São Paulo – O governo federal arrecadou um total de R$ 3,3 bilhões em leilão de concessão de 22 aeroportos realizado hoje pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), com um ágio médio de 3.822,61%. O certame contou com a participação de sete proponentes, incluindo três estrangeiras. Os 22 aeroportos serão concedidos à iniciativa privada por um período de 30 anos.
O leilão foi dividido em três blocos, sendo que a Companhia de Participações em Concessões (CPC), da CCR, foi a maior vencedora, arrematando os Blocos Sul e Central por R$ 2,128 bilhões e R$ 754 milhões, respectivamente. Os valores representam um ágio de 1.534,36% sobre a Contribuição Inicial mínima de R$ 130,2 milhões para o Bloco Sul, e um ágio de 9.156,01% sobre a Contribuição Inicial mínima de R$ 8,146 milhões para o Bloco Central.
A Vinci Airports, filial do Grupo Vinci, empresa francesa operadora aeroportuária, levou o Bloco Norte por R$ 420 milhões. O valor representa um ágio de 777,47% sobre a Contribuição Inicial mínima de R$ 47,865 milhões.
O investimento privado total previsto nos aeroportos leiloados é de R$ 6,1 bilhões. Em condições normais de demanda, os três blocos de aeroportos processam, juntos, cerca de 11% do total do tráfego de passageiros do País, o equivalente a 24 milhões de passageiros por ano (dados de 2019).
O Bloco Sul é composto pelos aeroportos de Curitiba (PR), Foz do Iguaçu (PR), Navegantes (SC), Londrina (PR), Joinville (SC), Bacacheri (PR), Pelotas(RS), Uruguaiana (RS) e Bagé (RS).
Já o Bloco Central é formado pelos aeroportos de Goiânia (GO), São Luís (MA), Teresina (PI), Palmas (TO), Petrolina (PE) e Imperatriz (MA). O Bloco Norte, por sua vez, é integrado pelos aeroportos de Manaus (AM), Porto Velho (RO), Rio Branco (AC), Cruzeiro do Sul (AC), Tabatinga (AM), Tefé (AM) e Boa Vista (RR), tem lance mínimo de R$ R$ 47,9 milhões.
O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, se mostrou satisfeito com o resultado do leilão, que julgou ter sido bem sucedido e com uma boa precificação, já que os ágios foram elevados, embora tenha reconhecido que a pandemia de coronavírus pode ter impactado negativamente no número de propostas e empresas participantes.
“O segredo para fazer novos players é ter novos projetos, temos que entender o contexto em que o leilão foi feito. Conforme a economia for se recuperando vamos ver a retomada. Nos próximos leilões prevemos novos entrantes em outros setores, empresas buscando entrar em setores novos, como em rodovias”, afirmou.
PRÓXIMOS LEILÕES
O ministro ainda se mostrou confiante com os demais leilões previstos para esta semana, que além do leilão da Anac, contará com o leilão da Ferrovia de Integração Oeste-Leste amanhã (8) e de cinco terminais portuários na sexta-feira (9).
Freitas também destacou que o modelo de leilão idealizado pelo governo tem sido aprovado por investidores, que estão vendo o potencial dos ativos ao longo dos 30 anos de concessão. Além disso, disse que o mais importante é a previsão de investimentos nos próximos anos.
“O que interessa não é a arrecadação, é o investimento que vai ser gerado. O fator de sucesso de um leilão é atrelar investimento com demanda, foi a lição que ficou e acho que investidores perceberam upsides”, disse.
Segundo o ministro, a ordem dos certames também é pensada para atrair investidores. No próximo leilão de aeroportos, devem ser ofertados ativos mais valiosos, como o aeroporto de Congonhas, em São Paulo, e o Santos Dumont, no Rio de Janeiro.
CCR
Após ter sido a grande vencedora do leilão de aeroportos feito pela Anac hoje, com lances agressivos, a CCR disse que a aquisição dos blocos Sul e Central não deve afetar a execução de outros investimentos e de seu planejamento estratégico, ressaltando que faz parte dos seus planos ter mais ativos no setor de aviação, pensando na integração com o restante do seu portfólio.
“O nosso apetite hoje demonstrado em nada afeta a capacidade de execução do planejamento estratégico”, disse a jornalistas o diretor-presidente da CCR, Marco Calduro, após o fim do leilão.
Calduro também afirmou que os preços alcançados mostram o reconhecimento do menor risco e possibilidade de desenvolvimento de negócios. “Vemos como investimentos estratégicos, é um contrato de 30 anos, dos quais os anos iniciais pouco explicarão a trajetória de demanda dos próximos anos”, afirmou.
A empresa explicou ainda que desde 2019 já estudava participar do leilão de aeroportos, pensando neles como mais uma maneira de integração logística e modal, conforme ocorra uma retomada econômica.
No Brasil, a CCR já atua no segmento de aviação como sócia no aeroporto de Confins (MG), além de ter operações no exterior, com um aeroporto no Equador, um na Costa Rica e outro em Curaçao. A empresa também tem desenvolvido negócios juntos a nove aeroportos nos Estados Unidos.
VINCI AIRPORTS
A Vinci Airports, empresa francesa operadora aeroportuária, que opera grandes aeroportos principalmente na França e em Portugal, e levou o Bloco Norte, aposta principalmente no aeroporto de Manaus como um pólo de transportes de cargas e até de conexão para outros continentes.
O valor ofertado pelo bloco, R$ 420 milhões, representa um ágio de 777,47% sobre a Contribuição Inicial mínima de R$ 47,865 milhões. A proposta da Vinci, que já opera no Brasil com o aeroporto de Salvador (BA), concorreu com a proposta do Consórcio AeroBrasil, que havia oferecido R$ 50 milhões.
“Acreditamos nesses aeroportos como parte da recuperação econômica após a pandemia, vamos desenvolver diversas atividades e aeroportos verdes, sustentáveis. Acreditamos no desenvolvimento da indústria de alto valor na região, como a de eletrônicos. O Brasil também depende do transporte aéreo para seu desenvolvimento”, disse o diretor-presidente do grupo, Nicolas Notebaert.
Segundo o representante da empresa no Brasil, o aeroporto de Manaus é o terceiro maior terminal de carga do País, além de ter outras vantagens a serem exploradas. “Ainda tem a questão do ecoturismo e a região Norte depende de conexão aérea, não tem estradas. E por que não Manaus ser um hub relevante de comunicação com as Américas do Norte, Central e Caribe, como é o Panamá?”, disse.