Inflação pode ter atingido seu pico, mas ainda não há espaço para complacência, segundo ata do BCE

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Na ata da reunião dos dias 25 e 26 do Banco Central Europeu (BCE), divulgada hoje (23), os membros decidiram pela manutenção dos juros em 4%, mas sem deixar de lado o controle estrito para trazer a inflação à meta de 2%.

“Os membros concordaram que a maioria dos indicadores da inflação subjacente parecia ter ultrapassado o seu pico e continuado a descer, um sinal que o Conselho do BCE aguardava há meses. Em qualquer caso, foi sublinhado que não havia espaço para complacência, uma vez que a parte difícil do processo de desinflação estava apenas começando”, diz um trecho da ata.

Na reunião foi discutido também o aumento nos juros dos títulos públicos, em especial o dos Estados Unidos. “O primeiro fator foi que muitos investidores tinham se convencido no início deste ano de que uma recessão global era iminente e que os bancos centrais de todo o mundo teriam de reduzir substancialmente as taxas de juro em 2024”.

Outro fator foi o aumento na procura por estes títulos. “O segundo fator que provavelmente contribuiu para o aumento súbito esteve relacionado com alterações na oferta e na procura de títulos do Tesouro dos Estados Unidos”.

Por parte do mercado, houve mudança a respeito de quando começariam a cair os juros e qual o percentual que seria cortado. “Os investidores esperavam atualmente cortes acumulados nas taxas de cerca de 60 a 70 pp em 2024 na área do euro, abaixo dos 100 pp em maio. Já o primeiro corte de 25 pp foi adiado para setembro de 2024, em relação a junho de 2024 anteriormente”.

Os membros do BCE acreditam que o dinamismo da economia está em processo de abrandamento, citando o desempenho mais contracionista dos PMIs globais. “A economia da área do euro permaneceu fraca no terceiro trimestre. A produção industrial continuou a cair em outubro, de acordo com o comunicado preliminar, devido à diminuição das encomendas e às condições de financiamento mais restritivas”.

O setor de serviços, que vinha em ritmo de subida, começou a abrandar, juntamente com as perspectivas do comércio de forma geral. Já o mercado de trabalho continua resiliente, “com a taxa de desemprego a atingir um mínimo histórico de 6,4% em agosto. Contudo, o dinamismo estava a começar a abrandar, uma vez que a economia permanecia fraca”.

Embora a inflação tenha reduzido o ímpeto de subida, ainda é considerada alta. O núcleo ficou em 4,5% em setembro, mas os salários continuam subindo e “os riscos ascendentes para a inflação poderão advir do aumento dos custos da energia e dos alimentos. O aumento das tensões geopolíticas poderá fazer subir os preços da energia no curto prazo, ao mesmo tempo que tornará as perspectivas a médio prazo mais incertas”. Além disso, a expectativa de inflação também subiu.

Ainda assim, as taxas de juros devem se manter altas, “níveis suficientemente restritivas durante o tempo que for necessário”.

Do ponto de vista da macroeconomia, o desempenho está abaixo do esperado, com perspectiva de deterioração dentro da zona do euro e com incertezas na economia global.

Já as políticas fiscais, que vêm sendo retiradas aos poucos nos países que compõem a zona do euro, contribuem para a redução na inflação. “Isto foi essencial para evitar o aumento das pressões inflacionistas a médio prazo, que de outra forma exigiriam uma política monetária ainda mais restritiva”.

Por outro lado, “o crescimento poderá ser menor se os efeitos da política monetária forem mais fortes do que o esperado”.

Os membros do BCE acreditam que a inflação esteja caindo de acordo com o esperado, e que a maioria dos índices inflacionários já tinha chegado ao seu pico, “mas a inflação interna manteve-se persistentemente elevada e as projeções de inflação a mais longo prazo ainda pareciam estar acima da meta do Conselho do BCE”.

Por conta desses fatores, os membros decidiram por manter os juros nos atuais 4%. “A persistência foi considerada essencial para trazer a inflação de volta a 2% no médio prazo”, conclui a ata.