São Paulo – A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, disse nesta quinta-feira que as taxas básicas de juros ainda irão aumentar “significativamente” para travar a escalada dos preços na zona do euro. As declarações foram feitas em uma conferência de imprensa após a entidade elevar os juros em 0,50 ponto percentual (pp) mais cedo.
“Antecipamos subir [as taxas de juros] significativamente mais porque a inflação permanece muito elevada e é esperado que se mantenha acima da nossa meta [de 2%] por algum tempo”, disse Lagarde.
Com a decisão de hoje, a partir de 21 de dezembro, a taxa de juros das operações principais de refinanciamento passará para 2,5%, a taxa de facilidade permanente de depósito para 2% e a taxa de facilidade permanente de cedência de liquidez para 2,75%.
“Manter as taxas de juros em níveis restritivos reduzirá com o tempo a inflação ao amortecer a demanda e também protegerá contra o risco de uma mudança persistente para cima nas expectativas de inflação”, justificou a autoridade.
Após uma década em mínimas históricas, as taxas de juros subiram pela primeira vez em julho (0,50 pp) e novamente em setembro e novembro (0,75 pp cada), antes do último aumento de 0,50 pp. Segundo Lagarde, o caminho vai continuar.
“A mensagem chave é que não só vamos subir os juros mais como teremos de subir significativamente”, sublinhou. A presidente do BCE afirmou ainda que esses aumentos serão feitos em um “ritmo estável”, sinalizando que 0,50 pp em cada reunião será um nível apropriado.
“Um ritmo estável significa que fizemos alguns progressos nos últimos meses, mas ainda temos mais para fazer. Estamos aqui no longo prazo”, disse Lagarde. Segundo ela, o “outlook” mais negativo para a economia da zona do euro pede uma postura mais agressiva.
De acordo com a estimativa provisória da agência de estatísticas da União Europeia (UE), a Eurostat, a inflação ficou nos 10% em novembro, ligeiramente abaixo dos 10,6% registados em outubro.
Sem indicar se a inflação já teria atingido seu pico, a equipe do BCE reviu significativamente em alta as suas estimativas para os preços ao consumidor na zona do euro, apontando agora para uma inflação média de 8,4% em 2022 e de 6,3% em 2023; e depois uma média de 3,4% em 2024 e de 2,3% em 2025.
Na avaliação do BCE, a economia do bloco monetário poder registar uma contração no último trimestre deste ano e no primeiro trimestre de 2023, “devido à crise energética, à elevada incerteza, ao enfraquecimento da atividade econômica mundial e às condições de financiamento mais restritivas.”
Segundo Lagarde, “as pressões inflacionárias e as condições de crédito mais restritivas estão amortecendo o consumo e a produção”, e “os salários crescerão a taxas muito superiores à média histórica”.
A presidente do BCE salientou ainda que “uma economia mais fraca pode resultar num desemprego ligeiramente mais elevado”, e frisou que a recessão na zona do euro “será curta e pouco profunda”.
Durante a conferência, a economista francesa também revelou mudanças na compra de ativos. “A partir de março de 2023, a carteira do programa de compra de ativos (APP, na sigla em inglês) diminuirá a um ritmo comedido e previsível, dado que o Eurossistema não reinvestirá todos os pagamentos de capital de títulos a vencer”.
Lagarde ainda que a diminuição da compra de ativos chegará, em média, a 15 bilhões de euros por mês até ao final do segundo trimestre de 2023 e o seu ritmo subsequente será determinado com o tempo. “Na reunião de fevereiro, o Conselho do BCE anunciará os parâmetros detalhados para a redução das posições do APP”, disse.