Há 6 meses acima dos R$ 4,00, dólar não deve retomar patamar inferior

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Por Flavya Pereira

São Paulo – Há exatos seis meses, o dólar rompeu o nível de R$ 4,00 e acomodou-se por lá. Desde 12 de agosto do ano passado, a moeda norte-americana opera acima desse nível no qual acumula valorização de mais de 8% e alcançou máximas históricas em dois períodos.

O primeiro, no fim de novembro, quando renovou o recorde de fechamento a R$ 4,2580, e outros nos últimos dias. Desde o fim de janeiro, a moeda renovou a máxima histórica por cinco vezes, entre R$ 4,2600 e R$ 4,3270. A moeda já havia flertado com tal patamar em abril e em meados de maio do ano passado, depois de operar acima do nível por algumas semanas durante as eleições de 2018.

“A princípio, o nível de R$ 3,90 é ilusão. O patamar normal, conforme o contexto doméstico e global, seria entre R$ 4,10 e R$ 4,20. O R$ 4,30 é exagerado, mas aí tem muito efeito do coronavírus”, comenta o diretor de câmbio do grupo Ourominas, Mauriciano Cavalcante.

O surto da doença na China e com casos confirmados em outros países da Ásia, Europa, além dos Estados Unidos, elevou o temor dos investidores quanto aos impactos provocados pelo coronavírus na economia global com um forte impacto no curto prazo.

Em decorrência da doença, morreram mais de mil pessoas e 42,6 mil casos foram confirmados. Em três semanas, quando as notícias sobre o vírus se intensificaram e passaram a fazer preço, a moeda estrangeira teve variação positiva de 3,1%.

O economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, avalia que a “falta” de informação foi o principal problema desde que a doença foi revelada. “A desinformação cumpriu um papel importante na reação dos mercados globais. É certo um crescimento econômico mais modesto e os efeitos nos pares internacionais da China são ainda de difícil mensuração, passando muito mais pelo campo da especulação, do que realidade”, pondera.

Eventos externos culminaram na valorização da moeda, como o acirramento da guerra comercial entre Estados Unidos e China no segundo semestre de 2019, os conflitos em países da América Latina em novembro, os conflitos geopolíticos entre Estados Unidos e Irã e, recentemente, a escalada do coronavírus no país asiático.

No mercado doméstico, porém, a queda da taxa básica de juros (Selic) corroborou para o movimento de saída do investidor estrangeiro uma vez que, desde julho do ano passado, caiu de 6,50% para 4,25% ao ano. Enquanto isso, o fluxo de recursos estrangeiros no país tem ficado menor após o saldo de entrada e saída de dólares no país ficar negativo em quase US$ 45 bilhões no ano passado.

“A gente não tem fluxo do investidor estrangeiro. A gente só vê saída. O Brasil precisa de uma história boa para o gringo voltar a acreditar aqui. A tendência é [o dólar] ficar pressionado por alguns meses em meio a uma economia fragilizada”, avalia a estrategista de câmbio do banco Ourinvest, Cristiane Quartaroli.

Enquanto a moeda renova níveis recordes, já em R$ 4,34, o Banco Central (BC) segue sem interver no mercado de câmbio. Há apostas de “especulação” no mercado local à espera de uma atuação “contundente” da autoridade monetária.

Recentemente, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, comentou que uma das explicações para o fortalecimento da moeda é de que há uma intensificação nos pré-pagamentos de dívidas denominadas na moeda norte-americana, em parte por causa das condições mais favoráveis oferecidas no mercado doméstico. “A gente está num ambiente novo, em que essa parte de dívida privada, está fazendo alguns gestores tomarem decisão de fazer essa mudança”, declarou.

Em contrapartida, o ministro da Economia, Paulo Guedes, normalizou o atual cenário da taxa de juros e do câmbio no país. Segundo ele, é “bom se acostumar” com o patamar de juros mais baixos e com o câmbio mais alto por um bom tempo.