São Paulo – O Federal Reserve (Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) deve manter os juros próximos de zero na primeira reunião de política monetária do ano, nesta quarta-feira, e debates podem começar a surgir sobre uma redução no ritmo de compras dos títulos do Tesouro, segundo analistas consultados pela Agência CMA.
“Além de reconhecer a fraqueza dos dados econômicos recebidos no comunicado, nós esperamos que o Fed deixe suas configurações de política inalteradas”, disse o economista da Capital Economics, Michael Pearce, destacando os dados fracos de vendas no varejo, entre outros.
Segundo ele, o alívio fiscal aprovado pelo Congresso norte-americano no final do ano passado e a perspectiva de mais estímulos em breve, com o pacote de US$ 1,9 trilhão do novo presidente do país, Joe Biden, levaram a especulações de que uma forte recuperação econômica poderia fazer o Fed retirar apoio mais cedo que o previsto anteriormente.
A vacinação contra o novo coronavírus também contribui para essa expectativa. Pearce destacou, porém, que mesmo que a recuperação econômica seja mais forte que a esperada, o Fed não deve reduzir suas compras de ativos este ano, e se fizer isso no ano vem, será de forma gradual.
“Esperamos que o presidente Jerome Powell use sua coletiva de imprensa pós-reunião para rejeitar sugestões de que o Fed poderia reduzir suas compras de ativos em breve”, disse. Segundo Pearce, o Fed vê as reduções de anos atrás com um erro e deve ser mais cautelo desta vez para evitar outro “taper tantrum” nos mercados de títulos.
A frase descreve a alta de 2013 nos juros de títulos do Tesouro dos Estados Unidos, após o anúncio do Fed de que reduziria o ritmo de compras de Treasuries, para reduzir a quantidade de dinheiro que estava injetando na economia.
No comunicado de política monetária de dezembro, o Fed disse que continuaria a aumentar suas reservas de títulos do Tesouro e lastreados em hipotecas “até que um progresso substancial tenha sido feito em direção às metas de estabilidade de preços e emprego máximo”.
Desde junho, o Fed tem comprado US$ 80 bilhões em Treasuries e US$ 40 bilhões em hipotecárias e prometeu comprar ativos a esse ritmo nos “próximos meses”.
Analistas do Nordea afirmaram, em relatório, que “embora quaisquer mudanças na postura da política monetária pareçam altamente improváveis” na reunião desta semana, o mercado vai observar se a emissão relatada pela próxima secretária do Tesouro, Janet Yellen, terá implicações no tamanho da composição do programa de afrouxamento quantitativo do Fed.
Na semana passada, Yellen não descartou a possibilidade da emissão de títulos da dívida com maturidade mais longa para ajudar no financiamento de programas da gestão do novo presidente do país, Joe Biden. “Vamos avaliar a emissão de títulos de 50 anos”, disse ela.
Ainda segundo os analistas do Nordea, “em algum momento o Fed pode querer evitar que os juros subam muito”.
O analista do Morgan Stanley, Guneet Dhingra, afirmou que “as comunicações do Fed, começando com a reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) de janeiro, serão fundamentais para garantir que o movimento do juro real não saia do controle”.
Ele disse que o banco central norte-americano evitará a redução nas compras de títulos do Tesouro uma vez que “o alto grau de opção do Fed sobre o tamanho e a composição do afrouxamento quantitativo reduz o risco de um aumento nos juros”.
Além disso, a ata da reunião do Fomc de dezembro indicou que o Fed planeja um longo intervalo entre a comunicação de suas intenções e a redução efetiva, em contraste com o que correu em 2013, quando o plano de redução de compra de ativos foi uma surpresa e sua implementação parecia iminente, segundo Dhingra.
Por fim, a primeira reunião do Fomc do ano trará a rotação anual de seus membros votantes, mas isso não deve alterar o consenso mais amplo do comitê sobre a política monetária, de acordo com Peace, da Capital Economics.
Ele destacou que as mudanças mais notáveis incluem a saída de Loretta Mester, de Cleveland, dando lugar ao mais dovish [propenso ao afrouxamento monetário] Charles Evans, de Chicago, e a saída de Robert Kaplan, de Dallas, dando lugar ao mais hawkish [propenso ao aperto monetário] Raphael Bostic, de Atlanta.