São Paulo – A saída de André Brandão da presidência do Branco do Brasil (BB), anunciada ontem à noite, não foi nenhuma surpresa para o mercado financeiro, mas segue trazendo dúvidas sobre até que ponto irá a intervenção do governo na estatal, depois que Fausto de Andrade Ribeiro, atual diretor presidente do BB Consórcios e servidor do banco, foi o indicado para ocupar o cargo.
“A demissão é ruim para o mercado e para as ações do banco. Sempre tem aquela pauta de intervenção política em estatais e isso o mercado sempre vê com maus olhos, independente do desempenho do atual presidente ou do próximo”, afirma o analista de investimentos do Banco Daycoval, Enrico Cozzolino.
Enrico ainda ressalta que a mensagem passada com a saída de Brandão é de que o governo possui mais autonomia em relação à empresa do que os próprios acionistas. “O mercado acaba vendo que o presidente ou o governo podem ter mais espaço para interferir em decisões”, disse.
A demissão de André Brandão no Banco do Brasil já era assunto desde o início de janeiro, quando o banco anunciou uma série de medidas relacionadas à revisão e ao redimensionamento de estrutura organizacional do BB, que incluíam um programa de desligamento incentivo com a adesão de 5 mil funcionários, o fechamento de 316 agências e economia com despesas de R$ 2,7 bilhões até 2025.
Os analistas da Genial Investimentos também acreditam que os riscos de ingerência na estatal aumentaram, o que não é minimizado pela troca de Brandão, que tinha uma carreira conhecida no setor privado, por um funcionário
de carreira do banco.
“Muito pelo contrário, as mudanças tão necessárias para um mundo mais digital e eficiente podem demorar mais. No mínimo, podemos dizer que a percepção de risco aumentou”, disse a Genial, em relatório.
A agência de classificação de riscos Moody’s, por sua vez, destacou que a renúncia do presidente Brandão levanta preocupações sobre a alta rotatividade de executivos e a governança corporativa em geral do banco público, apesar de o banco ter funcionários experientes.
“Após apenas cinco meses no cargo, Brandão deixa o BB depois de lançar um abrangente plano estratégico para redução de despesas operacionais”, disse o vice-presidente da Moody´s Alexandre Albuquerque, em nota.
Na sua avaliação, apesar de o banco ter um amplo quadro de funcionários de carreira experientes, que podem assumir novas funções, mudanças frequentes na administração ameaçam sua capacidade de permanecer competitivo no longo prazo.
Apesar das desconfianças do mercado sobre como será a nova gestão, o BTG Pactual diverge e acredita que a rápida definição sobre o substituto foi positiva ao evitar maior volatilidade nas ações do banco nos próximos dias.
“O novo CEO já era funcionário de carreira do Banco do Brasil, o que tende a ser notícia positiva na nossa visão (uma especulação sobre outro nome nos próximos dias traria volatilidade ao papel). A mensagem que o banco tem passado é que estratégia de eficiência continua, mesmo com saída do Brandão”, disseram ainda os analistas do banco.
Depois de mostrarem volatilidade pela manhã, chegando a operar em queda, os papéis do Banco do Brasil (BBAS3) fecharam o pregão de hoje em alta de 0,85%, a R$ 30,70. Os analistas acreditam que alteração do presidente já foi, em boa parte, precificada pelo papel anteriormente.
Bruno Soares e Danielle Fonseca / Agência CMA