Investidores mentém cautela diante de tensão entre EUA e China

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São Paulo – Após oscilar entre os terrenos positivo e negativo ao longo do pregão, o Ibovespa fechou em leve alta de 0,08%, aos 102.381,58 pontos, refletindo a cautela no exterior em meio à crescente tensão entre China e Estados Unidos. No entanto, o avanço de ações de peso, como as da Petrobras ajudaram o índice a mostrar resiliência e melhor desempenho do que seus pares no exterior. O volume total negociado foi de R$ 27,1 bilhões.

Na semana, também marcada pela volatilidade, o índice caiu 0,49%, mostrando uma correção depois de chegar a ultrapassar os 105 mil pontos na máxima do dia da última terça-feira.

“A elevação do tom na disputa entre as duas maiores economias do mundo amplificou o sentimento negativo”, disse o estrategista da Levante Investimentos, Rafael Bevilacqua, afirmando que isso levou investidores a quererem colocar lucros no bolso. No entanto, acredita que esse aumento da tensão é mais pontual e o pano de fundo ainda é positivo para os mercados de ações.

Hoje, Pequim ordenou o fechamento do consulado norte-americano na cidade de Chengdu, em retaliação à decisão de Washington de encerrar as atividades do consulado chinês em Houston. A China afirmou que a sua decisão de ordenar o fechamento do consulado é uma resposta legítima e necessária depois de uma provocação unilateral dos Estados Unidos. O presidente norte-americano Donald Trump e o secretário de Estado, Mike Pompeo, também teceram duras críticas à China ontem.

“O Trump tem como inimigo a China, parece que aposta que isso pode ajudar na sua campanha à reeleição. O medo é se isso chegar ao acordo comercial entre os dois países”, avalia o economista-chefe da Codepe Corretora, José Costa.

Nesse contexto, as Bolsas norte-americanas fecharam em queda, apesar de chegarem a mostrar leve melhora no fim da manhã com indicadores acima do esperado de vendas de imóveis. Por outro lado, indicadores do setor de serviços e indústria vieram piores que o previsto, assim como os pedidos de seguro-desemprego ontem.

Entre as ações, as da Petrobras (PETR3 0,43%; PETR4 0,70%) pesaram positivamente sobre o Ibovespa após a estatal afirmar que irá contratar três novas plataformas para ajudar na produção do campo de Búzios, no pré-sal da Bacia de Santos.

Já os papéis de bancos, que também estão entre os que mais pesam no Ibovespa, mostram forte volatilidade hoje. Para o economista da Codepe, as ações começaram a refletir expectativas sobre os balanços trimestrais, com a temporada ganhando mais corpo partir da semana que vem, e ainda há muitas dúvidas sobre o setor bancário. Entre elas, se a inadimplência aumentou muito em função da crise causada pela pandemia. Os papéis do Bradesco (BBDC4 0,62%) avançaram, mas os do Itaú Unibanco (ITUB4 -0,11%) recuaram.

A semana que vem deve contar com uma série de eventos e indicadores importantes, como a decisão de política monetária do FED, na quarta-feira, e a leitura preliminar do PIB dos Estados Unidos e da Alemanha na quinta-feira.

“Temos também que ficar de olho na evolução de contaminação do covid-19 no mundo e notícias sobre o desenvolvimento da vacina. Outro fator a ser acompanhado são as ameaças do presidente dos Estados Unidos contra a China. Continuamos vivendo em um período de grandes incertezas, o que tende a gerar volatilidade no mercado acionário e cambial”, disse o analista da Mirae Asset Corretora, Pedro Galdi, em relatório.

O dólar comercial fechou em queda de 0,19% no mercado à vista, cotado a R$ 5,2060 para venda, após exibir forte volatilidade na sessão e operar em sinais positivo e negativo em vários momentos no dia. Apesar da escalada das tensões entre Estados Unidos e China, a moeda estrangeira perdeu força na segunda parte dos negócios, renovando mínimas sucessivas no mercado doméstico.

O diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik, destaca que na abertura dos negócios, a moeda renovou máximas a R$ 5,25, seguindo a aversão ao risco global reagindo à decisão da China de determinar o fechamento do consulado norte-americano em Chengdu.

“À tarde, o dólar engatou viés de queda, chegando a registrar a mínima do dia na casa dos R$ 5,16, acompanhando a tendência majoritária da moeda norte-americana no exterior, que exibiu um robusto enfraquecimento ante divisas fortes e de países emergentes”, comenta.

Na semana, a moeda acumulou forte queda de 3,32%, na melhor semana desde o início de junho, impulsionada pela aprovação de um pacote de recuperação econômica de 750 bilhões de euros para combater o impacto da pandemia na economia da Europa.

Aqui, o ministro da Economia, Paulo Guedes, entregou a primeira parte da proposta da reforma tributária ao Congresso, mostrando alinhamento dos poderes executivo e legislativo. “Agora, a discussão será a unificação do PIS e Cofins que incidem sobre o consumo”, diz o analista da corretora Mirae Asset, Pedro Galdi.

“Após um período de realização de lucros ontem, o real liderou os ganhos semanais na América Latina. Estimamos que metade dos ganhos na semana vem de fatores internos, principalmente, com a retomada da agenda de reformas”, acrescenta o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.

Enquanto isso, as tensões entre Estados Unidos e China têm novos capítulos após a ordem do governo norte-americano de fechar o consulado do país asiático em Houston. Hoje, Pequim apresentou a sua retaliação.

Na próxima semana, a agenda de indicadores estará “pesada” com números preliminares do Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro e dos Estados Unidos no segundo trimestre, além dos dados de emprego da Europa e do Brasil, em junho. Na quarta-feira, tem a decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

“O Fed deverá continuar sinalizando sua intenção de manter os estímulos por tempo prolongado. Atenção também para eventuais detalhes que possam ser dados, no comunicado ou na entrevista coletiva de Powell [Jerome, presidente do banco central], sobre o novo arcabouço de política monetária”, ponderam os analistas do Bradesco.

Já o profissional da Mirae reforça a atenção do mercado com a evolução de contágio da covid-19 no mundo e o risco de uma segunda onda de contaminação, além de notícias sobre o desenvolvimento de vacinas.

Galdi acrescenta que investidores deverão acompanhar as elevadas tensões entre norte-americanos e chineses em meio ao fechamento de consulados e aos conflitos comerciais que já duram mais de dois anos. “Continuamos vivendo em um período de grandes incertezas, o que tende a gerar volatilidade no câmbio”, destaca.