Fitch revisa para negativa perspetiva de rating AAA dos EUA e alerta para desequilíbrio fiscal

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São Paulo – A agência de classificação de risco Fitch Ratings afirmou a nota de crédito dos Estados Unidos em ‘AAA’, mas revisou a perspectiva do rating de estável para negativa, justificando a ação com a deterioração das finanças públicas e ausência de um plano de consolidação fiscal.

A Fitch observa que déficits e dívidas fiscais elevados já estavam em um caminho crescente de médio prazo mesmo antes do início do choque econômico precipitado pelo novo coronavírus nos Estados Unidos, corroendo as forças de crédito tradicionais do país.

“A flexibilidade de financiamento, auxiliada pela intervenção do Federal Reserve para restaurar a liquidez dos mercados financeiros, não dissipa totalmente os riscos à sustentabilidade da dívida em médio prazo, e há um risco crescente de que as autoridades não consolidem as finanças públicas o suficiente para estabilizar a dívida pública após o choque pandêmico”, diz a Fitch.

Embora uma resposta política massiva tenha impedido uma desaceleração mais profunda – fazendo com que a Fitch espere uma contração menos severa nos Estados Unidos em 2020 do que em muitas outras economias avançadas – a agência revisou as projeções macroeconômicas desde março e persistem os riscos negativos.

Diante desse cenário, a Fitch espera que o déficit do governo geral aumente para mais de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020 e diminua para 11% do PIB em 2021, à medida que as ferramentas de apoio econômico forem revertidas. O déficit federal acumulado nos primeiros nove meses do ano fiscal que começou em outubro de 2019 atingiu US$ 2,7 trilhões, em comparação com US$ 747 bilhões no mesmo período do ano anterior. Os gastos aumentaram US$ 1,6 trilhão, ou 49%.

O Escritório de Orçamento do Congresso (CBO, na sigla em inglês) estimou em abril que o déficit federal chegaria a US$ 3,7 trilhões no ano fiscal de 2020.

“Nos três meses desde que essa estimativa da CBO foi publicada, o Congresso não fez grandes acréscimos aos pacotes de suporte. No entanto, com o Congresso considerando uma nova rodada de estímulo fiscal, que proporcionaria transferências adicionais às famílias e estenderia os benefícios federais de desemprego a um nível reduzido”, lembra a Fitch.

De acordo com a premissa de que o Federal Reserve manterá os juros próximos de zero, a agência espera que taxas reais negativas ofereçam algum suporte à dinâmica da dívida pública.

“A direção futura da política fiscal depende em parte das eleições presidenciais e do Congresso, em novembro. As chances de os democratas derrubarem a maioria republicana no Senado mudaram em seu favor no último trimestre, mas é improvável que qualquer um dos partidos atinja a maioria de 60 cadeiras. A continuação do impasse político é um risco”, diz a Fitch.

Segundo a agência, a polarização política pode enfraquecer as instituições e reduzir o escopo da cooperação bipartidária, dificultando tentativas de abordar questões estruturais – incluindo algumas destacadas pela pandemia e protestos – mas também desafios fiscais de longo prazo.

Diante desse cenário, a Fitch espera que a economia norte-americana se contraia em 5,6% em este ano e se recupere em 4,0% em 2021, com a resposta massiva da política fiscal evitando uma desaceleração mais profunda.