São Paulo – O Ministério de Minas e Energia mais uma vez pediu para a Eletrobras analisar a possibilidade de suspender seu Plano de Demissão Voluntária (PDV), para que o governo possa examinar juntamente com o plano de investimentos pretendido pela empresa. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, enviou um pedido de reconsideração do programa à empresa em 20 de julho e não teve resposta.
A pasta busca entender como a empresa executará, com menos trabalhadores, tais investimentos e prestação de serviços. Sendo a União a maior acionista da empresa e o MME responsável por zelar pelo equilíbrio entre a oferta e demanda de energia elétrica no país é legítimo, racional e importante que esta Pasta tenha acesso à tais informações para que possa avaliar como a Eletrobras, maior empresa do segmento em operação no Brasil, está se preparando para preservar a manutenção e operação de seus ativos, pois eles são primordiais para a confiabilidade do suprimento de energia elétrica, disse o órgão no ofício.
Em entrevista a jornalistas no dia 16, o ministro de Minas e Energia disse que o evento principal do apagão ocorrido na véspera se deu numa linha próxima a Fortaleza, operacionalizada pela Chesf, subsidiária da Eletrobras. O ministro admitiu que a Chesf reconheceu a falta de proteção adequada no sistema de transmissão, mas enfatizou que isso não seria suficiente para justificar a magnitude do apagão.
O sindicato dos trabalhadores do setor também aponta essa relação, pois alega que os processos de demissões têm sobrecarregado os trabalhadores com possíveis consequências para a confiabilidade do sistema. Na segundda-feira (28), o novo presidente da Eletrobras, Ivan de Souza Monteiro, teve reunião com representantes dos eletricitários na sede da empresa, no Rio de Janeiro (RJ), que pediram a suspensão das demissões. Segundo o Coletivo Nacional dos Eletricitários, o presidente da entidade, Paulo de Tarso, afirmou que o quadro profissional da empresa já está bastante reduzido e é arriscado acontecer mais apagões no País, justamente devido à falta de técnicos capacitados e experientes.
Segundo a entidade, o novo CEO da companhia se comprometeu em proporcionar treinamento aos novos empregados e agendou uma próxima reunião com os dirigentes para 28 de setembro, assim como prometeu a reabertura dos trabalhos das comissões temáticas.
ANÁLISE
Para a Levante Ideias de Investimento, o governo federal tenta impor o fato de ainda ser o maior acionista da empresa através de uma narrativa de zelar pela oferta de energia elétrica no país, buscando informações adicionais sobre o plano para de alguma forma tentar interferir nas decisões da maior empresa de energia do país.
Para a corretora, as ações do Ministério de Minas e Energia estão elevando a “percepção de insegurança jurídica no país” e o, consequentemente, o prêmio de risco solicitado pelos investidores principalmente na Eletrobras.
“O efeito acaba se propagando indiretamente para outros setores, que temem por maior ingerência política e acabam, por consequência, exigindo maior prêmio de risco para alguns investimentos e, possivelmente, encarecendo no geral o prêmio atrelado ao risco-país”, comenta a Levante.
“Apesar de um volume de ruídos quase ensurdecedor sobre a Eletrobras, as privatizações no Brasil tiveram início em 1992 e até aqui nenhuma delas foi revertida”, conclui a corretora.