São Paulo – Em sua carta mensal do mês de maio, a Galápagos Capital destacou que os investidores globais seguiam focados no ritmo de desaceleração global, assim como na velocidade com a qual a inflação responderá à combinação das políticas restritivas dos bancos centrais e dos choques persistentes nos preços de alimentos e energia.
“Apesar dos gargalos nas cadeias produtivas estarem longe de ser resolvidos, estes estão se estabilizando, especialmente com as medidas de reabertura da economia chinesa. À luz dessas condições, a previsibilidade em relação ao cenário permanece limitada”, comentou a gestora.
Na ocasião, agestora avaliava existir um amplo consenso entre investidores de que a economia precisava desacelerar o suficiente, principalmente nos países desenvolvidos, para conduzir a inflação para baixo e em direção às metas dos bancos centrais. “Entretanto, a ansiedade sobre a possibilidade de recessão tende a ampliar a reação dos mercados aos novos dados econômicos, incluindo mudanças nas retóricas dos bancos centrais”, apontava a análise.
“Na nossa visão, os dados já demonstram sinais claros de desaceleração na atividade econômica em virtude da sequência de eventos que seguiram o início da guerra na Europa há três meses: o choque advindo dos lockdowns de regiões econômicas importantes na China e a rápida precificação de um ritmo mais acelerado do aperto monetário nos EUA, Europa, Reino Unido e Canadá, entre outros incluindo firme forward guidance e a gradual redução de seus balanços.”
Com relação ao cenário de inflação, a gestora previa uma pico “em breve” e apontou que “em alguns lugares, inclusive, tal fenômeno já foi observado”, mas ressaltava que a convergência da inflação às metas seria mais lenta do que o esperado, “especialmente se os bancos centrais forem levados pela obsessão de evitar uma recessão antes de que a desinflação seja concluída.”
“Vale ressaltar que, atualmente, o principal mandato é o de controlar a inflação, e não de garantir soft landings”, opinou.
A carta observou que até a metade de maio, as condições financeiras nos Estados Unidos estavam mais apertadas, em linha com a mudança na postura de política monetária, incluindo a possibilidade de múltiplas altas de 50 pontos-base, o comprometimento com alguma ideia (até agora abstrata) em relação a se chegar na taxa neutra até o final do ano e opiniões isoladas de que uma postura restritiva seria necessária.
Os mercados chegaram a precificar uma taxa terminal por volta de 3,5%. Entretanto, o medo de uma queda acentuada na atividade e a percepção de que a put do FED salvaria o dia novamente foram suficientes para gerar um rally nos ativos de risco e, com isso, promover um afrouxamento substancial das condições financeiras que mais do que reverteu o aperto ocorrido até então. Ao fim e ao cabo, o resultado foram condições financeiras mais frouxas em maio, algo contrário ao que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) gostaria de observar.”
A gestora via um risco de que a retórica mais “hawkish” perderia o ímpeto a ata mostrou claro viés dovish com os medos e a obsessão de se evitar uma recessão se tornando mais poderosos que a intenção de controlar a inflação. “A comunicação do Federal Reserve de que chegar ao neutro é suficiente ou a falta de comprometimento para se chegar a patamar restritivo, ou mesmo a fala irresponsável de possível pausa em setembro, minam o principal propósito da política monetária: desafia a lógica pensar que a política monetária precisa chegar apenas à neutralidade quando a inflação e as expectativas de curto prazo estão acima da meta”, comentou a Galápagos.
Além disso, sob qualquer medida, tanto a inflação quanto as expectativas estavam muito acima da meta e deveriam seguir assim por muitos meses.
Com isso, em sua estratégia, a Galápagos apontou que os “modelos sistemáticos seguem, continuamente, alocando mais risco. Os modelos de juros oscilaram entre posições tomadas e aplicadas durante o mês de maio e geraram um retorno positivo para a estratégia. Os algoritmos de bolsa concentraram posições nos setores elétrico, de infraestrutura e no mercado interno. A exposição líquida em bolsa, que vinha praticamente zerada nos meses anteriores, virou comprada e deve ter exposição crescente com a manutenção do movimento recente dos mercados.