São Paulo – O impeachment do presidente Jair Bolsonaro continua sendo uma possibilidade remota, embora esta possibilidade comece a ser considerada por partidos mais ao centro do espectro político com interesse em apresentar uma terceira opção de candidato a presidente nas eleições de 2022, de acordo com Leandro Gabiati, diretor da Dominium Consultoria Política.
Segundo ele, a quantidade de pessoas que Bolsonaro conseguiu mobilizar ontem demonstra “o capital político que o presidente tem” e funciona como “um seguro contra o impeachment”, mas no Congresso aumentou a movimentação entre partidos como Democratas, Solidariedade, MDB e PSDB para buscar a remoção do presidente.
“São justamente estes partidos que pretendem construir uma alternativa política de terceira via. Essa candidatura ou projeto de terceira via não está tendo espaço porque fica espremida entre a força de Bolsonaro e a base muito leal que ele tem de 20%, 25% de apoiadores, e o ressurgimento do ex-presidente Lula”, disse Gabiati.
“Talvez uma das possibilidades que esteja sendo cogitada por estes partidos de centro é justamente forçar o impeachment para tirar um dos jogadores que estão polarizando a disputa eleitoral de 2022. Diante das dificuldades que você tem para justamente abrir espaço entre Bolsonaro e Lula, talvez uma das opções cogitadas é avançar no impeachment para tirar Bolsonaro da corrida”, acrescentou.
Ele ressaltou, porém, que os partidos de centro-direita – o chamado “centrão” – são aliados ao presidente e não querem a saída de Bolsonaro, porque isso significaria perder os benefícios que estão atrelados a seu vínculo com o chefe do Executivo.
“Hoje estar junto ao Bolsonaro é estar dentro do governo, obter benesses materiais e imateriais. Para o centrão, o impeachment não é hipótese posta ou conveniente”, avaliou.
Para o PT, principal partido de oposição ao governo, a saída de Bolsonaro também não interessaria, segundo Gabiati. “Ter Bolsonaro no segundo turno [das eleições presidenciais de 2022] traz chance maior de vitória do que se tivesse que enfrentar candidato da terceira via”, afirmou Gabiati.
“O PT, ainda que sinalize ou que no discurso defenda impeachment, a estratégia deles é manter Bolsonaro para ter justamente segundo turno polarizado e se beneficiar eventualmente desse antibolsonarismo para ter vitória eleitoral.”
O diretor da Domininium apontou ainda um fator adicional, referente à aparente indisposição do vice-presidente Hamiltou Mourão em assumir o governo. “Ele não tem sinalizado e provavelmente não sinalizará qualquer tipo de acordo ou negociação que signifique tirar Bolsonaro do poder. Mourão é militar e sentimento de lealdade e subordinação é muito grande. Está na cultura dos militares. É difícil que Mourão dê sinal positivo como por exemplo deu o [ex-presidente Michel Temer] em 2016.”