses. “A criação de vagas foi, em média, de 400 mil por mês em abril e maio, quando a maioria esperava pouco mais de 1 milhão. Isso freou as expectativas do comitê para uma recuperação mais avançada”, afirma Hunter.

Já para a inflação – que em 2% faz parte do mandato duplo do Fed, junto com o pleno emprego – a expectativa é de continuidade da aceleração.

“O principal motivo para isso é a demanda acumulada em comparação às restrições nas cadeias de suprimentos que muitas empresas estão enfrentando”, afirma o estrategista-chefe global do Nordea, Andreas Steno Larsen.

Com o poder de compra se recuperando mais rápido do que a capacidade da indústria de produzir, os preços ao consumidor nos Estados Unidos chegaram a uma alta de 5,0% em base anual em maio.

“O Fed irá considerar isso também como uma distorção causada pela comparação absurda com os preços do ano passado que, nessa época, sofriam com o ponto alto da crise de covid-19. No entanto, o dado irá exigir alterações nas projeções dos membros e, com isso, obrigará o presidente do banco central, Jeremy Powell, a tocar no assunto da compra de ativos”, afirma o estrategista sênior para Estados Unidos do Rabobank, Philip Marey.

Apesar disso, os analistas concordam que o Fomc deve continuar a afirmar que essa pressão inflacionária é temporária, com a previsão chegando em 2,1% em 2023. “Isso coloca a possibilidade de uma alta na taxa básica apenas depois dos próximos dois anos”, afirma Hunter, da Capital Economics.

Para Marey, do Rabobank, o discurso do Fed vem dado certo apesar dos indicadores. “A pesquisa de confiança do consumidor da Universidade de Michigan sugere que o Fed tem tido sucesso em reduzir as expectativas para inflação. A mediana da expectativa de inflação um ano à frente recuou de 4,6% em maio para 4,0% em junho e a expectativa de cinco a dez anos à frente recuou de 3,0% para 2,8%”, diz ele.

A reunião, portanto, não deve trazer mudanças concretas, mas deve marcar o início das discussões sobre como o programa de compra de títulos poderia eventualmente ser desacelerado, o chamado tapering.

“Essa discussão cobrirá por quais segmento as compras devem ser reduzidas ou se as compras de títulos lastreados em hipoteca podem ser eliminadas mais rapidamente devido à força do mercado imobiliário”, afirma Larsen, da Nordea.

“Esperamos que o Fed faça um anúncio mais formal de redução futura em alguns meses – talvez dando uma dica em Jackson Hole [marcado para agosto] antes de uma mudança oficial de orientação na reunião de setembro. Isso provavelmente seria consistente com as compras sendo reduzidas gradualmente a partir do início do próximo ano”, conclui Hunter, do Capital Economics.