Haddad defende medidas de incentivo à venda de automóveis, mas falta fechar a conta

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São Paulo – Em entrevista à “Globonews”, o ministro da Fazenda Fernando Haddad, disse que as medidas anunciadas ontem para apoiar a indústria automobilística são temporárias e buscam estimular a economia enquanto a taxa Selic (a taxa básica de juros) está elevada e o crédito está restrito. O cálculo do impacto fiscal já está definido mas o ministro disse que “a conta ainda não está certa” e que espera apresentar a proposta em menos de 15 dias.

“Estamos tomando muitas medidas para atender todas as classes sociais, como o bolsa família, salário mínimo, bolsa da Capes, reajuste de salário de servidores públicos, com foco em todos os problemas que não foram solucionados. Também estamos com um patamar alto de taxa de juros, mas outros indicadores estão melhorando, então, esperando uma retomada do ciclo de vendas que não vai acontecer”, disse o ministro.

Haddad destacou que a indústria de veículos caiu de 3,8 milhões para 2,1 milhões unidades e que “se não houver medidas de incentivo à indústria, ela vai cair. O programa vai durar três, quatro meses, não será estrutural. A indústria de automóveis caiu muito, se não houver incentivo, fábricas vão fechar.”

As medidas para a indústria automobilística também são direcionadas ao incentivo à renovação de frotas de caminhões, privilegiando modelos no padrão Euro 6, que é mais avançado do ponto de vista ambiental, mas mais caros, por ter uma tecnologia embarcada muito sofisticada. “O vice-presidente [Geraldo Alckmin] nos apresentou o projeto para acomodar esse cenário de falta de crédito e pátios lotados. Estamos fazendo as contas, era para estar pronto ontem, no dia da indústria. Temos um prazo de 15 dias e esperamos apresentar antes para retomar as vendas antes da queda das taxas de juros. Estamos discutindo quantos meses irá durar, com a expectativa de atender o aumento de vendas.”

Haddad também destacou que o teto de gastos anterior tirou R$ 20 bilhões da educação e que pessoas que perderam direitos estão sendo restituídas: “faremos este ano em estradas mais do que o governo anterior em 4 anos.”

Ele defendeu a reforma tributária, que na sua avaliação, “é imprescindível para país voltar a respirar. O FMI disse que reforma tributária será divisor de águas para o Brasil.” Nesse sentido, acredita que o executivo e o judiciário tem jogado a favor, auxiliando o governo.

Ao ser questionado sobre a dificuldade do governo em dialogar com uma nova sociedade, que defende a redução do Estado, Haddad disse que “o ocidente está mais ameaçado pelo extremismo que o oriente e que, com a crescente desregulamentação financeira e globalização, o que aconteceu em 2008 foi muito violento. Quando houve a pandemia, as pessoas pediram estado, vacina.”

O ministro avalia que o governo “tem o desafio e muito trabalho para dialogar com a sociedade, mas tem a chance de dizer que o Brasil tem uma chance espetacular de crescer com sustentabilidade.”

Em relação ao marco fiscal, o ministro avalia que se o governo chegar até o fim do ano com todas as medidas previstas, atingirá o que foi proposto.

O ministro disse que o projeto das casas de apostas chegou à Casa Civil e passa por vários ministérios, e o do Desenrola está desenhado e pediu para ser tramitado por Medida Provisória.

Em relação à indicação de Gabriel Galípolo para diretoria do Banco Central, Haddad discorda da visão de que o governo está fazendo uma contabilidade em relação ao número de diretores que está favorável ou contra o governo. “Isso não passa pela minha cabeça nem do Galípolo. O BC não é como congresso que tem bancadas.”

Depois entrou em contradição, dizendo que “quem sabe a gente consegue maior aproximação se for um ‘parça’ dos dois”. Também disse: “Buscamos alguém com bom relacionamento, para construir relacionamento, boa educação. Ninguém vai fazer nada na marra. Mas é preciso fazer separação entre estado e governo.”

Sobre proposta de mudança de meta de inflação, Haddad desconversou e disse que responder sim ou não seria deselegante com a ministra do Planejamento Simone Tebet. “Parece que só um país do mundo adota meta calendário. É preciso analisar as condições do país sem ter a expectativa de que a meta mude. Você define meta contínua sem ter a esperança de que a meta mude. Nos EUA fizeram debate sobre a meta e não quiseram mexer, as pessoas estão com medo. Não queremos antecipar medidas que causam temor no mercado. A meta vai ser decidida quando tiver que ser.”

O ministro também disse que não vai reeditar a CPMF, dizendo que o ministério tem sido alvo de desinformação. “Isso não é verdade e cria confusão. Agora, a prioridades é a reforma tributária. Depois vamos falar sobre industrialização a partir de uma base limpa. O Brasil tem todas as condições para ser o destino das tecnologias limpas.”

Em relação às medidas para coibir evasão de receitas no varejo eletrônico, Haddad disse que o governo não quis colocar as empresas em risco. “O varejo brasileiro corresponde a 25% da economia brasileira, não vamos colocar isso em risco. Chamamos as empresas e elas concordaram em aderir ao plano de conformidade, estamos aguardando os estados. Provocamos o Confaz para se manifestar sobre a questão.”

A intenção do governo é combater as práticas desleais, segundo o ministro. “Vamos montar um comitê de acompanhamento. Os Correios vão impedir medidas ilegais.”

Em relação à desoneração dos combustíveis e a mudança na política de preços da Petrobras, Haddad disse que “mesmo que a Petrobras mantivesse política anterior, o PPI, teria que baixar o preço dos combustíveis” e que, mesmo com a redução dos preços, não há pressão inflacionária.

“O presidente Lula nunca defendeu a desoneração dos combustíveis. A medida anterior foi de desespero, causou um caos nas contas públicas, por motivos eleitoreiros. A população não pode pode pagar pelos erros dos governos anteriores. Estamos sanando essa loucura. A perda de controle das nossas contas é que traz problemas. Estamos voltando à realidade e vamos crescer 1,7%, 1,8% e os mais otimistas dizem que pode bater 2%.”