São Paulo – Após mostrar volatilidade e chegar a atingir os 97.757,90 pontos na mínima do dia, o Ibovespa encerrou em leve queda de 0,47%, aos 98.363,22 pontos, no menor patamar de fechamento desde o dia 7 de julho (97.761,04 pontos). O índice refletiu a continuidade de correções em ações de empresas de tecnologia nos Estados Unidos e rotações de setores, com as ações de bancos pesando negativamente, enquanto os papéis da Vale avançaram e impediram uma aceleração das perdas. O volume total negociado foi de R$ 26,4 bilhões.
Na cena doméstica, investidores começaram a mostrar certa preocupação com a aceleração de alguns indicadores de inflação e monitoram a cena política, aguardando o andamento de reformas. Na ausência de novidades positivas e com correções de Bolsas norte-americanas, o índice fechou a semana com perdas de 2,84%.
“O Ibovespa está mostrando movimentos bem erráticos, mas faz 30 dias que está rodando nos mesmos níveis, disse o analista da Necton Corretora, Gabriel Machado. “Questões externas podem pressionar e ainda pode ocorrer uma correção maior no curto prazo, já que as Bolsas norte-americanos também podem mostrar novas correções e continuar uma rotação, com investidores saindo de ações de empresas de tecnologia e indo para outros setores mais baratos”, completou.
Hoje, os mercados acionários nos Estados Unidos mostraram volatilidade e fecharam mistos, com a Bolsa de tecnologia Nasdaq em queda.
Para o estrategista da Genial Investimentos, Filipe Villegas, o mercado pode continuar volátil, a exemplo do que foi visto hoje, embora não veja uma deterioração de fundamentos e mudança de cenário. “Os investidores estão um pouco sem paciência com a ausência de novidades positivas e continuam as rotações setoriais, com busca por ações mais baratas”, disse, em live.
No Brasil, os últimos dados de inflação e pressão em alimentos até da cesta básica, como o arroz, são monitorados, assim como as declarações do presidente Jair Bolsonaro, que fez comentários sobre “controlar” a alta do dólar. Além disso, as reformas administrativa e tributária seguem sendo aguardadas e sem novidades no seu andamento no Congresso.
Entre as ações, as de bancos fecharam em queda, caso do Bradesco (BBDC4 -1,87%). Para o analista da Necton, há duas teses sobre as ações do setor, com parte dos analistas que acredita que os papéis estão mais baratos, com desempenho pior do que o do Ibovespa no ano, mas outra parte que vê fundamentos mais prejudicados, em função de fatores como o aumento da concorrência.
As maiores perdas do Ibovespa foram da Cielo (CIEL3 -4,31%), do IRB Brasil (IRBR3 -4,12%) e do Grupo NotreDame Intermédica (GNDI3 -3,77%).
Na contramão, as maiores altas foram das ações da Vale (VALE3 5,84%), do Bradespar (BRAP4 4,34%), acionista da Vale, e da CSN (CSNA3 4,03%). A Vale anunciou que retomará o pagamento de remuneração aos acionistas, no valor de R$ 2,407 por ação, sendo R$ 1,4102 na forma de dividendos e R$ 0,9973 na forma de juros sobre o capital próprio. A companhia já tinha anunciado em julho que retomaria o pagamento de dividendos, o que não ocorria há cerca de dois anos, o que foi visto como um bom sinal por analistas.
Na semana que vem, as atenções estarão voltadas para as decisões de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e do Banco Central brasileiro. Apesar da expectativa de que os juros sejam mantidos, investidores devem ficar atentos às sinalizações que podem ser dadas, assim como possíveis comentários sobre a recuperação da atividade e inflação. No caso do Fed, já foi anunciada uma mudança de estratégia, com o objetivo passando ser buscar uma inflação média de 2% em vez de uma meta fixa, sobre o que podem ser dados mais detalhes.
Em relação a indicadores, será esperado o índice de atividade do Banco Central, o IBC-Br, e uma série de indicadores chineses, que serão publicados na segunda-feira à noite.
O dólar comercial fechou em alta de 0,30% no mercado à vista, cotado a R$ 5,3360 para venda, em sessão volátil acompanhando o movimento no exterior onde as bolsas de Nova York operaram mistas, mas acumularam perdas em viés de ajuste em meio aos ganhos históricos nas últimas semanas. Na semana, encurtada pelo feriado doméstico e nos Estados Unidos na segunda-feira, a moeda se valorizou em 0,53% após duas semanas seguidas de queda.
O analista de câmbio da Correparti, Ricardo Gomes Filho, destaca que a sessão foi dividida em dois momentos. “Pela manhã, a valorização de boa parte das divisas [de países] emergentes serviu de alicerce para que o real operasse forte por aqui também”, comenta.
Porém, na segunda parte dos negócios, uma piora dos mercados acionários nos Estados Unidos, que levaram a bolsa de tecnologia Nasdaq cair mais de 1% e movimento de “busca por proteção antes do fim de semana” deram “novo fôlego” ao dólar, acrescenta o analista.
Na semana que vem, o destaque na agenda indicadores fica para as decisões de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, na quarta-feira, e do Banco da Inglaterra (BoE), na quinta. Entre os indicadores econômicos, tem dados da atividade industrial e de confiança nos Estados Unidos, enquanto na China e na Europa saem os números da indústria e do comércio em agosto.
Para a equipe econômica do Bradesco, por mais que não se espere alterações na política monetária norte-americana, a reunião do Fed ganha destaque por ser a primeira reunião após o anúncio oficial da mudança “do arcabouço de política monetária”. O analista da Toro Investimentos, Daniel Herrera, reforça que os grandes eventos da próxima semana são as decisões dos bancos centrais, no qual o mercado ficará atento às declarações do presidente da autoridade monetária, Jerome Powell.
“O Fed não tem o que trazer de novo. Claro, o mercado vai ficar de olho nas declarações do Powell. Quem pode trazer alguma novidade é o Copom. Não em relação à decisão, mas com o mercado de olho no comunicado e nas menções que o Banco Central pode fazer sobre a pressão inflacionária e sobre o cenário fiscal”, avalia.
No levantamento preliminar realizado pelo Termômetro CMA, as 12 instituições consultadas apostam em manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 2,00%, encerrando ao ciclo de cortes iniciado em agosto de 2019.
Herrera e o economista da Tendências Consultoria, Silvio Campos, endossam que, no curto prazo, investidores domésticos ficarão atentos às questões fiscais e à agenda de reformas. “Há muita dúvida em relação ao nosso cenário fiscal, que é grave, enquanto as reformas [tributária e administrativa] não devem ser aprovadas neste ano. Acho difícil”, diz Campos.
As taxas dos contratos futuros de juros (DIs) encerraram a sessão de hoje em alta, acompanhando a cotação do dólar comercial. Pela manhã, as taxas chegaram a cair diante de uma moeda norte-americana também em queda, mas a piora no cenário externo estressou os mercados, fazendo tudo se inverter.
Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 2,85%, de 2,84% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 4,14%, de 4,11% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 estava em 6,01%, de 5,97%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,00%, de 6,95%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos encerraram a sessão em campo misto, com o Nasdaq em queda puxado mais uma vez pelas baixas nas empresas de tecnologia.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
Dow Jones: +0,48%, 27.665,64 pontos
Nasdaq Composto: -0,60%, 10.853,54 pontos
S&P 500: +0,05%, 3.340,97 pontos