São Paulo – O Ibovespa fechou em queda de 0,25%, aos 101.911,13 pontos, com investidores aproveitando para embolsar lucros enquanto esperam pelo andamento da agenda de reformas e continuam acompanhando a situação fiscal. No entanto, o índice reduziu perdas perto do fechamento acompanhando uma aceleração da alta das Bolsas norte-americanas, que refletem a notícia de que os Estados Unidos se preparam para começar a vacinação contra o coronavírus em breve.
“O Ibovespa subiu muito forte ontem, é uma realização, e temos vistos alguns pregões mais pesados por conta da situação fiscal. Ainda há dúvidas de onde vai vir o dinheiro para pagar todos os gastos”, disse o analista da Mirae Asset Corretora, Pedro Galdi.
Para Galdi, o Ibovespa também deve manter alguma volatilidade e rondar na faixa de 100 mil a 105 mil pontos enquanto não ocorrerem novidades positivas, como a concretização do andamento de reformas prometida pelo governo ontem. A expectativa é que a proposta da reforma administrativa seja entregue ao Congresso amanhã.
Ontem, o mercado deu o benefício da dúvida à tentativa do governo de maior diálogo com o Congresso. Porém, analistas mostram certa cautela e destacam que ainda há muitas incertezas em relação à receptividade das reformas, além de permanecem riscos fiscais. “Ainda há muitos riscos, principalmente em relação ao teto de gastos do ano que vem. O orçamento não mostrou de onde vão sair os recursos do programa Renda Brasil”, reforçou o sócio da Criteria Investimentos, Vitor Miziara.
Já no cenário externo, Wall Street fechou com alta expressiva, com os índices Dow Jones e Nasdaq quebrando barreiras importantes com investidores esperando nova rodada de estímulos e expectativa de vacina contra a covid-19. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças do país (CDC, na sigla em inglês), pediu aos estados que renunciem a certos requisitos de licenciamento para que a empresa McKesson possa estabelecer locais de vacinação até o dia 1 de novembro, segundo a rede CNBC.
Entre as ações, as da Vale, que subiam pela manhã, fecharam em queda, embora o dia tenha sido de alta dos preços do minério de ferro na China, que tem apresentado indicadores de atividade positivos. Os papéis de bancos, outros que têm grande peso no índice, também fecharam em queda, mas reduziram fortemente as perdas, caso do Itaú Unibanco.
Na agenda de amanhã, o destaque será a entrega da reforma administrativa e os dados da produção industrial de julho no Brasil. Já no exterior, há uma série de indicadores do setor de serviços, incluindo na China, na eurozona e nos Estados Unidos. Ainda nos Estados Unidos, serão divulgados os pedidos de seguro-desemprego da última semana.
O dólar comercial fechou em queda de 0,53% no mercado à vista, cotado a R$ 5,3580 para venda, em sessão de forte volatilidade, descolado do exterior mais negativo para as moedas de países emergentes dando continuidade ao otimismo que prevalece no mercado doméstico em meio às perspectivas de avanço na agenda de reformas. Lá fora, investidores estão atentos aos sinais emitidos por indicadores que indicam recuperação lenta de economias como a norte-americana.
Além da oscilação, o gerente de mesa de câmbio da Correparti, Guilherme Esquelbek, destaca também a amplitude da moeda na sessão. “O dólar comercial abriu em alta, acompanhando o desempenho [da moeda] no exterior e logo inverteu sinal após a divulgação da ADP”, diz.
O relatório de criação de vagas de trabalho no setor privado – uma prévia do relatório de emprego norte-americano (payroll) – veio bem abaixo do esperado pelo mercado, com a criação de 428 mil vagas em agosto. “Bem aquém da previsão de 1,17 milhão de vagas, levando o dólar às mínimas sequenciais abaixo de R$ 5,35”, reitera.
Esquelbek acrescenta que as perspectivas positivas com o andamento das reformas e com a aprovação do novo marco regulatório do setor de gás – que prevê autorização em vez de concessão para o transporte de gás natural e estocagem – ontem na Câmara dos Deputados, fortaleceram o real.
“À tarde, o comportamento foi lateral e nem mesmo a divulgação do Livro Bege [do Federal Reserve, o banco central norte-americano] pessimista com a desenvoltura da economia dos Estados Unidos foi capaz de mexer com o mercado local”, ressalta.
Amanhã, na agenda de indicadores, o destaque fica para os índices dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) do setor de serviços na China, Europa e nos Estados Unidos. Para a analista da Toro Investimentos, Paloma Brum, o resultado do indicador deve trazer mais sinais sobre a recuperação econômica dessas regiões.
Tem ainda os números dos pedidos de seguro-desemprego até a última semana de agosto nos Estados Unidos. “Há uma expectativa com esses números depois da ADP fraca hoje”, diz.
Porém, Brum pondera que o “grande evento” do dia será a expectativa com a entrega da proposta da reforma administrativa ao Congresso, prometida pelo governo federal ontem. Há pouco, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, declarou que já apresentou a proposta à líderes da casa, o que levou o contrato futuro para outubro às mínimas na sessão, com recuo de 1%.
As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram o dia com leves altas, após uma sessão volátil. Os investidores monitoraram o comportamento do dólar, que está mais refém do ambiente externo, ao mesmo tempo em que se prepararam para o tradicional leilão de títulos públicos, amanhã. Como pano de fundo, ficaram as declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e a questão fiscal.
Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 2,83%, de 2,79% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 4,01%, de 3,96% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 5,82%, de 5,77%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 6,79%, de 6,74%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações norte-americano fecharam o dia em alta, com o Dow Jones e Nasdaq quebrando barreiras em pontos e o S&P 500 renovando máximas diante de um maior apetite do investidor por risco na expectativa de que uma nova rodada de estímulos esteja próxima assim como uma vacina para o novo coronavírus.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
Dow Jones: +1,59%, 29.100,50 pontos
Nasdaq Composto: +0,98%, 12.056,44 pontos
S&P 500: +1,53%, 3.580,84 pontos