Ibovespa sobe, mas cautela permanece entre os investidores

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São Paulo – A Bolsa fechou em alta de 0,89%, aos 111.106,83 pontos, durante todo o pregão acompanhando o movimento das bolsas em Nova York, após a forte queda do dia anterior. Apesar da sessão mais positiva, os investidores mantêm-se cautelosos em relação ao orçamento dos Estados Unidos para conseguir financiar o governo e ficam preocupados com a crise imobiliária e energética da China.
No final dos negócios, a dirigente do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano), Mary Daly afirmou que o Fed deve anunciar ainda este ano a redução dos estímulos, mas ainda paira a dúvida de quanto é a diminuição dos incentivos. A fala da dirigente arrefeceu as bolsas lá fora e um pouco aqui.
Por aqui, os precatórios ainda seguem no radar dos agentes financeiros, assim como a reforma do Imposto de renda. Ontem o relator Ângelo Coronel (PSD-BA) e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), tentaram definir um acordo, mas o mercado ainda fica com expectativa sobre a matéria.
As ações das siderúrgicas e mineradoras apresentaram uma recuperação. Os papéis da Vale (VALE3) subiram 1%, após perder mais de 5% no pregão da véspera. Amanhã, é dia da Vale (VALE3) pagar os dividendos a seus investidores no montante de R$ 40,2 bilhões.  Uma fonte comentou que “já tem investidores reforçando sua posição em Vale e pelo menos 20% podem voltar para o mercado e não necessariamente em Vale”, afirmou.
Ramon Coser, analista da Valor Investimentos, comentou que apesar do melhor desempenho das bolsas na sessão desta quarta com um movimento de ajuste, o mercado continua tenso com as questões relacionadas à China e Estados Unidos. “O problema no país asiático é tanto no imobiliário como com a crise energética, indústria chinesa tende a sofrer com os apagões programados em Pequim e outras cidades. Com a redução na maior indústria do mundo o PIB deve crescer menos e a falta de produtos pode gerar inflação no mundo todo”.
Nos Estados Unidos, segundo Coser, a preocupação dos investidores é que “o país está tentando elevar o teto da dívida e tem de ser aprovado rapidamente porque pode provocar o ‘shutdown’ na economia norte-americano ou até colapso financeiro”.  O analista da Valor Investimentos acredita em um aumento de juros já para 2022. “O país vive com o temor da inflação e a possibilidade de subir juros e espera pela diminuição dos estímulos na economia”.
Para Rodrigo Moliterno, analista da Veedha Investimentos, a Bolsa está corrigindo o exagero da queda da véspera no mercado global. “Não que não seja preocupante a questão do teto da dívida dos Estados Unidos em que a partir de sexta-feira o país pode ter problema de caixa e a preocupação da crise energética na China e os problemas com a Evergrande, mas houve uma queda desproporcional”.
Moliterno comentou que o mercado espera pelo desenrolar da reforma do Imposto de Renda. “Nossa reforma do IR deve ver algumas alterações, mas vamos ver como vai sair efetivamente. O mercado está aguardando o que o Senado vai aprovar. O mais importante é a questão dos precatórios”.
Em relação à retirada de estímulos da economia norte-americana, Moliterno afirmou que “o mercado está olhando quando e qual magnitude dessa retirada do tapering”.
Mais cedo, o Ministério do Trabalho e Previdência divulgou os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).  O Brasil abriu 372.265 empregos formais em agosto, segundo). É o resultado de 1.810.434 postos contratações e de 1.438.169 demissões.
O dólar comercial fechou em R$ 5,4300, subindo 0,07%. A moeda norte-americana foi influenciada pelo aceno da retirada gradual de estímulos e aumento de juros nas economias de países desenvolvidos, o que afeta diretamente os investimentos no país, diminuindo a entrada de capital estrangeiro.
Para o economista da Guide Investimentos, Alejandro Ortiz, “a janela positiva vinda do exterior vai aos poucos se fechando, com o iminente processo de retirada de estímulos dos bancos centrais, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos”. Esta diminuição na injeção de liquidez e aumento de juros torna estas economias mais atrativas aos investidores, já que oferecem risco reduzido.
Ortiz, porém, comemora os dados positivos do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged): “Superou as expectativas, dando um alívio no câmbio. Podemos verificar uma melhora na taxa de emprego do país”, analisa. Quanto às reformas estruturais, contudo, ele é reticente: “Agora só em 2023”, pontua. Foram criadas 372,265 mil vagas de emprego em agosto.
Já nos Estados Unidos, a disputa entre democratas e republicanos na aprovação do aumento da dívida pública, que só pode ocorrer até as 23h59 de amanhã, acende o alerta: “É uma situação preocupante. Isso pode travar a liquidez do país”, avalia Ortiz.
Segundo o diretor da Amaril Franklin, Fernando Franklin, “estão’segurando’ o dólar por conta da Ptax, mas a insegurança política continua muito forte”. Para ele, esta insegurança se mistura ao âmbito fiscal: “Ninguém sabe como irão resolver os precatórios e Auxílio Brasil, estamos em um momento de indefinição no Brasil”, pontua.
Franklin considera que a fala do presidente do Fed não deve trazer nenhuma novidade quanto ao tapering (remoção de estímulos), e que a questão é global: “Quando irá começar a retomada: Essa é a grande pergunta”, questiona Franklin.
De acordo com boletim matinal do Bradesco, “hoje, as atenções estão voltadas para o discurso do presidente do Fed e o impasse em torno da elevação da dívida norte-americana”. O mercado está ávido por sinais que indiquem quando o tapering irá começar nos Estados Unidos.
“Aqui deveremos ter uma abertura em queda, acompanhando o desempenho visto no exterior”, analisa o boletim da Correparti.
As taxas de contratos futuros (DIs) fecharam em queda, após a sinalização de que a reforma do Imposto de Renda pode ser votada na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado até o final do mês que vem, o que diminui a preocupação com soluções fora do teto de gastos para a adoção do Auxílio Brasil. Os riscos fiscais nos Estados Unidos, porém, seguem no radar.
Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 apresentou taxa de 7,180% de 7,180% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetou taxa de 9,120%, de 9,165% de ontem; o DI para janeiro de 2025 manteve-se em 10,210%, na mesma comparação. E o DI para janeiro de 2027 fechou em 10,570% de 10,670% antes.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo misto com a alta dos juros projetados para títulos do Tesouro norte-americano pesando sobre as ações de tecnologia.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos por volta de 17h34 (de Brasília):
Dow Jones: +0,26%, 34.390,72 pontos
Nasdaq Composto: -0,24%, 14.512,40 pontos
S&P 500: +0,15%, 4.359,46 pontos