Inflação e taxa de juros elevada atrapalham retomada do setor de educação

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São Paulo – A Fitch Ratings publicou hoje um relatório sobre o setor de educação superior. Para a agência de risco, o ambiente de inflação elevada tem pressionado os custos e as despesas operacionais das empresas desse setor e deve frustrar maiores avanços na geração operacional de caixa em 2022, anulando, em parte, os efeitos da retomada do crescimento da base de alunos. As taxas de juros elevadas também devem pressionar a geração de caixa do setor e consumir boa parte do Ebitda esperado neste ano.

No primeiro trimestre de 2022, as seis empresas de capital aberto do setor reportaram aumento de aproximadamente 42% na captação de alunos, enquanto a evasão cresceu 7%, o que resultou em índice de captação/(evasão + formatura) de 1,4 vez, frente a 1,3 vez no comparativo do ano anterior. O primeiro trimestre do ano se caracteriza, sazonalmente, por uma maior captação, respondendo por aproximadamente 60% dos ingressos de estudantes no ano, em bases normalizadas (pré-pandemia).

Dentre as empresas avaliadas pela Fitch, a Cogna Educação S.A (Cogna, Rating Nacional de Longo Prazo AA+(bra)/Perspectiva Estável) reportou índice de captação/(evasão + formatura) de 1,9 vez no último trimestre, beneficiado pelo elevado ingresso de alunos na modalidade de ensino à distância (EAD), que responde por 64% da sua base de graduação. Já a Ser Educacional S.A. (Ser, Rating Nacional de Longo Prazo AA(bra)/Perspectiva Estável) registrou índice de 1,4 vez, também favorecida pelo crescimento da sua base no ensino digital, e a Anima Holding S.A. (Anima, Rating Nacional de Longo Prazo AA-(bra)/Perspectiva Positiva), de 1,1 vez.

Segundo a Fitch, a rentabilidade do setor sofrerá redução baixa a moderada. A recuperação da demanda, beneficiada pelo recuo da pandemia e, consequentemente, pela retomada da atividade econômica, tem favorecido a indústria e o retorno às aulas presenciais. Todavia, o cenário-base dos ratings contempla o fato de que a maioria das empresas terá suas rentabilidades afetadas pelo aumento das despesas com aluguéis, por maiores custos de pessoal e energia elétrica e pela redução dos tíquetes médios líquidos. O impacto na rentabilidade pode chegar a até 5% na margem de Ebitda das empresas avaliadas.

“As companhias também devem sofrer alguma pressão em suas margens, em decorrência da estratégia de aquisições, seguindo a tendência de consolidação do setor caracterizado por ativos de menor rentabilidade, em geral. Em 2022, as margens de Ebitda deven ficar em 18% para a Cogna, 20% para a Ser e 18,2% para a Anima”, detalhou o relatório.

As empresas com maior presença no ensino digital, como a Cogna, a YDUQS Participações S.A. (YDUQS), a Vitru Limited (Vitru) e a Cruzeiro do Sul Educacional S.A. (Cruzeiro do Sul), estão melhor posicionadas para atenuar a pressão na rentabilidade, por meio da maior diluição dos custos e despesas. Ao mesmo tempo, estas empresas têm o desafio de controlar as elevadas taxas de evasão nesta modalidade, que podem ser 50% superiores às dos cursos presenciais.

A análise apontou que as matrículas no EAD devem continuar aquecidas ao longo do ano, impulsionadas pelas mensalidades reduzidas (média de BRL200, frente a BRL700 no ensino presencial), enquanto a demanda pelo ensino presencial deve se concentrar em cursos de maior valor agregado, como os da área de saúde e engenharia.

Sobre a alavancagem líquida das companhias do setor de educação avaliadas pela agência de risco, deverá retornar a patamares mais conservadores a partir de 2023. A expectativa é de que a média do índice de dívida líquida/Ebitda fique em cerca de 3,3 vezes em 2022 e se reduza para 2,4 vezes em 2023, frente a 4,3 vezes em 2021. De forma individual, a Ser deve apresentar alavancagem mais conservadora, abaixo de 2,0 vezes em 2022, enquanto a Cogna e a Anima seguem tendência de redução da alavancagem, já incorporada aos ratings, com expectativa de alavancagem líquida de 3,7 vezes e de 3,5 vezes, respectivamente, em 2022 e inferior a 3,0 vezes em 2023.

Por fim, a análise acredita que a liquidez das companhias deverá permanecer adequada, refletindo-se como importante fator de proteção aos ratings. Os índices de cobertura de juros devem continuar alinhados aos ratings, apesar da piora esperada em razão do aumento considerável da taxa básica de juros.

A Anima reportou, ao final de março de 2022, cobertura da dívida de curto prazo pelo caixa de 2,7 vezes, reforçada pelo aporte de capital de R$ 1 bilhão em sua subsidiária Inspirali S.A.. A Cogna e a Ser, por sua vez, registraram índice de 1,7 vez e de 0,7 vez, respectivamente. Esta última deve concluir uma nova emissão de dívida nos próximos meses para reforço de caixa, o que deve reposicionar sua liquidez em linha com os patamares históricos.