FMI projeta contração de 37% para os EUA no segundo trimestre

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São Paulo – Mesmo com todo apoio do governo e do banco central, a economia norte-americana deve encolher 37% no segundo trimestre, em taxa anualizada, e contrair 6,6% no ano como um todo, após uma expansão de 2,3% em 2019, projeta o Fundo Monetário Internacional (FMI) em seu relatório conhecido como artigo 4.

No documento, o FMI alerta que existem muitas incertezas em torno da propagação econômica do choque da covid-19. “O aumento dramático do desemprego rompeu as relações entre o empregado e o empregador e reduziu a participação da força de trabalho. A queda repentina na demanda resultará em uma quantidade incerta de falências corporativas. A mudança de preferências e práticas de trabalho exigirá uma realocação significativa de capital e trabalho”, diz.

O principal risco e o mais difícil de quantificar, segundo o Fundo, é que um ressurgimento do número de casos de covid-19 nos Estados Unidos pode levar à retomada de bloqueios parciais.

“Embora uma abordagem cautelosa da saúde pública – pelos governos locais e pela população em geral – atenue esse risco, o recente aumento nas taxas de infecção em alguns estados já está levando a uma desaceleração ou reversão parcial das decisões de reabertura”, afirma.

Nesse cenário, o FMI destaca a possibilidade de aumento da pobreza nos Estados Unidos e os riscos específicos enfrentados pelos governos estaduais e municipais, já que a maior parte dos gastos com saúde pública, educação, assistência social e seguro-desemprego repousa nos orçamentos desses governos.

“Os governos estaduais e locais também dependem das receitas com impostos sobre vendas – que caíram – e, na maioria das vezes, são limitadas por requisitos orçamentários equilibrados. Como tal, existe o risco de um aperto fiscal pro cíclico e prematuro por parte dos governos estaduais e locais em 2020 e 2021 criar um importante vento de contração econômica e ser perturbador para famílias de baixa renda e desempregados”, diz.

Com relação à dívida, o Fundo afirma que um aumento significativo gera vulnerabilidades importantes. O FMI prevê que a dívida das administrações públicas aumente para 160% do PIB até 2030, mesmo sem novas rodadas de estímulo fiscal.

“Perdas de emprego e queda de renda levarão ao aumento do endividamento das famílias. A dívida corporativa aumentou acima dos níveis pré-pandêmicos já altos que, quando combinadas com um lento retorno dos ganhos corporativos aos níveis anteriores à crise, podem desencadear um aumento nas falências corporativas”, afirma.

Esse movimento estaria ligado à inflação. Segundo o FMI, a ampla ociosidade na economia norte-americana aumenta o risco de um período prolongado de inflação baixa ou mesmo negativa. “Isso poderia silenciar o impacto da política monetária e fazer com que empresas e consumidores atrasem a demanda.

Um caminho desinflacionário seria particularmente problemático diante do aumento esperado do endividamento público e corporativo”, diz.

Em seu relatório, o Fundo lembra que as projeções não consideram uma nova rodada de estímulos monetários ou o desenvolvimento de uma vacina contra a covid-19.