Inflação mundial, qual o papel dos bancos centrais para conter a alta dos preços?

1514

São Paulo, 31 de maio de 2022 – A inflação não é exclusividade do Brasil. A escalada dos preços é em nível mundial e, em alguns países, os índices de preço ao consumidor são os maiores em muitos anos. Para entender o que está por trás disso e o papel dos bancos centrais, conversamos com especialistas sobre Estados Unidos, o Fed, as políticas fiscais norte-americanas, Europa, Banco Centra Europeu e China.

 

O Fed deve manter sua política de aumento de taxas na tentativa de combater a forte pressão inflacionária que os Estados Unidos enfrentam, afirma o economista sênior para América do Norte da Capital Economics, Paul Ashworth. No entanto, os membros do Fomc devem se manter longe de aumentos além do 0,5 ponto percentual (pp).

 

“Nas reuniões de junho e julho haverá aumentos de 0,5 pp, mas um crescimento do PIB abaixo do esperado, uma desaceleração no crescimento do emprego e uma queda na inflação irá fazê-los retornar aos aumentos de 0,25 pp muito provavelmente”, explica Ashworth.

 

Segundo ele, o Fed deve reduzir seus ativos em mais de US$ 3 trilhões nos próximos dois anos, o suficiente para trazer o balanço patrimonial de volta ao nível pré-pandemia. “O foco do Fed agora é apertar a política monetária o suficiente para conter a inflação, mas sem causar um revés na economia com, por exemplo, o aumento do desemprego”, conta o economista.

 

A inflação dos Estados Unidos deve continuar lá em cima nos próximos meses. É o que prevê o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, ao alertar que o governo de Joe Biden está mais preocupado em vencer as eleições de meio de mandato do que de fato combater a alta de preços no país.

 

“O governo Biden precisa tirar os estímulos de auxílio ao emprego. É errada a percepção de que o mercado de trabalho está aquecido. Na verdade, ele está em recuperação”, explica o economista. “Muitos dos trabalhadores nos Estados Unidos vêm escolhendo ficar em casa diante dos benefícios dados pelo governo, o que desencadeia uma série de problemas que resultam numa maior inflação”, completa.

 

Confira a entrevista com Jason Vieira:

 

 

Ele acredita que o governo Biden deve retirar esses estímulos somente após as eleições de meio de mandato, marcadas para novembro deste ano. “Apesar de dois catalisadores externos – a escassez na cadeia de suprimentos e a guerra na Ucrânia – pressionarem a inflação, os estímulos fiscais para aumentar sua popularidade em baixa, visando apenas as eleições, são um causador do problema”.

 

Já na Europa, em meio à alta global dos preços, o continente sofre com taxas recordes de inflação, que atingiu 7,4% no mês de abril, um número muito acima da meta do Banco Central Europeu (BCE) de 2%.

 

Além da alta expressiva nos preços de energia na região, o aumento significativo da inflação pôde ser visto após o BCE injetar liquidez para manter a economia diante das restrições causadas pelo coronavírus.  “A injeção de liquidez veio para conter os efeitos econômicos da pandemia, mas os bancos centrais acabaram ‘passando do ponto’”, comenta o economista-chefe da Infinity Assests, Jason Vieira.

 

Segundo o BCE, um aumento da taxa de juros deverá acontecer “algum tempo” após a conclusão do programa de compras de ativos (APP, na sigla em inglês). “O BCE está atrás da curva [em relação a outros bancos centrais], em um momento em que a contenção da inflação não deveria passar pela política monetária, mas, sim, pela redução dos estímulos”, diz o economista.

 

Já no caso da China, ela tem um peso muito importante na economia global, e não seria diferente com relação à inflação. Os severos lockdowns impostos em regiões-chave do país paralisaram boa parte das linhas de produção. “A China representa 30% do comércio global. Vai demorar um pouco para a cadeia de suprimentos se normalizar, em até dois anos”, afirma o economista-chefe da corretora Mirae Asset, Julio Hegedus Netto.

 

 

Para regularizar as entregas e manter a produção alta, o governo precisa tomar cuidado com as políticas monetárias. “Precisa dosar essa política de crédito para não gerar uma inflação de demanda”, afirma. Ele alerta que a retomada da economia chinesa deve ser feita lentamente. “Vai ser em um ritmo muito mais lento do que a China precisa, já que o governo chinês tem uma preocupação muito grande com o desempenho econômico. A meta de crescimento do PIB para este ano é de 5%, mas vão tentar chegar perto disso, entre 3 e 4%. A China não pode parar, o mundo não pode parar”.

 

Veja abaixo a entrevista com Julio Hegedus Netto:

 

Vanessa Zampronho, Larissa Bernardes, Julio Viana e Darlan de Azevedo

 

Edição: Vanessa Zampronho e Dylan Della Pasqua