São Paulo – A agência de classificação de risco Fitch Ratings rebaixou, hoje, as notas de crédito (IDRs, na sigla em inglês) de longo prazo em moedas estrangeira e local da Azul para RD, de C, após a conclusão de sua oferta de troca de dívida, que considera como troca de dívida em situação crítica (DDE, de “distressed debt exchange”). Na sequência, a Fitch elevou os IDRs da empresa para B-, de RD, para refletir o perfil de risco pós-reestruturação.
A agência também rebaixou os bonds da Azul Investments LLP para RD, de C/RR4, e o Rating Nacional de Longo Prazo da Azul para RD(bra), de C(bra). Ao mesmo tempo, elevou a classificação dos bonds para CCC+/RR5, de RD, assim como o Rating Nacional de Longo Prazo corporativo para BB(bra), de RD(bra).
A Fitch ainda atribuiu rating final B-/RR4 à emissão de US$ 800 milhões em notas seniores com vencimento em 2028 da Azul Secured Finance LLP e B-/RR4 à segunda emissão de notas seniores com garantia, com vencimentos em 2029 e 2030, da mesma companhia. A perspectiva dos ratings corporativos é estável.
“Os ratings da Azul refletem a melhora geral do perfil de crédito da aérea após a conclusão de seu plano de reestruturação, com fortalecimento da posição de liquidez, e melhora do fluxo de caixa operacional e dos indicadores de alavancagem. A limitada flexibilidade financeira da companhia e os elevados riscos da indústria continuam limitando as classificações”, explicou a Fitch, em nota.
A classificação da oferta de troca de notas da Azul em DDE, ou troca de dívida em situação crítica, de acordo com a metodologia da Fitch, se deve ao envolvimento de grande parte dos credores da companhia (incluindo acordos referentes a refinanciamento de leasings e fabricantes de equipamentos originais – OEM), o que levou a um plano de reestruturação mais amplo para evitar inadimplência. A prorrogação do vencimento, inclusive das debêntures conversíveis em moeda local, e a significativa alteração das condições dos detentores de títulos que não aceitarem a oferta, devido à eliminação de alguns covenants restritivos e à subordinação estrutural, também foram incorporadas à avaliação.
PROJEÇÕES
A Fitch acredita que a conclusão do plano de reestruturação de toda a dívida da Azul e as melhoras contínuas em sua geração de fluxo de caixa operacional ajudarão a restaurar seu perfil de crédito em termos de alavancagem e riscos de refinanciamento. Pelas projeções do cenário-base da agência, os índices de alavancagem total e líquida ajustadas/EBITDAR da empresa ficarão em torno de 4,6 vezes e 4,0 vezes, respectivamente, em 2023 uma melhora em relação aos patamares de 2022, de 7,4 vezes e 7,1 vezes.
“A redução dos pagamentos de arrendamentos e a extensão do vencimento da maior parte da dívida reduzem a pressão sobre o fluxo de caixa e englobam a maioria dos vencimentos de curto prazo, deixando a Azul com uma quantidade administrável de vencimentos programados até 2028. As empresas de leasing estão trocando os acordos de diferimento de pagamentos de arrendamentos realizados na época da pandemia de Covid-19 por títulos com vencimento em 2030 e títulos da dívida conversíveis em ações da Azul (proporção de 40/60)”, comenta a agência.
A Fitch ressalta que a capacidade da Azul para continuar acessando novas linhas de crédito, a fim de recuperar sua liquidez e aumentar a flexibilidade financeira, é fundamental para sustentar a contínua melhora de seu perfil de risco de crédito. “A empresa tem histórico de manutenção de fortes saldos de caixa, o que a ajudou a reduzir os riscos de refinanciamento de curto prazo e a enfrentar a volatilidade do setor”, diz a nota da Fitch, que informa que o caixa prontamente disponível da Azul, de acordo com a sua metodologia, diminuiu para R$ 466 milhões em 31 de março de 2023, de R$ 668 milhões em 31 de dezembro de 2022 e R$ 3,1 bilhões ao final de 2021.
“A crescente dívida com garantia tem impacto em sua flexibilidade financeira, tendo em vista o enfraquecimento da base de ativos desonerados, o que deve continuar limitando os ratings a médio prazo”, avalia.
A Fitch acredita que o ebitda ajustado da Azul melhorará em 2023, devido à sólida recuperação do volume de viagens domésticas, a benefícios relacionados à isenção de PIS/Cofins, taxas cambiais mais favoráveis e redução dos preços dos combustíveis, bem como melhora nas eficiências de custos e expansão da capacidade. Pelas projeções da agência, o EBITDA ajustado da Azul atingirá cerca de R$ 5,5 bilhões em 2023 e R$ 6,2 bilhões em 2024. A Fitch estima que o volume total de tráfego da Azul em 2023 será cerca de 21% superior ao de 2019 e que sua capacidade será 25% superior.
A geração de fluxo de caixa livre (FCF) da Azul permanecerá negativa durante 2023 e 2024, em torno de R$ 1,6 bilhão e R$ 900 milhões, respectivamente, prevê a agência. “As despesas mais baixas com arrendamento relacionadas aos acordos de diferimento realizados durante a pandemia proporcionam algum alívio para a Azul, mas o crescimento contínuo das operações, o aumento dos pagamentos de leasing, as taxas de juros elevadas e os investimentos continuam sendo um fardo.”
Para 2023 e 2024, a Fitch estima investimentos em torno de R$ 1,8 bilhão e de R$ 1,4 bilhão, respectivamente, e que a Azul aumentará ligeiramente sua frota nos próximos dois anos.